O jornalista Sérgio Botelho vem se dedicando há algum tempo a escrever sobre a cidade de João Pessoa: seus monumentos, arquitetura...

Os personagens da cidade pelo olhar de Sérgio Botelho

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O jornalista Sérgio Botelho vem se dedicando há algum tempo a escrever sobre a cidade de João Pessoa: seus monumentos, arquitetura, ruas e história. Agora chegou a vez das pessoas que têm marcado a vida da aldeia ao longo do tempo, personagens antigos e mais recentes. Com isso, parece completa sua “trilogia pessoense”, composta dos livros Memórias da Cidade de João Pessoa, João Pessoa, Uma Viagem Sentimental e João Pessoa, Personagens no Tempo, todos com o selo da Editora Ideia, sinônimo de qualidade editorial.

É um projeto interessante esse de Sérgio, pois resgata, para pessoenses e estrangeiros, aspectos da capital paraibana nem sempre lembrados. Aqui vale registrar que ele não tem pretensões de tomar o lugar dos historiadores profissionais, já que a sua declarada praia é mais a divulgação que a pesquisa mais aprofundada. Não que não pesquise e estude para escrever seus textos, mas o faz com espírito mais jornalístico que acadêmico. Em outras palavras, ele entrega o que promete, e assim satisfaz a si e ao leitor. Seu projeto também é socialmente útil, na medida em que, além de informar, pode despertar o interesse de estudantes, professores e até mesmo de turistas em conhecer melhor a nossa urbe quatrocentona.

Sua mais recente publicação, saída do forno, aborda 44 personagens cujos nomes estão, de uma forma ou de outra, inscritos na história da cidade, alguns deles ainda vivos na memória dos contemporâneos. Sua escolha dos perfilados não podia deixar de ser um pouco arbitrária, no sentido de que, entre tantos, teve que eleger alguns e excluir outros, pelo menos temporariamente, já que é provável que volte a tratar do tema em futuro trabalho. Entretanto, a lista é plenamente satisfatória para o leitor, já que abrange a variedade daqueles e daquelas que se destacaram, cada qual no seu nicho de atividade, na cena pessoense. Creio não cansar o leitor citando o nome dos eleitos: Adélia de França, Anayde Beiriz, Antônio Rabelo, Apito de Ouro, Bento da Gama, Caixa d’Água, Camões, Carboreto, Carlos Dias Fernandes, Chatarina Moura, Clarice Justa, Dom Ulrico Sontag, Duarte Gomes da Silveira, Ednaldo do Egypto, Einar Svendsen, Gazzi de Sá, Grego, Hosana, Irene, Irineu Pinto, Ivo Bichara, Jacaré, Joaquim Torres, Júlia Freire, Livardo Alves, Lopo Garro, Lúcio Lins, Macaxeira, Major Ciraulo, Mocidade, Napoleão Laureano, Nautília Mendonça, Oliver Von Sohsten, Pascoal Carrilho, Pedro Gondim, Peregrino de Carvalho, Severino Araújo, Sidney Dore, Gilberto Stuckert, Tércia Bonavides, Tenente Lucena, Tito Silva, Vassoura e Walfredo Rodriguez. Como se vê, de tudo um pouco: de herói a dona de lupanar, cada um com o seu mérito e sua dignidade.

Chamou-me a atenção a presença de um único político mais recente: Pedro Gondim. E isso é certamente significativo. Pode significar, por um lado, a pouca presença dos profissionais da política na vida citadina, mas também, por outro, a decisão do autor de limitá-los a um solitário exemplar, face a multiplicidade dos demais personagens aptos a um perfil e a uma homenagem. Fico com esta segunda hipótese por considerá-la mais generosa e mais compatível com o espírito largo de Sérgio Botelho. Evidentemente que num eventual livro futuro haverá lugar para um Rui Carneiro, um José Américo e um Damásio Franca, por exemplo, políticos incontornáveis na história pessoense. E por que Pedro Gondim? Disse-me o autor que bastaria a célebre campanha eleitoral para governador, nos anos 1960, com o inesquecível slogan “O homem é Pedro”, para justificar a inclusão do cordialíssimo governante em sua lista. E tem razão. Pedro Gondim foi um fenômeno popular inigualável, com seus eleitores contribuindo publicamente, no Ponto de Cem Réis, para o financiamento de sua campanha. Coisa nunca vista. Sem falar que ele se destacou como benfeitor do funcionalismo estadual e da cultura paraibana, entre outros feitos. Enfim, um nome a ser de fato lembrado.

As notáveis professoras Adélia de França e Tércia Bonavides representam a excelência pedagógica de tempos idos, sem demérito para Dona Zilda, Dona Maria Bronzeado e Dona Maria Lima, entre outras. A boemia está bem representada por Bento da Gama, Camões, Grego, Hosana, Irene, Ivo Bichara e Lúcio Lins. Faltaram alguns, claro, como Virgínius da Gama e Melo, soberano absoluto da Churrascaria Bambu. As figuras folclóricas da cidade se fazem presentes com Apito de Ouro, Caixa d’Água, Carboreto, Jacaré, Macaxeira e Vassoura, os quais o autor, generosamente, se recusar a chamar de “doidos”. E há ainda lugar para o jornalismo, a música, o teatro e a benemerência. Um apanhado geral da valorosa fauna humana de João Pessoa, que só alguém intimamente envolvido com a vida da cidade, como o autor, pessoense da gema, poderia invocar, não só com critério mas também com amor.

A cada produção dessa natureza, Sérgio Botelho se qualifica para figurar, ele próprio, numa futura relação de pessoenses memoráveis. Sua vida pessoal e profissional tem sido rica de acontecimentos e experiências que valeriam a pena ser contados em livro, de preferência por ele mesmo, com a sua saborosa verve de consumado causeur.

Esses livros recentes de Sérgio Botelho sobre a nossa velha capital devem ser vistos como uma relevante prestação de serviço de interesse público. De minha parte, reconhecido, agradeço.

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