As cores revelam significados marcantes e frequentes na demonstração de nossos atos. Em certas ocasiões, desejos mais enfáticos conferem uma força singular às manifestações ativas que, transbordando de nosso íntimo, dirigem-se contra outro indivíduo, ou por vezes, a nós mesmos. Seja à beira de um ataque de nervos ou com os olhos marejados pela dor, nossa solidão repudia qualquer tentativa de aproximação que ameace trazer medo e tristeza às nossas vidas.
Eventualmente, não são necessariamente pessoas más que nos cercam, assim como não o foram aqueles estrangeiros a cavalo, enviados por ordem de Alexandre, o Grande. Por sua determinação, esses homens atravessaram fronteiras e vastas distâncias, enfrentando riscos de emboscadas por ladrões e o contágio de doenças dolorosas e letais, em busca dos segredos mais bem guardados da corte egípcia. Aos olhos dos camponeses, entretanto, eram recebidos com desconfiança e temor, pois a experiência lhes ensinara que apenas gente perigosa se aventurava em longas viagens — soldados, mercenários ou traficantes de escravos.
Naquele contexto, em meio a tantas dúvidas e maledicências, os homens de confiança do rei cumpriam uma missão muito mais nobre para a época: buscavam livros, por ordem de Sua Majestade. Valendo-se do poder absoluto que detinham, enriqueciam as coleções reais. O que não podiam adquirir por compra, confiscavam sem hesitação. Se fosse preciso fatiar pescoços, dariam a ordem, justificando que o esplendor do país era mais importante do que os pequenos escrúpulos.
Na época do grandioso projeto alexandrino, não existia nada que se assemelhasse a um comércio internacional de livros. O Senhor das Duas Terras — um dos homens mais poderosos de seu tempo — daria a vida (a dos outros, naturalmente; como sempre foi com os reis) para reunir todos os livros do mundo na magnífica Biblioteca de Alexandria. Ele perseguia o sonho de edificar uma coleção absoluta e perfeita, que reunisse todas as obras de todos os autores desde o início dos tempos.
Esses objetos especiais nos transportam ao ponto de partida, ao coração agitado pela emoção da primeira leitura, como descreveu Marguerite Duras. Eles projetam o infinito para o futuro do pretérito e, depois, para o subjuntivo, como se, a cada página, o chão se abrisse em fendas sob nossos pés.
Nada é mais humano do que permitir que pensamentos flutuem livremente pelas redes neurais mais agitadas de nossa mente. O que realmente importa é a sensação de que, se no ano passado morremos em algum sentido, hoje estamos plenamente vivos.