Quanto durou o ministério de Cristo, ou seja, seu tempo de pregação, exorcismos, curas e outros milagres? Fiz a pergunta ao Google e e...

Foi assim como aprendi

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Quanto durou o ministério de Cristo, ou seja, seu tempo de pregação, exorcismos, curas e outros milagres? Fiz a pergunta ao Google e ele me encaminhou para Lucas, o pagão convertido ao cristianismo pelo apóstolo Paulo.

Ambos não chegaram a andar com o homem santo que exaltavam e veneravam. Não o conheceram, pessoalmente, embora a conversão deste último tenha decorrido da visão que disse haver tido – lá pelos anos de 31 a 36 – do Jesus ressuscitado. Falo, evidentemente aos crentes. E falo com a imperícia de quem pergunta coisas ao Google.

Fique bem claro, desde já, que trato do assunto por mera curiosidade. Educado em lar católico, com direito a batismo, catecismo e primeira comunhão, tive minha fase de adventista do sétimo dia quando uma tia querida me levou ao Recife para a continuidade dos estudos primários. Estive por dois anos na sua casa e na sua igreja. E dali saí convicto de que anjos e santos habitam corações, não templos.

Além da curiosidade acerca do tema que há dois milênios envolve boa parte da raça humana, eu me sinto atraído pela humanidade dos santos, por um Cristo que transformava água em vinho, arengava com Pedro quando o amigo fraquejava e largava o chicote no lombo dos comerciantes da fé. Ah, se vivesse por aqui nos dias de hoje.

Gosto de pensar como aquela gente se deslocava de cidade em cidade e de quem aceitava convites para o almoço e o pernoite. Adoro imaginar o deslumbramento do moço de baixa estatura que subiu num galho perigoso a fim de ver aquele que desfilava em cima de um burro diante da multidão que então portava ramos de palmeiras e forrava o chão com seus mantos, tão logo transposta foi a Porta Dourada de Jerusalém. “Zaqueu, desce daí. Vou à tua casa”. Que maravilha. Nem conhecia Zaqueu e o chamou pelo nome.

Acabo de ler um texto de Ildo Perondi, despachado de Londrina para os confins da Internet. Ele fala de Lucas como o evangelista que mais relatou as refeições de um Jesus que se convidava quando não era convidado. Uma delas foi interrompida quando uma mulher invadiu a casa de Simão, o fariseu, com o perfume de alabastro de que fez uso para banhar e enxugar com os cabelos aqueles pés santificados. O anfitrião indignou-se e fez mau juízo do seu convidado. É que a moça não tinha boa fama. Marta, de Betânia, também abriu as portas para acolher aquele que não tinha uma pedra para reclinar a cabeça. Nem ele nem os de sua pobre caravana.

Mas, afinal, quanto durou o ministério de Jesus? Pude observar que esta não é uma questão pacífica e que o mesmo Lucas tem a resposta mais aceita: três anos e meio. Começou pouco depois do batismo, perto dos 30 anos de idade, pelo primo João. Iniciou-se logo depois de haver ele mergulhado no deserto da Judeia para um jejum de 40 dias, tempo em que foi por três vezes tentado pelo diabo. Numa delas, o capiroto, o coisa-ruim, o chifrudo, ofereceu-se para transformar as pedras em pães a fim de que aquela alma pura pusesse fim à meditação, às orações e à fome. Expulso o tinhoso, anjos desceram do céu para servir a Cristo o melhor dos manjares.

Quarenta dias sem comer. Quem aguentaria isso sem o poder divinal? Nos meus tempos de menino, eu mal aguentava um. Era quando minha mãe católica (que Deus a tenha) impunha à família um jejum meia-boca porquanto admitia uma ou outra refeiçãozinha frugal. Carne? Nem pensar.

Eram dias tristes aqueles feitos de santos cobertos nos altares das igrejas e nos oratórios domésticos. Feitos, ainda, de rezas a cada uma das 12 estações da Via Sacra e de procissões do Senhor Morto, no ritmo lúgubre das matracas, substitutas eventuais dos sinos.

O domingo da ressurreição vinha, depois disso, com mesa farta, mas tudo à base de leite de coco. Até o feijão nosso de cada dia. Os meninos mais pobres batiam às portas dos mais remediados com pedidos de “um jejum” para as mães deles jejuarem. Não deveria ser um desjejum?

Quarenta dias de fome. Não paro de me espantar. Pois bem, três anos e meio depois disso, lá estaria aquele santo a comer o pão que o diabo amassou, com o perdão da má expressão apenas aqui aplicada para retratar o padecimento e a agonia em seus graus mais profundos. Momentos antes da prisão, ele chegou a se desesperar: “Pai, retira de mim esse cálice”, suplicou, enquanto os amigos dormiam ao derredor a sono solto. Pedro, o mais próximo, afrouxou quando perguntado se conhecia aquele que os soldados prendiam. Respondeu “não” três vezes. Foi quando o galo cantou. Mas logo retomou a coragem, arrebatou uma espada e com ela cortou a orelha de Malco, servo do sumo sacerdote. Levou o carão: “Guarde a espada. Por acaso não beberei do cálice que o Pai me deu?”. Malco teve a orelha de volta ao lugar, sem que o milagre impedisse a prisão determinada por autoridades submissas aos ditames de Roma.

Pilatos disse que o assunto não era com ele e mandou Cristo para o gabinete de Erodes que, de pronto, devolveu o problema à sua origem. Sem ver crime algum nas práticas daquele homem justo, Pilatos lavou as mãos, submeteu à turba ignara a escolha para o martírio entre Cristo e Barrabás e, em razão disso, o suplício do mais puro dos homens teve seu prosseguimento. A plebe rude, estúpida, não entende de salvação. Ainda hoje é assim.

Já na cruz, Jesus ouviu o deboche de Gestas, o ladrão à sua esquerda, e respondeu ao da direita, que lhe pediu a proteção: “Na verdade, eu te digo hoje, estarás comigo no Paraíso”. Muitos de vocês não imaginam o calor do debate entre adventistas e católicos resultante da colocação da segunda vírgula na frase que expressa o amparo celestial a Dimas, o bom ladrão. Mas é tema para outro momento. No do último suspiro do filho, Maria soluçou, o dia escureceu, as cortinas do Tabernáculo rasgaram-se sozinhas de cima para baixo e Judas, com trinta dinheiros no bolso, suicidou-se. Foi assim como aprendi.

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  1. Um texto perfeitamente adequado para estes dias de Páscoa. O menino Frutuoso aprendeu tudo direitinho e agora nos reconta a velha história. Parabéns. Francisco Gil Messias.

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