Os covardes são punidos com a própria degradação com que se cercam.
Diante das falhas ou erros praticados, é bem mais fácil lançar mão de justificativas e de mecanismos de defesa, numa tentativa de amparar e de aliviar a consciência do que assumir as próprias responsabilidades.
Numa época em que a reputação e a imagem social despontam como os ativos mais desejados, é grande a tentação de minimizar ou maquiar ações claramente reprováveis, em vez de assumi-las e corrigi-las.
A própria linguagem humana é rica em construções que, por vezes, são usadas para mitigar a responsabilidade e criar uma aparência de inocência ou justificativa plausível para escolhas e atitudes que não são justificáveis.
Entretanto, por mais que alguém tente se proteger com palavras ou narrativas que procuram suavizar a responsabilidade, a verdade permanece inescapável. Não há artifício humano que consiga esconder ou distorcer a verdade do que se passa dentro da alma e da consciência.
Uma vez perguntei a um idoso, praticante do judaísmo, porque ele costumava usar o solidéu. Ele me disse que era para se lembrar sempre que há um Poder Superior acima de nós. Aquele era um gesto simples, mas profundo: reconhecer que não somos os donos absolutos de nossa existência e que há algo maior do que nosso próprio ego.
Podemos construir imagens sobre nós mesmos, sustentar narrativas e até nos esconder atrás de máscaras bem elaboradas, mas, cedo ou mais tarde, a verdade nos alcança.
A vida, esse imenso processo contínuo de aprendizagem e crescimento, cobra de cada um o preço de suas escolhas, independentemente da maneira como se tenta escapar do enfrentamento dessa cobrança.
Ao contrário das justificativas que tentam suavizar o impacto de nossas ações, a realidade e os efeitos de nossas escolhas se manifestam de forma inequívoca e muitas vezes dolorosa. O que fazemos reverbera de forma irreversível, não apenas no campo das relações humanas, mas na construção do próprio caráter. O tempo não permite que nos desvencilhemos das marcas que deixamos ao longo de nossa jornada.
O maior engano que podemos cometer é o de acreditar que temos o poder de escapar da verdade ou da cobrança da vida.
Cada um sabe o que fez, o que faz e o que usa para se justificar e tentar diminuir a própria responsabilidade. Porém, do juízo da própria consciência e de Deus, ninguém escapa. A própria vida é quem cobra.