Quando um objeto, pessoa ou ato é, foi ou parece à própria consciência ser causa de impressões dolorosas, geralmente se está disposto a evitá-lo ou afastá-lo de si mesmo. Essa disposição é chamada, dependendo do caso, de aversão ou antipatia. Quando ela se torna violenta, acompanhada de uma ideia fixa, manifesta-se por necessidade de fazer mal e de destruir, aí se tem o ódio. Às vezes a odiosidade é pelas coisas que não se pode mudar em si mesmo.
As relações interpessoais podem ser destruídas pelo ódio, criando um ciclo de conflito. Ele pode se perpetuar em várias gerações, gerando um ambiente marcado pela violência. Em muitas situações, a raiva surge de sentimentos de frustração, rejeição, mágoa ou medo, e pode levar a comportamentos prejudiciais tanto para quem o sente quanto para os outros ao seu redor. É uma prioridade vital buscar formas de lidar contra a irritação de maneira consciente. Terapias, meditação e reflexão pessoal são alguns dos processos que podem ajudar a transformar esse sentimento em resiliência. A consequência disso para a sociabilidade é de contribuir para harmonizar os relacionamentos, ou seja, para a construção de um espaço social empático.
Um dos desafios para lidar contra o ódio é reconhecê-lo em si mesmo. Muitas vezes, ele se disfarça de ressentimento, e é importante estar consciente dos danos que isto causa na própria habilidade socioafetiva. Por exemplo, um dos seus sintomas emocionais e psicológicos é a violência contra si ou aos outros, como também o desejo de vingança, a falta de empatia, o ressentimento e a brutal inimizade. A ira está frequentemente acompanhada por uma atitude irracional explosiva. Esse estado pode ter sua causa na frustração de não realizar conquistas pessoais ou por meio do sentimento de rejeição, podendo ser constituído na infância ou até na fase de mau acolhimento durante os anos de amamentação. O desejo de vingança tende a levar o odioso a prejudicar a fonte de seu desprezo, seja por ações, palavras ou pensamentos. Esse desejo de retaliação é uma das principais causas dos comportamentos destrutivos ou de terror.
Consequentemente, a falta de empatia diminui a capacidade de se colocar no lugar do outro. Isso resultará numa psicose ou numa esquizofrenia, ou seja, num desejo compulsivo e obsessivo por vingança ou numa percepção distorcida da realidade. Nesse processo de angústia destrutiva, a empatia é substituída pelo objeto de ódio, o qual impulsionará as ações violentas. O ressentimento prolongado se solidifica ao longo do tempo, especialmente quando a mágoa não é confrontada. Por causa disso, a lembrança da dor psíquica destrói o bem-estar emocional de quem preserva o ódio dentro de si.
Os sintomas físicos do ódio são: tensão muscular; alterações no ritmo cardíaco, bem como no apetite e sono; problemas de saúde mental e física a longo prazo. A tensão muscular gera um estado de alerta constante no corpo. Ela é uma resposta física com a pessoa sentindo os músculos rígidos, como se estivesse em um estado constante de defesa. As alterações no ritmo cardíaco geram o aumento da pressão arterial. Mudanças repentinas no apetite e no sono podem recorrer a comportamentos alimentares excessivos como uma forma de lidar com a emoção. O desequilíbrio do sono pode conduzir a pessoa a não dormir devido à agitação emocional. Os problemas de saúde ao longo prazo resultam em doenças relacionadas ao estresse, como hipertensão ou e distúrbios digestivos. O impacto físico pode afetar o bem-estar geral da pessoa.
Os sintomas comportamentais do ódio são a agressão e a violência, o isolamento social, preconceito, discriminação, culpa e justificação. A agressão ou a violência pode ser dirigida tanto a indivíduos quanto a grupos de pessoas ou até instituições. O isolamento social pode provocar ao afastamento de amigos, familiares e colegas. À medida que a pessoa se concentra na fonte de seu ódio, ela pode se tornar mais reclusa, evitando interações sociais que possam desafiar ou suavizar seus sentimentos. O preconceito ou a discriminação se direciona contra religião ou gênero. O preconceito alimenta divisões sociais e pode resultar em discriminação sistêmica. A culpa ou a justificação pode muitas vezes se convencer de que as próprias ações ou sentimentos são justificados, buscando racionalizar e legitimar sua hostilidade. Isso pode levar à normalização do comportamento hostil, dificultando a capacidade de reconhecer os próprios erros ou excessos.
Superar o ódio tem como consequência não apenas a reativação da sociabilidade, mas também a construção de uma sociedade mais justa e harmoniosa, onde as relações humanas se tornam mais autênticas e respeitosas. Quando o ódio é eliminado por meio de terapias se gera a empatia. Esse sentimento de compaixão é compartilhado entre algumas pessoas e, assim, gera-se um ambiente no qual as diferenças são acolhidas, compreendidas e valorizadas. Esse processo cria um o diálogo colaborativo, que fortalece os laços sociais e promove o bem-estar coletivo. Não vivenciar o ódio, portanto, vai além de um ato de tolerância: é um ato de liberdade; de crescimento pessoal e coletivo; é uma técnica de desembrutecimento entre as pessoas. Segundo o ator, comediante, compositor, roteirista, cineasta, editor e músico britânico Charles Spencer Charlie Chaplin (1889–1877): “Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror” (Vida e Pensamentos. São Paulo: Martin Claret, 1997).