Os passantes cruzam tão velozes no pensamento que seguem alheios às cicatrizes existentes pelas estradas. Mais que placas e ma...

Cenários asfálticos

estradas caminhos vida que segue
Os passantes cruzam tão velozes no pensamento que seguem alheios às cicatrizes existentes pelas estradas. Mais que placas e marcas sinalizadoras verticais e horizontais, para além dos veículos que cortam o sentido contrário com faróis altos ou baixos, formas e cores variadas, as estradas contam histórias através do asfalto, das suas margens, dos seus circulantes motoristas e cenários. Recados são ditos, por vezes gritados, em retas e curvas, canteiros e retornos, em freadas.

As cidades surgem como ilhas em meio aos mares de plantações, vegetação e espaços vazios. Árvores acenam majestosas em certos pontos, destoando do restante dos espaços. Recantos de roteiros abertos, livros fechados, desníveis feitos lombadas que obrigam a redução da velocidade. O que seria uma mancha desfocada ao lado torna-se visível, nítido, em detalhes, ao reduzir a marcha.

Ora surge o Sol pelo meio do negrume asfáltico a queimar o mundo lá fora no pingo do meio-dia, ora é Lua a erguer-se imensa por trás do rumo ao mar feito aquarela que chama a atenção. E ainda há chuva a desprender-se com violência do céu por entre o vale como uma cortina esbranquiçada e linda e forte.

O Sol é companheiro por muitos quilômetros. Espetacular Sol nas horas do início do dia, pelo retrovisor nos fins de tarde, quando abranda o seu tocar as terras, alcançando distâncias até o horizonte. E ainda forte esquentando os espaços, a pele, a vista. A estrela castiga também os cenários. Ao meio-dia é senhor onipresente de quase todos os recantos, dá as ordens por todos os caminhos.

Na estrada, a Lua se desnuda-se cheia para o alto no final da tarde, sem pudores. Simplesmente, ela deixa cair as peças de lã nuvem que a cobriam no fim da claridade. E fica quieta à frente como quem convida sem palavras. E o sussurro do vento é igual ao trovão na tempestade, impossível recusar o chamado lunar. Ela é a dona da noite, eu apenas cavalgo em sua direção e, por vezes, pareço que vejo a rodovia se transformar em rampa de lançamento para que seja possível alcançá-la no firmamento.

A chuva por essas bandas é menos frequente. Temporalidade, brevidade, intensidade, apenas refrescante e miúda, rara aguaceiro. Ao longe, é tela pintada ao aguar serras e campos; próxima modifica os vidros com novas texturas.

E os pés bailam pela estrada nos pedais. Acelera, freia, troca de marcha. Lá fora, a borracha se desgasta com o atrito sobre o asfalto. Os olhos dançam com os cenários, o Sol, a Lua, a chuva, os vazios e preenchidos espaços... E com curvas e retas e desvios e caminhos. A estrada serpenteia e simplesmente segue.

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