Território assinalado pela cordilheira do Zagros, a planície mesopotâmica dos históricos rios Tigre e Eufrates e, mais ao longe, por escarpas e encostas pedregosas e pelas áridas estepes que se prolongam pelos desertos sírios, o Iraque foi berço das primeiras culturas orientais e um dos primordiais pontos de partida da civilização mundial.
Fonte: Wikimedia (adapt.)
São nomes míticos da história da Humanidade: Babilónia, Ninawa, Khorsabad, Ctesifonte, Baghdad (cidade fundada pelo califa Abássida Al-Mansur – a combinação dúbia de palavras de influência persa significará algo como “Fundada por Deus” ou “Dádiva do Ídolo”, sendo que os árabes, em geral, conhecem-na por “Cidade da Paz”) e Basrah, cidade localizada no sul do país, situada nas margens do rio Shatt Al-‘Arab (ou “rio dos árabes”), onde ocorre a confluência de dois dos mais famosos rios da Antiguidade, o Tigre (ad-dijlis) e o Eufrates (al-furat). O rio Tigue, com a sua nascente no lago Hazar, forma, ao longo de cerca de 40 quilómetros, a fronteira entre a Síria e a Turquia. Seus principais tributários são os rios Botan, Batmansu, Karpansu e o Great Zap Rivers. O rio Eufrates nasce nas montanhas da Anatólia, de uma locução grega que significa “nascer do sol”.
O rio Eufrates, em sua passagem pela província da Babilônia, Iraque. ▪ Fonte: Biblioteca do Congresso / EUA
Essa região é o lar dos chamados “árabes dos pântanos” (Arab al-Ahwar), também conhecidos como Ahwaris, Ma’dan (“morador das planícies”) ou Shroog (“os do Leste”, em árabe mesopotâmico), habitantes das áreas alagadas do sul do Iraque, principalmente nas proximidades dos Pântanos Mesopotâmicos, e que mantêm um estilo de vida semelhante aos sumérios antigos, uma das civilizações mais antigas da Mesopotâmia (as cidades de Ur, que dizem ser o local de nascimento do profeta Abraão, e Uruk, a maior cidade do mundo em 3000 a.C., estavam localizadas ao longo do rio Eufrates nas bordas destes pântanos). Ali constroem as suas casas tradicionais feitas de junco ihdri (as mudhif), domesticam búfalos-d’água para ajudarem na agricultura, alimentando-se da sua carne, arroz, cevada, trigo e de masgouf, um peixe característico, grelhado em fogueiras.
Os Ma’dan, predominantemente shi’itas, falam o dialeto árabe, com a incorporação de palavras de línguas antigas, hoje extintas (suméria e acádia), possuem as suas próprias tradições, práticas sociais e códigos de conduta diretamente descendentes dos beduínos. O seu folclore popular é influenciado pelo ambiente no qual vivem. Exemplo disso é a crença em seres espirituais, semelhantes aos jinn, al-jinun (ahl al-jan)
A locomoção entre os pântanos é feita em pequenas embarcações rudimentares, conhecidas como mashoof. Navegar pelas redes de pântanos de Hawizeh — que abrangem o Iraque e o Irão —, e os pântanos de Hammar — no sudeste do Iraque —, numa tarde de verão, é como entrar num mundo à parte. A temperatura quente é aliviada pela brisa suave que passa pelos canais estreitos entre a vegetação exuberante. À medida que o dia avança, as cores vão-se transformando também, criando um espetáculo de tons quentes e vibrantes que contrastam com a tranquilidade das águas. É uma verdadeira imersão na natureza intocada, conectando-se com tradições antigas e testemunhando a vida que prospera nos pântanos.