A partir dos questionamentos suscitados pelo amigo Germano Romero, tomamos a decisão de esclarecer, mais uma vez, a nossa posição a respeito da espiritualidade em Augusto dos Anjos, em cuja poesia podemos constatar alguns procedimentos semelhantes aos encontrados no Espiritismo.
Augusto dos Anjos (1884—1914), poeta e professor brasileiro, nascido no estado da Paraíba.
Gostaríamos de afirmar, inicialmente, que, do ponto de vista literário, é irrelevante saber se Augusto dos Anjos era ou não espírita. Mais relevante é verificar como elementos da doutrina espírita foram utilizados de modo literário. Dizendo claramente, temos na obra de Augusto dos Anjos uma poíesis, em que se pode identificar algo de um Espiritismo subjacente, mas não uma doutrina espírita, na qual se pode identificar uma poíesis incidental.
Muitos escritores procederam de modo semelhante. É o que constatamos em Léon Tolstói, no grandioso Guerra e Paz, apesar de tê-lo lido em tradução, o que nos traz um certo receio, mesmo não conseguindo entrever a possibilidade de um tradutor ter “criado” o que existe naquela obra, sobretudo nos momentos da morte do príncipe Andrei Bolkónski. Remetemos o leitor para o texto Apelo à vida, que publicamos no Ambiente de Leitura Carlos Romero.
Com relação a Victor Hugo, a situação já se torna mais favorável, tendo em vista o fato de termos lido, no original, o magnífico Os Miseráveis. Das atitudes do bispo de Digne, Monsenhor Myriel Bienvenu (veja-se, de nossa autoria, Victor Hugo espírita), acreditando no perdão e na força do amor, às transformações por que Jean Valjean passa, buscando a redenção, a partir desse perdão,
desse amor e, sobretudo, da caridade – quem salvaria a vida de seu algoz, correndo o perigo de retornar à cadeia, mesmo sendo inocente? –, tudo nos conduz a uma compreensão da visão espírita dentro do romance de Victor Hugo, um dos homens mais libertários de todos os tempos, combatendo e agindo, com o risco da própria vida, contra o arbítrio, a prepotência e a violência. Não fosse o que se encontra em Os Miseráveis – o maior libelo contra a injustiça que há na face da terra –, teríamos uma prova documental da participação de Victor Hugo nas experiências das mesas girantes, ao longo de 2 anos (1853-1855), no exílio, transformadas em livro póstumo, Le Livre des tables: les séances spirites de Jersey, cujos 4 cadernos foram editados pela primeira vez, em 2014, pela Gallimard.
A respeito de Augusto dos Anjos, dispomos de, ao menos, uma prova documental: Ademar Vidal atesta que o poeta realizava, no Pau d’Arco, sessões espíritas (O outro eu de Augusto dos Anjos, Rio de Janeiro, José Olympio, 1967, p. 69-70):
“Nesse meio agitado [o meio católico do engenho], Augusto dos Anjos chegou a praticar o espiritismo. Promovia ‘sessões memoráveis’ na sala de jantar. Era ‘médium’ classificado. Certa vez invocaram Gonçalves Dias que escreveu versos sobre os quais ninguém
punha a menor dúvida como da autoria do lírico maranhense. Nessa época o pessoal do Pau d’Arco foi assaltado por grandes medos decorrentes de assombração. Eram as consequências de espíritos maus que surgiam nas ‘sessões’ em manifestação de violência. [...]
As sessões espíritas estavam trazendo sérios transtornos à pacatez do ambiente. Já se ouviam ruídos estridentes, bastando para tanto que entrasse a noite, esta viesse com as suas escuridões e mistérios, ventos frios de junho. Diante disso, Dona Mocinha resolveu proibir as ‘sessões’, visto o espiritismo estar perturbando a vida da casa-grande. Com a proibição, cessou a onda de pavores – os trasgos não andaram mais soltos no terreiro – que vinham dando rebuliços às noites silenciosas do velho engenho de açúcar.”
Embora seja um testemunho de alguém que conviveu com Augusto dos Anjos, precisamos ter muito cuidado para usar essa informação. Ser espírita envolve mais do que realizar uma sessão mediúnica e invocar espíritos; envolve mais do que a psicografia e a psicofonia ou realizar desdobramentos. Estas são ações que um médium, mesmo não sendo espírita, pode realizar. Ser espírita envolve, sobretudo, estudar e aplicar a si mesmo a doutrina, buscando a reforma íntima, único meio de evoluir espiritualmente.
No caso dos escritores aqui elencados – Augusto, Tolstói, Hugo –, reafirmamos que os seus escritos se destinam a um objetivo estético, qual seja o de provocar a estesia do leitor, não de privilegiar ou divulgar uma doutrina. Fazer uma obra de arte com o intuito de divulgar doutrinas, quaisquer que sejam elas, é matar o espírito criativo que deve prevalecer, quando o assunto é estesia. O Espiritismo estaria nas obras desses autores como estão outras informações que ajudam a compor o enredo de uma narrativa ou a subjetividade dos versos de um poema. É verdade que o conjunto dessas informações ajuda a compor o perfil do escritor, e nada mais forte no homem, muito além da sua ideologia política, do que o perfil de sua religiosidade ou da sua espiritualidade.
Essas ressalvas se fazem necessárias, com a finalidade de colocar em relevo a criação literária, que é sempre maior, muito maior, do que a biografia do seu criador. Se assim não ponderarmos, estaremos incorrendo no erro do biografismo, procurando ler a vida do autor pela sua obra, afirmando, por exemplo,
que Augusto dos Anjos, além de depressivo e melancólico, era tuberculoso. É estranho que os mesmos que o classificam como tuberculoso, por causa do poema Os Doentes, não o dizem também morfético... Talvez, porque no escalonamento das doenças, tuberculoso seja menos repugnante do que leproso... Se fizermos uma leitura ditada pelo biografismo, estaremos atribuindo ao poeta as muitas doenças, majoritariamente de ordem psíquica, que acometem o eu-lírico. Este se enquadra perfeitamente em muitos dos distúrbios que estão classificados no DSM-5: transtorno de linguagem; transtorno delirante e alucinativo, transtorno depressivo, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de insônia, transtorno do sono-vigília do ritmo circadiano, comportamento autolesivo, transtorno de ansiedade com o ambiente natural... Não iremos mostrar cada um deles, porque os exemplos seriam muitos, tendo em vista que são comportamentos comuns no eu-lírico. Fiquemos apenas em dois exemplos, o primeiro em As Cismas do Destino (estrofe 25, parte I, versos 97-100); o segundo, em Tristezas de um Quarto Minguante (estrofes 8-9, versos 29-36):
Chegou-me o estado máximo da mágoa!
Duas, três, quatro, cinco, seis e sete
Que eu me furei com um canivete,
A hemoglobina vinha cheia de água!
..............................................................
A lâmpada a estirar línguas vermelhas
Lambe o ar. No bruto horror que me arrebata,
Como um degenerado psicopata
Eis-me a contar o número das telhas!
– Uma, duas, três, quatro... E aos tombos, tonta
Sinto a cabeça e a conta perco; e, em suma,
A conta recomeço, em ânsias: – Uma...
Mas novamente eis-me a perder a conta!
O ponto de comutação que deve ser levado em conta, na análise do texto literário é um só: uma coisa é o personagem, uma criatura de papel; outra coisa é o escritor. Pode até, algumas vezes, acontecer a co-incidência (assim mesmo, separado) de uma coisa para outra, mas o personagem ou eu-lírico continua a desempenhar a sua função de figura papel. Não se confunda, portanto, o criador com a sua criatura.
Muito do que é visto, na poesia de Augusto dos Anjos, como delírio, alucinação, visões distorcidas da realidade, mania, dificuldade de expressão e sensação do eu-poético de encontrar-se em um espaço diferente do seu habitual
poderá ser entendido como fenômenos mediúnicos, que se observam também no Espiritismo, envolvendo a psicofonia, a dificuldade de expressão do que se observa no mundo espiritual e os desdobramentos. A diferença entre mediunidade e Espiritismo encontra-se na consciência da reencarnação, por ser uma doutrina evolucionista. Já tivemos a oportunidade de escrever sobre essa relação espiritual do eu-lírico da poesia de Augusto dos Anjos (v. este link), sempre chamando atenção para o fato de que essa espiritualidade é ampla, envolvendo Cristianismo, Budismo, Espiritismo e até o Monismo de Haeckel, este visto pelo seu próprio criador como uma religião natural (Capítulo XVIII, Nossa religião monista, em Os enigmas do Universo, 1902). Vamos nos ater, pois, a uma breve análise do que o poema Os Doentes pode nos sugerir a respeito da espiritualidade, que namora com o Espiritismo, de modo a embasar o que afirmamos.
Em Os Doentes, o eu-lírico vê-se num embate com a degradação humana e com a da sociedade como um todo. Dentre todos os poemas em que o eu-poético confronta a degradação e a podridão que acompanham o ser humano, talvez seja esse o mais fortemente explícito e expressionista. É um longo poema, com fundamento substancial na evolução da espécie, revelando que a evolução do homem é de tal modo corrompida que, ao eu-poético, melhor seria retornar às formas primevas de vermes, como o anfióxus e a tênia, em busca da mais remota ancestralidade como monera, momento em que se estabelece um diálogo com Monólogo de uma Sombra.
Nessa tensão, que ocorre em um ambiente noturno, sendo a noite mais psíquica do que física, o eu-poético, tomado de sombras, vai fornecendo, aqui e acolá, pistas de um possível renascimento, o que ficará mais claro nas quatro estrofes finais da oitava parte do poema (estrofes 96-99), sendo a regeneração buscada, que resulta em uma nova vida, bem mais explícita na nona parte, a última de Os Doentes (estrofes 100-110).
Ressalte-se que o eu, na sua mocidade, é cheio de ilusões, desfeitas pela degradação generalizada (“para enterrar a minha ilusão de moço”, estrofe 73, parte VII, verso 289), imaginando, por exemplo, que o mal das Américas foi trazido pela colonização europeia, matando os índios (“Mas, diante a xantocroide raça loura,/Jazem, caladas, todas as inúbias”, estrofe 42, parte IV, versos 163-164) e inaugurando a escravidão negra no continente, originando, como contrapeso, a prostituição (estrofes 92-94, parte VIII, versos 363-374),
quando, na verdade, independentemente da colonização europeia na América ou em qualquer outro lugar, o homem não escaparia ao impulso de degradar a si mesmo e a seus semelhantes.
É a consciência de quem foi, seja através da evolução da espécie, por “epigênese” (estrofe 60, parte V, verso 237), fruto de um “quimiotropismo erótico” (estrofe 22, parte III, versos 83-84) – éter, carbono, plasma, monera, vermes (anfióxus e tênia), actissa, lagarta, hiena, macaco catarríneo e uma sobrevivência de Sidarta, isto é, o ser humano degradado no corpo e na mente –, seja pelo conhecimento de vidas passadas e, consequentemente da reencarnação, que a ilusão de moço se desfaz e o faz sentir nascer na sua alma “o começo magnífico de um sonho!” (estrofe 107, parte IX, verso 426).
Esta transformação de uma visão pessimista melancólica (“Perfurava-me o peito a áspera pua/Do desânimo negro que me prostra”, estrofe 47, parte V, versos 183-4), ditada pela degradação, só é possível pelo fato de o eu misturar-se a ela e ter a consciência de que ela age como uma “negra eucaristia” (estrofe 82, parte VII, verso 324): a graça da conscientização vem com o conhecimento da corrupção, que traz a dor e o sofrimento, levando ao homem a esperança de ele transformar-se a si mesmo. Para isso, não só a consciência de que evoluímos biologicamente, mas, sobretudo, de que devemos evoluir espiritualmente, é fundamental. A quadra que se segue é, na nossa compreensão, uma síntese perfeita desse momento (estrofe 100, parte IX, versos 395-398):
O inventário do que eu já tinha sido
Espantava. Restavam só de Augusto
A forma de um mamífero vetusto
E a cerebralidade de um vencido!
Se o “inventário” daquilo que o eu-poético tinha sido o espantava e nada restava do “Augusto”, senão a animalidade antiga, bruta, na forma, e, no pensamento, uma “cerebralidade” vencida pela materialidade, a solução já está dada pelo próprio eu: involuir às formas de vermes e voltar aos braços da monera, a mãe antiga (v. estrofes 54-55, parte IV, versos 211-218). Pelo que nos diz a estrutura do poema, esse retorno aos pródromos da evolução da espécie, como uma “saudade inconsciente da monera” é, do ponto de vista metafórico, a possibilidade de retorno também
para o começo de outra vida, tendo aprendido como o que aconteceu nesta. É daí que surge a outra possibilidade para o eu-poético: a esperança de uma nova humanidade. Percebemos, então, que “Augusto” deixar de ser “Augusto” é maior do que a individualidade de uma biografia. O desejo de esperança e a crença na renovação, como se vê na última estrofe do poema, prognostica a transformação do “Augusto” indivíduo, animal, embrutecido e cerebral (a ligação com o “Filósofo Moderno” e com o “Sátiro peralta” de Monólogo de uma Sombra é clara), no “Augusto” espiritual, que deve surgir com a nova humanidade. Trata-se de uma movimentação da animalidade para a espiritualidade, assim como o poeta sempre caminha dos meros traços biográficos para a magnitude da poesia.
É necessário, portanto, voltar a ser “Augusto”, aquele que aumenta, que acrescenta, etimologicamente falando. Só a consciência de quem somos, aliada a uma esperança de mudança é capaz de levar à transformação, que atingirá também a sociedade. Sem isso, todo edifício desmorona, seja o que se edifica arquitetonicamente, seja o que se edifica subjetivamente dentro de si, individualmente, ou coletivamente, como a sociedade (estrofe 105, parte IX, versos 415-418):
Contra a Arte, oh! Morte, em vão teu ódio exerces!
Mas, a meu ver, os sáxeos prédios tortos
Tinham aspectos de edifícios mortos,
Descompondo-se desde os alicerces!
É hora de irmos em busca dos versos que intermedeiam a passagem entre a degradação da matéria e a esperança da “gestação daquele grande feto,/Que vinha substituir a Espécie Humana” (estrofe 110, parte IX, versos 435-438). São duas as estrofes que fazem a intermediação. Em uma, constata-se que a possibilidade da esperança é melhor do que remoer mágoas; na outra, encontra-se a essência da espiritualidade (estrofes 29-30, parte III, versos 111-118):
Antes levardes ainda uma quimera
Para a garganta onívora das lajes
Do que morrerdes, hoje, urrando ultrajes
Contra a dissolução que vos espera!
Porque a morte, resfriando-vos o rosto,
Consoante a minha concepção vesânica,
É a alfândega, onde toda a vida orgânica
Há de pagar um dia o último imposto!
A definição da “morte”, na estrofe acima, é uma das coisas mais bem construídas na poesia de Augusto dos Anjos. Do ponto de vista da estrutura, temos uma metáfora predicativa das mais simples, em que se pode ler “a morte ... é a alfândega”, acompanhada de uma restrição que a adjetiva, “onde a vida orgânica/Há de pagar um dia o último imposto!”. No entanto, do ponto de vista do pensamento, da engenhosidade criativa, a metáfora se torna muito complexa, porque, devido à estrutura do poema, ela separa o que é matéria do que é espírito.
Dentre as atribuições do sistema aduaneiro estão, principalmente, a cobrança de impostos sobre produtos estranhos à nova fronteira e a proibição da entrada de pessoas e produtos indesejáveis, inconvenientes ou danosos. A restrição adjetiva que se atribui a esta alfândega metafórica, nos diz muito bem da sua especificidade: quem vai pagar o imposto, o último imposto, é a vida orgânica, a matéria, exatamente o que se faz em qualquer alfândega real. Na alfândega metafórica, separa-se muito bem o que fica e o que vai. A matéria ficará, o espírito está liberado de qualquer ônus alfandegário. É claro que a segunda parte do raciocínio está implícita, mas nem precisa ser explicitada a quem conhece a poesia de Augusto dos Anjos, e lê o poema, a partir de uma visão sistêmica. É assim que a literatura funciona: podemos identificar e desconectar as partes de um texto, mas temos que conectá-las de volta, porque se trata de uma estrutura, em que cada parte tem uma significação e a junção de todas elas nos dão uma significância.
O eu-poético sabe que é muito mais fácil as pessoas conceberem a ideia de não haver nada após a morte, por isso é comum o morrer “urrando ultrajes/Contra a dissolução” que espera cada um de nós. Nessa perspectiva,
é loucura, ter uma esperança que se leve “Para a garganta onívora das lajes”, racional é jactar-se de ateu... Morrer, todos vamos. Ter o nosso corpo desintegrado pela ação das bactérias, todos teremos. Diante dessa certeza, da qual ninguém escapará, a esperança de uma vida após a morte é um mal maior ou menor? Mesmo assim, para alguns essa concepção é “vesânica”, por isso o eu-poético emprega o termo “quimera”, que tanto pode ser utopia, sonho, quanto absurdo e fantasia. Pela estrutura do poema, trata-se de uma utopia, uma esperança, vislumbrada pela vesânia, que está bem articulada com a visão da humanidade presente e a da futura. A vesânia, que pode ser definida como loucura ou mania, enquadra-se nesse perfil delirante do eu-poético, que já atestamos em vários poemas. Considere-se, contudo, que, muitas vezes, a visão delirante e o sonho aparecem materializados, em vários poemas, como o eu afirma em Os Doentes (estrofe 83, parte VIII, versos 327-330), quando o sonho pode ser caracterizado como um desdobramento:
Era todo o meu sonho, assim inchado,
Já podre, que a morfeia miserável
Tornava às impressões táteis, palpável,
Como se fosse um corpo organizado!
Esclareça-se que essa visão é da mesma ordem da “mania”, que já se encontra em As Cismas do Destino (“As diferenciações que o psicoplasma/Humano sofre na mania mística”, estrofe 82, parte III, versos 325-326). A “mania mística” tem sentido semelhante ao da “concepção vesânica”, sendo uma forma para se falar de mediunidade, quando o “Destino” revela ao homem que o seu orgulho nada é diante das “forças inorgânicas da terra”,
pois tudo será encerrado pelo “terráqueo abismo” (estrofe 84, parte III, versos 333-336).
Alongamo-nos em nossa análise, porque um assunto como esse, candente, não pode ser resolvido rápido ou com meias palavras. Ele merece uma análise que, por definição, é uma divisão das partes de um todo, cuja reunião posterior mostrará que o todo inicial é muito maior e mais significativo do que todas as partes. Junte-se, portanto, o inventário do que o eu-poético foi, a esperança que se deve ter antes de morrer, a visão do desmoronamento do corpo social e físico, e veremos que tudo prepara a vinda de uma nova humanidade, cuja base deverá ser a espiritualidade.
A visão sistêmica da poesia de Augusto dos Anjos nos ajuda no esclarecimento de que o Eu é um único e longo poema, que oferece, mais do que qualquer teoria, os modos de ser analisado e compreendido. Por muito tempo a crítica ficou aprisionada no biografismo e no culturalismo, falando de tudo, menos do texto. A crítica acadêmica veio dar um novo direcionamento aos estudos literários, mas deixou-se aprisionar pelo tecnicismo e pelo teoricismo, matando, não raro, a beleza da criação poética. Está na hora de deixar o texto falar e seguir os seus passos. E, no caso de Augusto, quando deixamos ao texto a liberdade de falar, vemos, sim, que existe uma essência religiosa que pode nos levar a reconhecer nela fenômenos vinculados ao Espiritismo.