Aí já é o fim da picada. Ser chamado de vovô pode parecer irônico, como também pode assumir a conotação de um chamamento afetuoso. C...

Tiozinho

Aí já é o fim da picada. Ser chamado de vovô pode parecer irônico, como também pode assumir a conotação de um chamamento afetuoso. Certa vez, passeando com a filha caçula do segundo casamento (só foram dois os matrimônios) e alguém se dirigiu a ela: “Passeando com o vovô?”. Achei até graça e não me incomodei.

Já o termo "tio", vejo como meio professoral, e pode-se dar a ideia de maturidade e até de alguma sapiência. “Tio, como se resolve esse problema?”. Estão achando você sabido, uma referência.Mas cuidado, se você tentar apresentar sua candidatura a alguna moçoila espevitada que está, como dizem, dando mole, e ela o chamar de tio, pode tirar o cavalinho da chuva. É como ela tivesse dito: “Você tem a idade do meu pai. Se toca, cara”. Ou seja, não é para seu bico.

Mas o pior de tudo é o tal de tiozinho. O que é um tiozinho? Há uma grande possibilidade de que em nosso outono no planeta possamos nos tornar um deles, um tiozinho com tê maiúsculo, Fazer o quê? Precisamos estar preparados. Enquanto isso...

... Vamos dar asas à imaginação para chegarmos ao que é, ao meu ver, o mais destestável dos apodos. Tiozinho, pressupõe-se uma criatura raquítica, já querendo colocar o pé na cova. Coisinha pouca, deselegante, moco e precisando de um andador para se locomover. Quando ao volante, se é que ainda dirige, inclina-se todo quase batendo a testa no para-brisas e vai pela pista da esquerda à velocidade de cágado. Via de regra retornou às fraldas e quando não, vive gotejando com a calça visivelmente úmida ali onde habita o “falecido”. É por aí.

Aqui um parênteses para quem não vive nesses nossos pontos cardeais. Na quarta-feira que antecede ao carnaval, aqui em nossa Parahyba do Norte (hoje João Pessoa), sai o mais tradicional bloco carnavalesco da cidade e um dos maiores do país: Muriçocas de Miramar. Segundo o “data-muriçoca”, pelo menos um quarto da população da cidade desceu ladeira abaixo na folia. E assim foi neste ano também. Era gente que não acabava mais entupindo os 5 km de percurso. E eu, fui? Claro que não. O esqueleto aqui hoje prefere atividades na horizontal (não todas, é claro). Só que...

Só o quê? Só que no dia seguinte, quinta-feira, céu encoberto naquele chove-não-chove, tive que ir ao centro da cidade para um compromisso. Rodei, rodei, até que achei uma vaga para idoso. Nessas horas, cá com meus botões, conjecturei que aquela era a única vantagem que eu via em envelhecer. Estacionei meu “cadilac” e quando dele ia saindo tropecei no cinto de segurança. Por pouco não fui com as ventas no chão, mas uma manobra de contorcionista fez-me a prumo e escapei do vexame. Até aí, fora o susto, nada a acrescentar. Como nada? Estava me esquecendo da plateia, pequena, mas atenta. Pois dela me surge um frangote que comenta com a mãe.

⏤ Nossa, mãe! O tiozinho deve estar chegando agora das Muriçocas. Tá “bebinho”.

Pode? O tiozinho era eu. E ainda mais me achando, “bebinho”.

Então, meus amigos, por mais que façamos ou que tenhamos tentado fazer algo relevante ao longo de nossa existência, vai chegar a hora que alguém nos achará com aspecto de tiozinho. Pior ainda, podemos nos tornar um deles. Pode ser o destino dos longevos. Já pensaram nessa possibilidade? Fez-me triste o comentário do garoto. Quero ainda ser mais alguma coisa na vida nestes minguados anos que tenho ainda à frente, mas tiozinho...

Tiazinha já é diferente. Esse diminutivo para tia, sugere estarmos diante de uma beldade. Teve até uma que foi destaque na TV e era só a Tiazinha aparecer na telinha que os hormônios da rapaziada pululavam. Era danada de bonita. Usava uma máscara do tipo mulher-gato, morena, cabelos longos. Suzana Alves é o nome da criatura.

Mas não consigo imaginar um tiozinho, esse modelo que está em pauta, fazendo o mesmo sucesso e as mucosas das meninas incendiando diante daquele monte de carne decadente rebolando na TV.

Enfim, chamem-me de vovô, de velho, até de tio, mas dispenso o tiozinho, por mais afetuosas que sejam as intenções, Era esse o meu desabafo.

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  1. Anônimo5/3/25 17:19

    Plenamente solidário com você, Paiva. Tiozinho é a ...vovozinha. De qualquer modo, cronista, há o consolo de se saber escrever um texto como o seu, coisa de que nenhum brotinho é capaz. Não resolve, claro, mas consola um pouco o véio. Parabéns. Francisco Gil Messias.

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  2. Anônimo5/3/25 20:19

    Kkkkkkkkkkkkkkkk boa ✂️

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  3. Anônimo5/3/25 22:52

    E o termo melhor idade? Quem gosta? Não gosto nem concordo.
    Coroa é um outro termo que não me agrada. Não se sustenta na tradução literal, sugere, ou melhor, significa alguém vivido na caça de um broto.
    Pode ser dito pra ambos os sexos. Quem gosta? Eu não. Abraços, querido Paiva!

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