Revolução da sensibilidade

O movimento Tempestade e Ímpeto (Sturm und Drang) foi um fenômeno literário e filosófico que se desenvolveu na Alemanha entre 1765 e 1785 e influenciou a primeira fase do Romantismo desse país. Surgiu em um período de turbulência cultural e intelectual, que gerou uma reação contra as normas estabelecidas pelo racionalismo. O objetivo principal dessa revolução foi colocar a vida como valor supremo e rejeitar todas as normas que, embora válidas racionalmente, pudessem limitar o desenvolvimento individual.

Henry Fuseli

Também rompeu violentamente com os conceitos que regulavam as relações individuais e sociais, políticas e morais, e assim buscou vivenciar intensas emoções por meio da intuição e da liberdade, ao priorizar a percepção da realidade pela sensibilidade, subjetividade e individualidade. A época era marcada pela ascensão da burguesia, as primeiras manifestações do Iluminismo e, no campo artístico, o declínio do Barroco e do Rococó, que priorizavam a ordem absoluta, a razão e a harmonia com precisão.

O Sturm und Drang priorizou a ideia de uma arte mais intuitiva e próxima da descrição da natureza e das emoções intensas, em contraste com a busca pela perfeição formal da arte clássica grega e contra a defesa da racionalidade dos principais filósofos iluministas: François-Marie Arouet (1694-1778) - conhecido como Voltaire; Jean-Jacques Rousseau (1712-1778); Thomas Hobbes (1588-1679); John Locke (1632-1704); Charles-Louis de Secondat (1689-1755) - conhecido como Montesquieu; Adam Smith (1723-1790); Immanuel Kant (1724-1804); Denis Diderot (1713-1784) e Jean le Rond d'Alembert (1713-1783). Estes afirmavam que a razão deveria substituir o misticismo.

Henry Fuseli

Além dos ideais de vanguarda da revolução artística, o movimento Tempestade e Ímpeto criticava a rigidez das normas sociais, a má gestão de governo, e valorizava as emoções humanas para a vivência estética como sentido de existência e a criação literária de forma espontânea. A arte deveria ser uma expressão das paixões, de forma a exaltar a revolta e a luta individual contra os dogmas religiosos e científicos que engessavam a contemplação à beleza do corpo humano e à natureza. Diante disso, os artistas se opuseram ao conformismo. Eles buscavam a própria autenticidade, refletindo o desejo de emancipação tanto individual quanto artística, os quais os indivíduos podiam se libertar das amarras da sociedade e reconectar-se com seu próprio eu.

Tempestade e Ímpeto simbolizava o estado puro do ser humano, desafiava as construções artificiais da civilização. O movimento exaltou o gênio e o herói como personagens centrais. O "gênio" era aquele que se libertava das normas sociais e criava algo novo, expressando-se de maneira original. Já o "herói" representava o que se opunha à autoridade estabelecida, frequentemente visto como um símbolo de resistência e revolta. Esse processo buscava expressar uma voz própria sem se submeter às

Schiller

Göethe

regras ou expectativas da formal tradição literária ou da sociedade racional. A individualidade e a liberdade criativa eram, portanto, valores essenciais para a revolução desse movimento.

Os principais autores e obras do Sturm und Drang são os alemães Johann Wolfgang von Goethe (1749 - 1832) e Friedrich Schiller (1759 – 1805). Goethe foi polímata, autor e estadista. Sua obra mais conhecida deste período é o drama Os Sofrimentos do Jovem Werther, publicada em 1774, que reflete as angústias existenciais de um jovem apaixonado, em conflito com os valores sociais e emocionais da época. O livro gerou grande impacto e desencadeou a "febre Werther", uma onda de jovens que se identificaram com a dor e a frustração do protagonista.

Schiller foi poeta, filósofo, médico e historiador. Ele começou a ficar conhecido por sua tragédia Os Bandoleiros, publicada em 1781, que retrata a luta de um grupo de jovens fora da lei, em uma crítica direta às instituições da época, como a monarquia e as rígidas normas sociais. O Romantismo, que se desenvolveu nas décadas seguintes e noutros séculos, incorporou um intenso interesse pelo místico e transcendental.

Cena de Os bandoleiros Coin Film / Francois Fabert

O movimento Sturm und Drang foi um marco na história da literatura. Ele proporcionou a liberdade de expressão emocional e intelectual e fecundou as transformações que viriam com o romantismo, simbolismo, naturalismo e outros estilos de arte. A busca pela liberdade, a crítica à racionalidade e a fúria contra a corrupção na política e nas religiões permanecem como legados dessa revolta iniciada pela revolução da sensibilidade.

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