''O Último Azul''

Qual é o maior pecado que devemos temer ao longo de nossa caminhada escaldante, mas que, por vezes, se torna gélida de emoções? A certeza. Ela é a grande inimiga da união entre os povos, o veneno silencioso que sufoca a tolerância e apaga a chama dos nossos atos mais dignos.

Até mesmo Jesus, na cruz, não teve certezas. Por volta das três da tarde, elevou a voz em um brado dilacerante: Eloí, Eloí, lema sabactâni? (Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?).

Léon Bonnat, 1874

Naquele momento, a dúvida não foi fraqueza, mas a expressão mais pura da humanidade diante do abismo.

O que realmente nos mostra o valor de seguir com o melhor do entendimento humano, é a fé naquilo que imaginamos ser correto, ou acreditamos ser o melhor caminho para trilhar junto aos nossos mais próximos.

O verdadeiro valor de seguir com o melhor do entendimento humano reside na fé, não apenas naquilo que imaginamos ser correto, mas também na crença de que o caminho escolhido é o mais justo para trilhar ao lado daqueles que amamos. É essa confiança silenciosa que ilumina nossas decisões e fortalece os laços com quem compartilha nossa jornada.

A fé nasce justamente da dúvida, desse contínuo questionamento do que parece certo diante de nossos olhos. Sem ela, estaríamos presos à rigidez das aparências, incapazes de enxergar além da superfície. Para pedir perdão após um erro e abraçar a humildade no entendimento do que aconteceu, é preciso recusar a passividade diante dos fatos. Só assim permitimos que o peso do arrependimento se dissolva, e seguimos mais leves, abertos ao aprendizado e à renovação.

As Lágrimas de PedroJusepe de Ribera, 1613

Muitas vezes, o mundo nos exige a força e a rigidez do ferro, esquecendo-se de que somos feitos de carne e osso, vulneráveis e sensíveis. Justamente por isso, a resiliência não é um sinal de fraqueza, mas um ato profundamente humano — é a capacidade de se curvar sem quebrar, de transformar dor em aprendizado e seguir em frente, mesmo quando o peso da vida parece insuportável.

Fonte: Imdb

Mesmo aos 77 anos, as oportunidades ainda desfilam à sua frente, aguardando apenas o estender do braço para serem escolhidas, quase ao acaso, e transformarem-se na próxima experiência, vivida através de um olhar amadurecido pelo tempo. Assim como no filme O Último Azul, vencedor do Leão de Prata no último Festival de Berlim, que trouxe à tona o direito de sonhar e a crença de que nunca é tarde para encontrar um novo significado na vida. A obra reforça a importância de reeducar o olhar para um tema tão urgente, convidando-nos a abraçar o novo e manter viva a capacidade de se reinventar.

O Último Azul apresenta uma narrativa sobre o "sistema perene", uma política fictícia criada pelo governo brasileiro, que impõe o isolamento vertical compulsório para idosos com mais de 80 anos, confinando-os em uma colônia. A protagonista, Teca, interpretada pela atriz Denise Weinberg, tem 77 anos e vive na pacata aldeia de Muriti, na Amazônia. Sua rotina é abalada quando o governo anuncia a redução da idade de trabalho, abrangendo também sua faixa etária.

Fonte: Imdb

Sentindo-se encurralada e temendo perder a liberdade, Teca embarca em uma jornada clandestina e intrigante, escondendo-se dos oficiais enquanto navega por rios, barcos e o submundo amazônico. Sua missão? Realizar seu último sonho antes que o tempo se esgote: fazer um passeio de avião. A trama mistura aventura e reflexão, lançando luz sobre o direito de sonhar e a resistência diante de um sistema opressor.

Imagino que você esteja escolhendo sua próxima aventura em sua tenra idade, ou talvez, na mais rica de todas.

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