O dia estava cinzento, nuvens espessas encobriam o céu. O navio Beagle deslizava pelo oceano, carregando provisões, mapas e pensamentos inquietos. Charles Darwin observava o horizonte. Ao seu lado, estavam o capitão Robert FitzRoy, metódico e analítico, e o geólogo Adam Sedgwick, de espírito contemplativo.
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— A vida se sustenta por acaso ou existe uma ordem maior? — perguntou Darwin, sem tirar os olhos do mar.
O capitão FitzRoy, admirador de Tomás de Aquino, respondeu:
— Tudo se move em direção a um propósito.
Sedgwick, inspirado em David Hume, retrucou:
— A planta cria raízes não porque tem um destino, mas porque precisa de solo e água.
Darwin sorriu e voltou a olhar o horizonte.
Estória 1 – Rio de Janeiro 1832
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Escondeu-se atrás de um tronco e viu um cervo debatendo-se sob as presas de um lobo-guará. O predador ofegava, quando um rugido cortou o silêncio.
Das sombras, uma onça-pintada emergiu e, num único golpe, derrubou o lobo. FitzRoy prendeu a respiração, mas, ao dar um passo para trás, o estalo de um galho seco o denunciou.
A onça ergueu a cabeça e cravou nele os olhos dourados.
FitzRoy congelou.
Um tiro ecoou. A onça tombou, pesada.
FitzRoy suspirou. Adam Sedgwick abaixou a espingarda.
— Está bem? — perguntou Adam.
No acampamento, Darwin escrevia anotações. Quando os dois se aproximaram, ele levantou os olhos e franziu a testa, vendo a expressão pálida de FitzRoy.
— Parece que viu um fantasma, Robert?
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— Charles, você disse que sobrevivem os que se adaptam melhor. Hoje eu vi isso de perto.
Darwin o olhou com curiosidade.
— A sobrevivência não se resume à força. É adaptação.
O capitão franziu a testa.
— Mas… se na natureza tudo se resume a sobreviver, qual o sentido da vida?
Darwin sorriu e fechou seu caderno.
— Na natureza, os seres lutam entre si, mas somos humanos. Temos alma e razão. Não deveríamos lutar uns contra os outros, mas juntos, somando forças. Só assim podemos evoluir de verdade.
O capitão permaneceu em silêncio.
Darwin levantou-se, dando ordens para partirem.
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— Vocês veem esta árvore? Muitos desejam seus frutos, mas poucos pensam no tempo que levou para criar raízes. Alguma força lhe deu vida. O mesmo vale para a felicidade. Ela não se encontra na pressa, mas na construção paciente e na conexão com algo maior.
Adam revirou os olhos e soltou um riso curto.
— Felicidade? Isso é só um estado de espírito.
O capitão franziu a testa. A arrogância na voz de Adam o incomodava. O velho Kuntê, no entanto, não se abateu.
— E o que faz uma árvore continuar crescendo mesmo quando ninguém está olhando? — perguntou o velho.
— A raiz conhece seu caminho, mesmo sem ver a superfície.
O capitão olhou para Adam, esperando uma resposta, mas ele apenas deu de ombros.
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Do alto do mastro, o vigia gritou:
— Terra à vista!
Estória 2 – Cabo da Boa Esperança 1836
Ao pisarem no continente, perceberam algo estranho. Havia pegadas enormes, semelhantes às de mamutes, mas nenhum sinal dos animais. Árvores tombadas e marcas profundas no solo indicavam uma presença antiga. O silêncio era denso.
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— Que criatura caminhou por aqui? — murmurou o capitão.
Adam se afastou do grupo, intrigado. Seus passos o levaram até uma área mais aberta. De repente, o chão cedeu. Um grito. Ele desapareceu numa enorme cratera.
— Adam! — gritou Darwin.
Lá embaixo, Adam gemia de dor.
— Estou bem! Mas... vocês precisam ver isso! — gritou de dentro da cratera.
Darwin observou o solo ao redor. Rochas enegrecidas brilhavam sob a luz do sol. Darwin tocou um dos fragmentos.
— Isto... não é uma formação comum — murmurou Darwin.
— Um meteorito caiu aqui... e destruiu algo gigantesco.
O silêncio voltou a reinar. Robert olhava para Darwin, esperando alguma conclusão. Adam Sedgwick, ainda sentado no chão, tentava entender a dimensão da descoberta.
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Mais tarde, já no navio, ele pegou seu caderno e escreveu para a humanidade sobre sua lógica fria. Mas em seu coração, carregava outra convicção, a de que havia algo mais, uma força invisível guiando o universo.