“Ó crentes! Foi-vos prescrito o jejum, da mesma forma como foi ordenado aos vossos antepassados, para que possais afastar a tentação.”
al-Qur’an; surata al-baqarah, versículo 183
Os muçulmanos de todo o mundo iniciaram na noite de sexta-feira (28 de fevereiro) para sábado (1º de março) o período de jejum do Ramadão, com duração de um mês. O Ramadão é quarto pilar (al-arkan al-khams) das cinco obrigações canónicas que constituem a cultura islâmica. As outras são: a Profissão de Fé (Shahada), as Orações Diárias (Salat), a Esmola (Zakat; Sadaqat) e a Peregrinação a Meca (Hajj).
EM DIRETO / AO VIVO: peregrinos celebram o Ramadão em Meca (Arábia Saudita) ▪ Transmissão via Youtube
O vocábulo Ramadão, na tradução literal do árabe ramadhan (raiz de ramadha, “arder”, ou ar-ramadh, de “calor intenso e escaldante”), foi usado pelos antigos árabes, nos primórdios do Islão, com o móbil de se designar o mês do jejum (Sawm), denominação que perdurou até aos nossos dias. O Profeta Maomé acabará por sublimar uma data específica: a 27ª noite do nono mês do calendário lunar muçulmano (o mês de Ramadan, explicitamente o “fogo do céu”), consagrada no Alcorão como “a Noite do Destino” ou “a noite de majestade” (al-Qur’an; al-qadr, XCVIII: 3-5). Para o Islão, o mês da “Revelação”, consignado como o do abandono total e confiante a Deus, é um mês com um significado muito especial, por envolver o trinómio Jejum - Meditação - Penitência.AcervoA. Rodrigues
O jejum de Ramadão, obrigatório para qualquer muçulmano responsável e apto, consiste na abstenção quotidiana e diurna (da alvorada até aos primeiros indícios do pôr do sol) de todo o tipo de alimentação, bebida, de tabaco,
AcervoA. Rodrigues
Nesse mês, estão isentos do jejum os enfermos, as crianças que não atingiram ainda a idade da puberdade, os indivíduos com doenças mentais (por se admitir não serem responsáveis pelas suas acções), os crentes a empreenderem viagens iguais ou superiores a cinquenta milhas contadas a partir da sua residência habitual, os idosos débeis, aqueles que têm que executar trabalhos pesados, as grávidas, as mulheres quando se encontram no período do ciclo menstrual (o máximo de dez dias), as que amamentam ou que estão período após o parto (até quarenta dias após o parto), com a condição de cumprirem tantos dias sacrificiais quantos os que perderam pelas causas referidas.
No tempo do dia de jejum, é possível consumirem-se duas refeições. A primeira toma-se após o pôr-do-sol (chamada de iftar), momento para reunir os membros da família e os amigos numa celebração de fé e de alegria. A segunda (suhoor) toma-se antes do recomeço do jejum, bem antes da alvorada, durante a madrugada. O profeta Maomé terá recomendado a quebrar os jejuns com encontros, incentivando a sua comunidade (‘ummah) a convidar outros para a quebra em comunhão.
AcervoA. Rodrigues
Segundo a teologia muçulmana, os Nomes de Deus e a representação vocalizada dos Seus atributos serão quatro mil. Mil desses nomes sagrados serão conhecidos somente por Deus. Outros mil por Deus e pelos anjos. Outros mil por Deus, pelos anjos e pelos profetas. Os restantes mil por Deus, pelos anjos, pelos profetas e pelos crentes. Desta última milena, trezentos estão mencionados na Torá, trezentos nos Salmos, trezentos nos Evangelhos e cem no Alcorão. Entre estes cem, noventa e nove são conhecidos pelos fiéis comuns, enquanto um se mantém desconhecido e secreto, apenas acessível aos muçulmanos mais reverenciadores no dia do Juízo Final.
O mês de Ramadão representa para os devotos muçulmanos de praticamente todas as idades e correntes de interpretação um sentimento especial de entusiasmo emocional e zelo religioso.A imobilidade sazonal do jejum acrescenta-se assim ao rigor de um costume que persiste, mesmo abrandando as actividades diurnas e alterando a existência quotidiana. O Islão atribui-lhe uma das mais altas expressões de devoção espiritual, benevolência e solidariedade humana com os mais desfavorecidos. Coesão sublinhada, no fim do jejum, por uma das manifestações mais respeitadas no Islão: a Id’ul-fitr ou Id as-saghir (“festa da ruptura do jejum” ou “festa pequena”). O evento, que ocorre quando a lua nova é avistada no céu (isto é, quando no calendário se dá início ao mês seguinte, mês de Shawwal) inclui orações e distribuição de alimentos e esmola aos pobres. É comum, em todas as cidades islâmicas, ocorrerem grandes celebrações em ambientes de intensa congregação.
Celebração da Id’ul-fitr na mesquita Jama Masjid, em Delhi, Índia
O mês de Ramadão representa para os devotos muçulmanos de praticamente todas as idades e correntes de interpretação um sentimento especial de entusiasmo emocional e zelo religioso, uma graça que não tem comparação com outros actos, como a piedade e a adoração. Dever-se-á, por isso, compreender e respeitar a devoção dos crentes, observando determinados procedimentos elementares, nomeadamente evitar-se comer, beber ou fumar ostensivamente na presença de pessoas que estejam a cumprir o jejum. Ter presente o fato de que elas poderão apresentar maiores sinais de cansaço e irritabilidade associada a momentos de fadiga física, motivados pelas elevadas temperaturas que, em determinados países, se fazem sentir por esta altura.O cumprimento usual nesta ocasião é Ramadan mubarak (um sagrado Ramadão) ou Ramadan karim (um generoso Ramadão).