Não houve golpe mais drástico no viço do meu artesanato do que terem exonerado o papel linha d’água da impressão dos meus escritos. Por conta de amores velhos com A União, um dos raros jornais deste país fiéis ao papel de impressão, ainda continuo no ambiente pelo qual fui gamado ou pelo que de melhor se escreveu e imprimiu na literatura do mundo.
GD'Art
Não há lugar para uma crônica passadiça de interesse localizado. Aliás, Otávio Sitônio Pinto já havia me conformado: ” ...seu leitor, nego velho, é o que conversa com você, é o que faz parte do seu papo. O João sapateiro ou o Bau Montenegro de sua crônica entram bem porque conferem com os que o leitor conhece”. Eu lamentava ter enviado meu livro a dezenas e dezenas de leitores e críticos de fora e não
Otávio Sitônio Pinto EPC
“Além do mais, nego, me desculpe, mas você não escreveu nenhuma “Bagaceira”.
Querer o quê?
Daí para os dias de hoje, ao que sei de mim próprio, a coisa só tem levado sumiço. Levanto as mãos para o céu pela afinidade sincera que gozo entre os pares da Academia, de algumas redações, pelos remanescentes de outros círculos que de longe nos acompanham.
Há vinte e cinco anos desço e subo pelo mesmo elevador, o mesmo de 39 famílias, onde já cheguei sexagenário. Quanto mais passa o tempo menos tenho com quem falar. De tanto dar bom dia e não ser ouvido terminei privado do melhor de mim que é me dar às pessoas, no que sou em massa dispensado. Salvam-se uns três ou quatro condôminos acima dos cinquenta anos. Além dos porteiros que sempre me advertem do batente.
Gonzaga Rodrigues
Acervo pessoal
Acervo pessoal
Mas ainda resta um de meus cafés, o de Carlos, do Aurora, no térreo do Paraíba Hotel, onde me atendem pelo nome e me fazem pergunta como esta:
“Ainda escreve, Gonzaga?
— Não, parei faz tempo”.
E ninguém me desmente.
— Não, parei faz tempo”.
E ninguém me desmente.