POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras (Editora COUSA – 2023) A PARTE METADE A parte metade, de todo inteira, (esse canto chão de me...

O Estalo da Palavra (XXXVIII)


POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras
(Editora COUSA – 2023)



A PARTE METADE
A parte metade, de todo inteira, (esse canto chão de meu ócio) é a música que visto, meu quarto de despir mentiras. Parte partida, fosca pela sujeira do repisar o pó; fosso cavado para assentar a paz. (metade é medida sem desespero, recanto de passagem, cobertor dos atropelos.) A força entre os dedos estreitados se desfaz em metades asas que seguem o acaso dos rumos de esquecer do tempo. (Metade não enrosca, desata, não recorta, se dissolve na leveza incerta.) A parte metade é derradeira dúvida e certeza primeira do redemoinho. É o nome sem a máscara - este invólucro de estar - que aflora consumindo as manhãs.


A PARTE FINAL, ANTES DA DESPEDIDA
Um caminho que trazia, justo, sem espaço para volta. (Olhar de comer tristezas, o que me diz desta cama errada?) (Restei cru como o linho em meu leito de nascer.) E encontrei um nome comum, daqueles que nos perdoamos por esquecer, e, assim vestido, resolvi caminhar este resto de tarde. (A vida é mais irônica que as palavras.) Qual o encontro, não sei. (Também é justo não contarmos com a medida e sim com a surpresa.)


DESPEDIDA
É na transição que me despeço pois outro em torno passa a ter sentido Não que seja felicidade a sucessão de portas, imagens, e a nova transparência do Mundo Não saber o nome que se diz quando se está surpreso passa a ser a vida (o recorte de cada adeus é essa bruma triste afastada dos olhos) e algo chamado silêncio ficou atado ao último pórtico onde calamos nossas vozes e partimos, mutilados de nosso amor.


À FRENTE
Deixa que o tempo pare para sempre no quadrante do relógio que me deste. Anna Akhmátova
A vida é ir, só te resta como consolo o arrependimento ou a revolta. Encontros, que feliz experiência, que restos, que imagens dispersas nos momentos inquietos, terríveis. Quem sabe as asas soem, a beleza se apresente, imensa, e permaneça, reticente. A vida é ir, e isto não é uma conclusão estúpida. Ao norte de mim mesmo fica a eternidade.


SOMENTE UM PENSAMENTO
Não vou falar o nome das coisas, elas se bastam em sua incompletude Nome e sobrenome do homem, este ser de farpas e paixões O enredo, o embrenhar no azul, é uma busca do eterno no desmedido No ínfimo, substituto da razão, o consolo, o suspiro de alívio Não vou falar o nome das pessoas, elas são muitas e várias em seus tons de voz, de súplicas, de verdades. Na volta, percorremos o caminho da sombra.


“O que vale o que o século faz? A morte logo tudo desfaz E não cuida refazê-lo.” Hélinand de Froidmont “Os Versos da Morte - Século XII"

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