POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras (Editora COUSA – 2023) SONETO PARA A INCERTEZA E se os pés trocados na subida no horizonte viv...

O Estalo da Palavra (XXXVII)

poesia capixaba espirito-santense jorge elias neto

POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras
(Editora COUSA – 2023)



SONETO PARA A INCERTEZA
E se os pés trocados na subida no horizonte vivo da vertigem fosse o rumo certo dessa vida de busca e perda, sem céu, sem origem Na imagem perdida em cada foto no suporte do poste, arrebol das nuvens, em plumas, como um horto de desejos, de enfim um portal no espelho do mar, uma miragem de rumo pra cada hora incerta que disperse do olho as fuligens do sem sentido, sem azul, das perdas, da consciência, a casa da linguagem, que nos faz testemunhas e presas.


NÃO SABERIA DIZER O SEU NOME
Anjos estranhos, esses, que sabem o meu nome, e se enredam nos dias Esse balé, o vulto que insiste, o pergaminho de cinzas repisadas, as dormideiras fóbicas e a delicada voracidade das suas pernas (Qual o papel do Sol sobre a sombra que se ergue por detrás dos muros?) A incandescência da aurora, farsa sublime — estar vivo — e o amor pelas coisas mortas distorcidas imagens, imensas, (as coisas sabem falar o seu nome)


SAUDADE,
esse poro transpirando para dentro da memória, um infinito perdido, que simplesmente fica naquele lugar que pinica, e diz do cheiro dos que me amaram antes que eu pudesse perceber que existe a ausência.


TODA POESIA SERÁ CASTIGADA
Os filhos foram criados sob os pés de Cristo, e eram muitos os desconhecidos e os néscios, e eram muitos os sem abrigo, os de nome talhado na lápide na véspera do destino. E seriam assim mesmo nominados filhos, do cordel do desassossego, mártires pulverizados em algo denominado história. (Regaço e cueiro e o pouco que aquece o destemperado clima da existência.)


ÁGUA
A água dura o tempo de seu gosto, o reflexo oblíquo do Sol que insiste, o pormenor dos cinquenta tempos do Mundo no rasante da libélula É esta água, repasto de surpresas, não a mesma, sempre a mesma, dispersa no azul redondo Água que transborda e cessa, recria e arrasta, carrega o som e derrama o silêncio Água, testemunha que passa e retorna quando já não estamos Água, abençoada chispa transparente que alumia o nome da culpa na testa dos inocentes


A SOMBRA DO ZERO
Para os meninos
O que contorna o início o preenche? E se o vazio diz seu nome, ele resvala ou já é abismo? A luz o desfolha ou não existe um porquê que deslize? Pode haver morno na essência do nada? O dentro e o fora cabem ou se perdem na desesperança? Oh lucidez estúpida, de mãos vazias sobre as têmporas, diz sobre a sombra do zero, imprime alguma palavra que cubra a morte da beleza dos jovens e aqueça os corpos erguidos aos pés de seu túmulo.

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