“Nuvens de cores deslizam por toda a terra de Brij * e no ar. É o Holi!” Cântico tradicional ; CP Sharmass * Ou Braj, da palavra ...

Holi, Festival de Cores

festival holi india
“Nuvens de cores deslizam por toda a terra de Brij* e no ar. É o Holi!”
Cântico tradicional; CP Sharmass
* Ou Braj, da palavra sânscrita Vraja, considerada a terra de Krishna. As principais cidades da região considerada sagrada são: Vrindavan, Mathura, Jalesar, Bharatpur, Agra, Hathras, Dholpur, Aligarh, Etawah, Mainpuri, Etah, Kasganj, Karauli e Firozabad.

No dia 14 deste mês (março), assinalou-se o Holi, também chamado Dhulheti, Dhulandi ou Dhulendi, Dol Jatra, Bôshonto Utshôb, Holaka e Phagwa, de acordo com as numerosas regiões do subcontinente indiano. É o “Festival das Cores”, uma celebração anual hindu comemorada um dia após o surgimento da lua cheia, ao mês hindu de Phalguna ou Falguna (Phalgun Purnima), o décimo segundo mês do calendário Panchanga, e que anuncia o fim do Inverno e a chegada
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C. Phirta
da Primavera, simbolizando o triunfo da luz sobre as trevas.

As tradições de Holi (pronuncia-se hooli) variam por toda a Índia. Acredita-se que existirão sete diferentes tipos de celebrações. A festa tem suas raízes na mitologia indiana. No geral, é dia de muita música, dança, alegria e fogos-de-artifício. Nesse espírito, as pessoas saem à rua, em comunhão, sem distinções de classe social, religião ou etnia, numa só celebração, fazendo com que toda a desigualdade desapareça entre as cores do festival. Uma travessa (thaal) é disposta com uma gama de pós e de água colorida, colocados num pequeno pote de latão (lota) para espalhar tintas multicores por todos. Animados gritos de Bura na mano, Holi hai! (que significa “Não se importe, é o Holi!”) ecoam nas praças e ruas. Até mesmo animais de grande porte (como cavalos e elefantes) são decorados com matizes e com os típicos pós abir (também conhecidos como gulal) de cores amarela, laranja, azul ou o índigo, vermelha, rosa e verde.

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Índia ▪ AcervoA. Rodrigues

Uma explosão de cores conectam a Alma, a Natureza e o Divino, cada uma com o seu significado:

O amarelo, a cor do sol e da felicidade, para sabedoria, inteligência, piedade e saúde;

A cor laranja, na bandeira da Índia, representa a força e a coragem do povo indiano. Os monges hindus usam túnicas laranja e turbantes açafrão luzidio.
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Esta cor representa também o chakra sacral, que é o centro de energia do ‘Eu’. É otimismo, alegria e generosidade;

O azul, semelhante à vastidão aparentemente ilimitada do mar e do céu e à pele de alguns dos deuses e deusas mais poderosos do hinduísmo simboliza o ilimitado e o impossível, intuição, introspecção, calma e clareza são todas representadas pela cor azul na psicologia das cores;

O vermelho para calor, paixão, coragem, espiritualidade, pureza, fertilidade e vitalidade, simbolizando ainda o ciclo da vida - fertilidade, casamento e morte. De acordo com a psicologia das cores, o vermelho simboliza calor, paixão e coragem;

O rosa, de magentas a camafeus, é descrito como “o azul marinho da Índia" devido à sua omnipresença. Evoca o amor, o charme e a beleza;

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A. Singh
O verde que, de acordo com a psicologia das cores, representa paz, serenidade e a natureza, bem como novos começos e novo crescimento, glorificando a força, o equilíbrio e a harmonia.

Como certa vez testemunhou um viajante estrangeiro, “ao tornar-se num arco-íris vivo, você passa a entender que o seu coração é um pote de amor muito mais valioso que ouro”. Tradicionalmente, o Holi era celebrado com cores naturais feitas a partir de ervas medicinais e das flores policromáticas e brilhantes de árvores que floresciam durante a primavera, como a Árvore Coral Indiana (Parijat) e a Chama da Floresta (Palash).

O Holi está profundamente enraizado na cultura indiana. Suas celebrações ajudam a preservar tradições antigas, ao mesmo tempo que promovem a união da sociedade e o fortalecimento do tecido secular do país. As famílias passam histórias e rituais de uma geração para a outra, garantindo que a herança cultural permaneça viva.

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Pxls

O ritual começa na noite anterior. Utilizando-se esterco de vaca (animal considerado sagrado na Índia), são acesas fogueiras (Holika Dahan), que representam o fim de toda a maldade. É a purificação do ambiente. À medida que a madrugada avança, as pessoas reúnem-se ao redor das piras, entoando orações, dançando ao som de dhols (instrumentos de percussão, como tambores de duas faces) e cantando músicas tradicionais de júbilo contidos nas escrituras sagradas, nas quais se encontra a origem desta festa em que Vishnu é reconhecido na primitiva Aryavartha, a Índia, como o Deus Original da Criação.


Há quem se despoje das roupas velhas e as arremesse para a fogueira, como quem se liberta e renova, purificado. Acredita-se que as chamas de Agni (com a mesma origem do latim ignis), o Fogo Sagrado, purificam o ar e afastam os maus espíritos. As cinzas deixadas por essas fogueiras são também consideradas sagradas (Bhumi Hari) e as pessoas aplicam-nas, esfregando-as nas suas faces e testas. É um poderoso momento para famílias e amigos se reunirem, compartilhando histórias e risadas.

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Na manhã desse dia, quando o fogo se extingue, dão-se então início aos festejos. O ar é preenchido com o eflúvio e o aroma de comidas deliciosas e guloseimas variadas que incluem Gujiya (uma massa doce recheada com nozes e frutas secas), Malpua (espécie de panqueca encharcadas em calda de açúcar), Mathri (tipo de biscoito folhado), Dahi badas (bolinhos de lentilhas fritos mergulhados em iogurte cremoso, guarnecidos com especiarias), Puran poli (pão achatado) e Thandai, uma bebida refrescante à base de leite com sabor de especiarias. Além disso, a essência do Holi está na tradição de consumir o Bhang inebriante. Geralmente é consumido com Thandai ou com Pakoras
(prato muito condimentado, com vegetais, cebola, ervas, coentros e especiarias). É mais um momento para se deliciar e aproveitar, criando memórias que duram a vida toda.

Como todos os festivais indianos, o Holi está relacionado com diversos contos míticos antigos, acreditando-se ter existido muitos séculos antes de Cristo. Alguns historiadores acreditam que o Holi seria já celebrado por todos os arianos, com especial incidência na parte oriental da Índia. De acordo com algumas referências encontradas nos Vedas e Puranas, como Narad Purana e Bhavishya Purana, o festival de Holi encontra uma menção no antigo sábio erudito indiano Jaimini, fundador da filosofia hindu Mimansa. Uma inscrição em pedra do período de 300 a.C., encontrada em Ramgarh, na província de Vindhya, menciona uma tradição popular denominada Holikotsav, que o rei de Thanesar, Harsha (606–648), também refere na sua obra Ratnavali, escrita durante o século VII.

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Krishna e Radha celebram o Holi ▪ Gravura S.XVI ▪ Fonte: Wikimedia
O festival de Holi também encontra uma referência nas esculturas das paredes de templos antigos. Um painel do século XVI esculpido num templo em Hampi, capital de Vijayanagar, mostra uma cena feliz de Holi. Uma pintura Mewar, da região do centro-sul do Rajastão e datada de cerca de 1755, mostra um Maharana (título real indiano semelhante a Maharaja) a distribuir presentes aos seus cortesãos, enquanto outros dançam alegremente ao redor de um tanque cheio de água colorida.

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Maharana Raj Singh II, de Mewar, cercado de nobres, celebrando o Holi, o festival das cores. ▪ S.XVIII ▪ Museu Nacional de Delhi ▪ via Wikimedia.
São celebradas várias lendas associadas à mitologia do Holi para inspirar as pessoas a seguirem uma boa conduta nas suas vidas e ajudá-las a acreditarem no poder da verdade. A moral de cada uma das narrativas reflete a vitória do bem sobre o mal. A mais famosa de todas é a lenda associada ao arrogante rei-demónio Hiranyakashyap, que queria que todos no seu reino adorassem somente a ele. Porém, para sua grande angústia, seu filho, Prahlad, tornou-se um devoto seguidor de Naarayana (Vishnu). Hiaranyakashyap ordenou a sua irmã, Holika, que entrasse numa fogueira com Prahlad ao colo. Holika teria uma espécie de capa protetora, a qual a tornaria imune ao fogo. No entanto, ela não sabia que esta bênção funcionava apenas quando ela entrava no fogo sozinha. Quando o fogo começou, Prahlad orou a Vishnu para o manter seguro.
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Holika e Prahlad ▪ GD'Art
Todos ficaram estupefatos ao ver que Holika foi ardendo até à morte, enquanto Prahlad sobreviveu sem uma cicatriz. De acordo com alguns relatos, Vishnu terá ainda posto fim à imortalidade de Hiranyakashyap. Na hora da sua morte, Holika terá implorado por perdão, ao que Vishnu decretou que ela seria recordada todos os anos no Holi, através do acender da fogueira.

Outra lenda envolve Shiva, um dos principais deuses hindus (segundo a doutrina hindu, Shiva é o deus da “destruição e regeneração” e pertence a uma Trindade chamada de Trimûrti, formada ainda por Brahma, o deus da criação, e Vishnu, o deus da preservação). Conhecido por sua natureza meditativa, Shiva passava muitas horas na solidão e em meditação profunda. Madana, ou Kaamadeva, deus hindu do amor erótico, desejo, prazer e beleza (frequentemente retratado ao lado de sua consorte e contraparte feminina, Rati, deusa hindu da volúpia), decidiu testar a sua determinação e apareceu a Shiva sob a forma de uma bela ninfa. Mas Shiva reconheceu Madana e ficou muito contrariado. Num acesso de irritação, terá projetado um raio de fogo através do seu terceiro olho, reduzindo-o a cinzas, o que também é considerado como explicação base para a fogueira do Holi. Existem outras lendas, todas elas, no geral, retratando a vitória do bem sobre o mal, emprestando uma filosofia mítica ao festival.

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Indianos comemoram o Holi.N. Lakhmani
Por fim, a lenda mais popular, retirada do Bhagavad-Gïta, texto religioso hindu escrito em sânscrito, conta a história de amor entre Krishna (uma encarnação de Vishnu) e a vendedora de leite Radha. Segundo a crença, Krishna amaria Radha, mas sentia-se triste pela diferença das suas cores de pele. Então, seguindo o conselho de sua mãe, Yashoda, Krishna terá pintado o rosto de maneira colorida para ficar da mesma cor que a sua amada, de modo a que pudessem celebrar juntos o seu amor sem quaisquer julgamentos.

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Krishna e Radha ▪ GD'Art
Para além da importância do seu significado cultural, o Holi, com as suas cores vibrantes e celebrações alegres, sustenta uma profunda simbologia espiritual (renovação, recomeço, igualdade, purificação e perdão) e lembra-nos do poder do amor, da união e do triunfo eterno do bem sobre o mal. É um festival que une as pessoas, quebrando barreiras e construindo relações sociais.

Holee kee shubhakaamanaen! Happy Holi to everyone! Tenha um feliz e colorido Holi!
UM CERTO ORIENTE
um certo oriente
O autor convida os leitores a acompanhar seu programa semanal Um Certo Oriente, com músicas e temas orientais, transmitido nas seguintes emissoras e horários (de Portugal), via internet: Segunda-feira 15h—16h Rádio Portimão 106.5 FM 19h—20h Rádio Alta Tensão 20h—21h Rádio Azores High (21h—22h em Portugal Continental) Terça-feira 22h—23h Rádio Metropolitana Porto Quarta-feira 03h—04h Rádio Castrense 93.0 FM 21h—22h Rádio Via Aberta 22h—23h Rádio Marmeleira Quinta-feira 09h—10h KajiFM (10h—11h em Angola) 11h—12h Rádio Alcobaça 23h—24h Rádio Cantinho da Madeira Sexta-feira 01h—02h Rádio Tejo 102.9 FM 19h—20h Rádio Paixão FM 20h—21h Rádio Tejo 102.9 FM 23h—24h Rádio Onda Certa Sábado 03h—04h Rádio Castrense 93.0 FM 08h—09h Rádio Surpresa 10h—11h Rádio Nova Oeste 15h—16h Rádio Antena Mais (16h—17h em Luxemburgo) 18h—19h Antena Web (Canal 1) 20h—21h Rádio Portimão 106.5 FM 21h—22h Rádio Horizonte Atlântico 21h—22h Rádio Clube Penafiel 91.8 FM Domingo 03h—04h Rádio Via Aberta 08h—09h RCP FM 92.6 FM 10h—11h Rádio Coração do Alentejo 13h—14h Rádio 100Margens 19h—20h Rádio Dueça 94.5 FM 20h—21h Rádio Voz Online na Cossoul 21h—22h Canal Viana 21h—22h Rádio Marmeleira
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