O "grito dos invisíveis" é uma expressão que remete à obra do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940–2015), especialmente em relação ao seu compromisso com a memória da dignidade coletiva e a luta contra as injustiças sociais, assim como o embrutecimento das políticas de Estado e governo. A expressão dá voz àqueles que foram historicamente silenciados — os rejeitados, os abandonados, os desaparecidos — e denuncia o desprezo sistemático que muitas dessas vozes enfrentam nas narrativas dominantes de ódio e exclusão. Essa dor social é abordada com profundidade em seus livros As Veias Abertas da América Latina (1971), Memória do Fogo (trilogia publicada entre 1982 e 1986) e O Caçador de Histórias (2016).
Eduardo Galeano Micah Farfour
O conceito de “invisíveis” em Galeano aplica-se a diversas camadas sociais e históricas da América Latina, entre as quais se destacam os povos indígenas, os empobrecidos, as vítimas de ditaduras, da opressão colonial e de um sistema econômico global que favorece uma minoria elitista, enquanto empobrece e marginaliza as grandes massas populares. O pensador usa o senso crítico e os seus livros para tornar visíveis essas pessoas e suas histórias, muitas vezes esquecidas ou distorcidas, desumanizadas e marginalizadas pelos abusos do poder político.
Já em As Veias Abertas da América Latina, o autor critica as intervenções imperialistas, particularmente dos Estados Unidos (EUA), que impuseram ditaduras militares e derrubaram governos democráticos na América Latina para proteger seus interesses econômicos. Nessa violência, os "invisíveis" são os milhares de pessoas que foram desaparecidas, torturadas e assassinadas por essas ditaduras. Galeano dá voz a essas vítimas e denuncia o silêncio imposto às suas memórias, muitas vezes manipuladas ou esquecidas. O Caçador de Histórias aborda temas como a opressão, a resistência, a injustiça social, revelando as complexas relações entre as vítimas da história e os mecanismos de poder que as oprimem.
Roman Siemia
O "grito" dos invisíveis, em Galeano, não se limita a uma denúncia passiva do que foi perdido ou silenciado, mas também é um ato de resistência. Por meio de sua escrita, Galeano busca ressignificar a história e dar voz àqueles que foram silenciados. O "grito" é uma afirmação de existência, um chamado para a memória e o reconhecimento, bem como um desafio ao poder estabelecido para que se volte e ouça as histórias das vítimas da opressão. Esse protesto pode ser compreendido como uma exigência de justiça social e histórica, mas também como uma tentativa de preservar a sobrevivência dos invisíveis. Ao dar visibilidade a essas pessoas, Galeano ajuda a reconstruir a memória coletiva de povos frequentemente apagados da história oficial.
Yamanas (Terra do Fogo) William Singer Barclay