Já contei uma infinidade de vezes que passei quase todo o mês de maio de 1989 pintando "a Ceia", no Sindicato dos Bancários...

Gênios eternos

genialidade ceia da vinci
Já contei uma infinidade de vezes que passei quase todo o mês de maio de 1989 pintando "a Ceia", no Sindicato dos Bancários, onde encerrava minha carreira de bancário, depois de muitos anos sem pegar num pincel, movido — naquele momento — pela associação que fizera, lanchando no então restaurante da entidade, olhando a parede vazia que havia à minha frente e "vendo" a imagem de Leonardo pintando sua versão na parede do refeitório dos monges da igreja de Santa Maria delle Grazie, Milão, o que me remeteu à História da Filosofia Ocidental, do Bertrand Russell, que eu estava lendo na época, onde se comparava Marx com Jesus, os grandes líderes marxistas aos discípulos, ideia.

genialidade ceia da vinci
A Ceia WJ Solha
Bem.

Hobsbawm, em "A Era dos Extremos" diz que a última obra literária de consenso universal foi "Cem Anos de Solidão", de 1967, e que não houve, mais, nenhum artista plástico que alcançasse o prestígio de Picasso. Giulio Carlo Argan, em "Arte Moderna" — diz que “a arte teve um princípio e pode ter um fim histórico. Tal como as mitologias pagãs, a alquimia, o feudalismo e o artesanato são finitos, a arte pode acabar."

genialidade ceia da vinci
genialidade ceia da vinci
genialidade ceia da vinci
Eric Hobsbawn / Gabriel García Márquez / Giulio Carlo Argan Britânica
Daí que, embora gostasse e goste do cubismo, abstracionismo e de todos os seus derivados, nunca me interessei em ser cubista ou artista abstrato. Gosto da figura humana. A indiferença por ela, no mundo todo, foi uma das razões de eu ter deixado o curso de pintura e me matriculasse, aos 19 anos, no de contabilidade, pois precisava me profissionalizar — daí Banco do Brasil aos 21, etc, etc.

E lá estava eu, no ano anterior ao de minha aposentadoria, pintando "A Ceia", tela de 3 metros e 60cm de largura, com Marx no lugar de Cristo, no Sindicato dos Bancários, quando um cara – não me lembro quem, me parabenizou pelo tema e pela execução.

genialidade ceia da vinci
Edward Hopper
— Infelizmente tudo isso já era – eu disse. E expliquei a razão. No dia seguinte o cara chegou com um exemplar do Estadão ou da Folha de São Paulo, com manchete informando que uma fila de dobrar quarteirão se formara para ver a mostra de Edward Hopper, “figurativo como você”, no MOMA — Museu de Arte Moderna de Nova York. Chequei isso, agora, no Google: a mostra foi de seis de abril a oito de agosto de 89. A data que está em minha tela é maio daquele ano.

— Maravilha — admiti. Mas Hopper morreu há uns vinte anos.

— Sim, mas emplacou no tempo dele, apesar do que você diz. E o Lucian Freud está aí, com tudo.

genialidade ceia da vinci
Lucian Freud
O neto do Pai da Psicanálise morreria em 2011.

Ou seja: Edward Hopper e Lucian Freud acreditaram no que faziam.

Ponto.

E ponto para Bach e Rembrandt, tidos como superados, em seu tempo, hoje reverenciados como gênios eternos.


COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também