Depois de um cansado dia de pesquisa, subindo e descendo serra, deu seis da tarde de um sábado e o que eu mais desejava era tomar um banho, comer um bom prato de cuscuz com leite e ovo de capoeira, saboreando um quente e forte café e dormir naqueles aposentos para no outro dia poder continuar as prospecções bem inteiro e descansado, até que, de calção, sem camisa, conferindo as fotografias do dia ouço uma voz:
– Thomas, Thomas, podes vir aqui na sala?
Era a voz do velho Professor Rosa. Saudoso Paulo Rosa.
– Nos chamaram ali para um forró, vamos?
GD'Art
Nos solavancos de um Toyotão ampliado, acredito que feito na região de Santa Cruz do Capibaribe-PE, andei na faixa de uns quinze quilômetros sob o céu do meu Mundo-Sertão. Pela janela, olhava o horizonte, a cada metro que andávamos, sentia aquele cheiro gostoso de mato, marmeleiros e juremas que enfeitavam os aceiros das
GD'Art
E finalmente chegamos à festa.
Vou tentar narrar para vocês: Um terreiro plano, onde funcionou uma antiga sede de fazenda, se bem me recordo, o nome é Caiçara, deu logo a ideia de que ali próximo tinha um riacho, mesmo que temporário. Nos arredores, três fios de gambiarra, bicos de luz amarelas, charmosas e um som vindo lá de dentro da casa, era um forró, como dizemos no Cariri, comendo no centro. Desci da Toyota, pisei no terreiro alumiado, observei o ambiente tão singelo e adentrei. Estava curioso a saber como era aquela festa em um cômodo de casa. Subi três degraus, justamente a altura da sapata da casa, e me surpreendi com o que vi. Primeiro que a casa não possuía paredes internas, ou melhor, a irregularidade do piso e dos mosaicos denunciavam antigos cômodos que não mais existiam. Também não tinha telhado, nem o madeiramento existia. Lá dentro, no equivalente do fogão à lenha da cozinha, um sanfoneiro de sorriso frouxo abria o fole da sanfona como a balançar uma saia de chita em uma mulher. Cantava solto feito cigarro em boca de bêbado. O “triangueiro” era um fungado da mulesta, já o zabumbeiro parecia aquele inspetor de quarteirão, com um farto bigode e aparência sisuda, nem parecia estar gostando da festança.
GD'Art
– Aqui dentro só se dança! Quer beber? É lá no lado de fora.
Já tinha dançado umas cinco músicas com uma morena dos cabelos negros e compridos, ela me olhava de baixo para cima, encabulada que era. Seu sorriso era lindo, dava um contorno sem igual ao seu rosto por onde o vento deixava o cabelo balançar como uma cortina ou véu, escondendo o que queria esconder. Seu cangote cheirava ao fogo do ferro que passou seu vestido de chita. Cheiro amatutado, uma riqueza!
GD'Art