A concorrência nos obrigava a entrar pela noite até o fechamento da última página, a primeira. Mas não enfadava, era um jogo.
Naquela noite, absorvido por qualquer coisa que me pregara ao birô, me surpreendi sozinho, sem nenhum rumor nas salas e gabinetes e sem que Milton Nóbrega ou Agnaldo aparecessem. Sempre fechávamos as portas juntos.
“Algum problema na oficina?”- e saio para ver.
Lá fora, no final da passarela que liga os dois pavilhões, mal iluminada, avisto alguém que tenta se ocultar sentado no pequeno batente de acesso à redação.
GD'Art
“Algum problema que eu não possa saber?” – cheguei-me, indagando e medindo as palavras, tentando me acomodar numa pontinha do batente. Naqueles nossos sete ou oito anos de amizade, desde sua chegada de Campina à redação do Correio da Paraíba, era a primeira vez que o encontrava de ânimo baixo.
Mantive-me ali tentando ouvi-lo até que desabafasse em poucas palavras, quase inaudíveis. E fiquei em silêncio, evitando pitacos inúteis. Não era fácil. Minha experiência no assunto também não o ajudaria. Até que dali nos levantamos e saímos iguais, no mesmo estado de espírito. Era um elo a mais que vinha juntar-se ao da profissão.
Agora, na última segunda-feira, um ano após sua morte, consigo encontrá-lo ao lado dos que aprenderam com ele não apenas a fazer jornal, o que já é muito, mas a respeitar o leitor e o direito de não
Gonzaga Rodrigues e Naná Garcez A União
Para editá-lo, Naná Garcez, esposa e seguidora, ateve-se à coluna mantida por Agnaldo, em A União, entre 2012 e 2018. Seis anos de textos que, na idade em que estou, li da hora em que cheguei em casa até o amanhecer do dia. Revi meu amigo com a vantagem, avaliada ao final, de limitar-me a só ouvir. Está escrito, muito bem diagramado, bom de ler e melhor de aprender, mas era ouvindo que eu lia. Desta vez Agnaldo no meu sofá e não naquele batentezinho remoto.
Lançamento da coletânea Deu no Jornal na Livraria A União (PB)
Naná Garcez com Ana Maria Lins e Samuel Amaral
Ao sair do lançamento, no Espaço Cultural, veio um jovem repórter e me pediu alguma palavra. Emocionado, não lembro bem o que disse, salvo o que sempre me intrigara: onde Agnaldo aprendera tanto, não só das artes e técnicas da escrita como das ideias que sedimentaram sua visão de mundo. Seu irmão, Arlindo Almeida, falava com certa intimidade de alguns filósofos. Agnaldo escondia o leite, preferia ouvir, por mais que seu texto, suas lições, sua conversa denotassem um saber coerente com a leitura de profundidade e bem refletida.
Naná Garcez com Ana Maria Lins e Samuel Amaral