De placas e de legendas

Há vário sítios na internet que oferecem placas que desafiam a lógica ou apresentam erros gráficos que às vezes perturbam a compreensão:

Aberto das 10:00 às 24:45

Promoção: carni com tocim: 3,50 / pissa: 5,00

Verdura cem agrotox

Vende-se caxorros pudos

Água de coco: hidrata e rejuvelhece

Proibido barulho sonoro

Milho verde de diversos sabores

Churrascaria Serve-serve-se

Vendo pequenês com pé de gri

Lã Rause

Vendo um flize (= freezer)

Casa de Shol

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Alguns avisos explicam ou recomendam o óbvio: (1) Este restaurante não estará aberto hoje porque estará fechado. (2) Proibido pisar na parede (certamente o aviso quer dizer que não se deve pôr o pé na parede). Tais avisos também desafiam a lógica: Vendo esta geladeira (o cartaz estava preso a um fogão).

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Há avisos ou frases que desafiam a capacidade de adivinhação. Numa oficina mecânica, na Ilha do Príncipe, há alguns anos, havia uma placa que dizia: “Nutano iao lado.” Tradução ipsis litteris: “não estando, ir ao lado.” Tradução literária: “se eu não estiver aqui, procure-me na loja ao lado.” Num para-choque de caminhão, uma pequena mensagem deu-me tratos à bola, na tentativa de adivinhar o que seu autor queria dizer: “Se bate asa o ceu.” Achei que o dono queria dizer algo referente a bater asas para ir ao céu. A explicação veio depois de muito pensar: “Se bater, azar o seu.”

GD'Art

Há uma bela antologia de legendas de caminhão (LIMA, Jorge da Cunha, ed. Arte do caminhão. Belo Horizonte (?): Glasurit do Brasil, 1981, 122p.), com fotos a preto e branco e a cores, mostrando a poesia, a sabedoria e a criatividade dos caminhoneiros, como:

O orgulho de um homem pobre é o carinho de uma mulher honesta.	p. 66
Quem dorme no volante acorda no céu.	p. 74
Se corcunda desse sorte, camelo não vivia no deserto.	p. 75
O amor é cego, mas o vizinho, não.	p. 80-1
Se bico valesse, tucano era rei.	p. 86
Ser canhoto é fácil, o difícil é ser direito.	p. 84
Bom não é ser importante. O importante é ser bom.	p. 85
Seja dono de sua boca para não ser escravo de suas palavras.	p. 85
Pobre só anda de carro quando vai preso.	p. 86
Dinheiro de pobre parece sabão: quando pega escorrega da mão.	p. 86
Pobre parado é vadio, correndo é ladrão.	p. 88

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Mas existem também muitas frases poéticas, satíricas, irônicas e divertidas que talvez não sejam de caminhoneiros, mas correm à boca pequena sem indicação de autoria:

Ladrão que rouba ladrão vive em Brasília.

As mulheres perdidas são as mais procuradas.

Enquanto não encontro a mulher certa, me divirto com as erradas.

Não roube. O governo detesta concorrência.

Dinheiro não traz felicidade, mas ajuda a sofrer em Paris.

Mulher e fotografia só se revelam no escuro.

Mulher desquitada e cana de engenho só deixam bagaço.

Fracassar é triste. Mais triste é não tentar vencer.

Não sou rei, mas gosto de coroa.

Não sou sutiã, mas sou amigo do peito.

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De todas que vi e li, a que me pareceu mais poética é uma confissão surrealista de amor:

“De tanto pensar em você, senti saudades de mim.”

Se o leitor estiver interessado em ler mais desses aforismos, além dos sítios da internet, indicados acima, há pequenos livros ilustrados, como (1) Ditados e expressões populares & afins (Editora Escala, de São Paulo); (2) Frases de caminhão (Editorial Mafra).

Bom divertimento e boas reflexões.

LIVROS DE AUTORIA DE JOSÉ AUGUSTO CARVALHO

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