Minha existência se estende para além das fronteiras do "eu". Subir os degraus de qualquer monumento a cada manhã me permite ver com clareza, como se o mundo, por um instante, se revelasse sem véus. Seria gratificante compartilhar esse brilho com os olhos alheios.
Tudo está incrivelmente bem, e agora compreendo que a diferença entre ruídos e sons é apenas uma convenção — uma linha tênue traçada pelo hábito. No fundo,
Transcender qualquer convenção é possível quando se imagina que pode fazê-lo. Por isso, compreendo que minha existência vai muito além das limitações do "eu".
Ser é ser percebido — e, assim, conhecer a si mesmo só acontece através dos olhos alheios. Nossa mortalidade não reside apenas na brevidade da vida, mas na permanência das consequências de nossas palavras e ações, que se estendem e se entrelaçam no tempo, perpetuando-se muito além de nós.
Talvez exista um mundo melhor à nossa espera, e talvez nossa ausência nele não dure tanto quanto imaginamos. Nossas vidas não nos pertencem inteiramente — do útero ao túmulo, somos fios entrelaçados na grande tapeçaria da existência. No passado e no futuro, em cada crime e em cada ato de bondade, as esperanças se refazem, renascendo como ecos de tudo o que já fomos e ainda podemos ser.
Se um dia eu encontrasse a criança que fui, olharia em seus olhos com ternura e diria: "Você é mais forte do que imagina, e a vida não vai te quebrar, apenas te moldar.
O que não vale é mentir sem sentido, como descreveu brilhantemente Jean-Jacques Rousseau em seu último livro, *Devaneios do Caminhante Solitário*. Em seu frenesi filosófico, ele escreveu:
"Mentir para vantagem pessoal é impostura, mentir para vantagem de outra pessoa é fraude, mentir para prejudicar é calúnia."
E foi além, diferenciando a mentira que engana da ficção que apenas constrói um novo olhar sobre a realidade:
"Mentir sem proveito ou prejuízo para si ou para outrem não é mentir. É ficção. Não se poderia dizer que alguém mente quando dá dinheiro falso a um homem a quem não deve."
Com tantas possibilidades de mentir, creio que devemos buscar sempre a verdade e aceitar os riscos desse ato, que, no fim, é um bálsamo para nossas almas.
O universo não responde à ansiedade, ao desespero, nem à pressa. Ele se alinha à confiança, ao equilíbrio e à entrega. Quanto mais tentamos forçar o destino, mais ele escapa por entre os dedos. Mas quando aprendemos a caminhar com fé e serenidade, as respostas chegam no tempo certo, sem ruídos ou disfarces.
Quanto menos você força, mais tudo acontece. O fluxo natural da vida não responde a mãos fechadas e passos apressados, mas sim à leveza de quem confia no caminho.
O mundo não lhe deve nada. Ninguém virá entregar respostas ou atalhos prontos. Por isso, assuma a responsabilidade pela sua vida. Suas escolhas constroem seu destino, e seu comprometimento com elas define o que será colhido adiante.