A travessia do jornal ao livro geralmente demora e não são todos os jornalistas que a fazem – ou conseguem. A maioria permanece restrita para sempre aos diários (impressos ou digitais), sem que isso, claro, signifique demérito para os profissionais do batente. Afinal, estão em seu habitat natural e isso lhes basta. Mas um ou outro, geralmente os cronistas, aqueles que transitam entre o jornalismo e a literatura, atravessa a fronteira e se converte em livro, numa forma de alcançar uma perenidade que o jornal, com sua intrínseca vocação para se tornar papel de embrulhar peixe, não consegue ofertar. No caso, ressalte-se, a precariedade é do veículo e não necessariamente do texto nele impresso.
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Agnaldo Almeida / Naná Garcez
Com muitos anos no batente, Agnaldo tornou-se uma referência, um mestre de gerações. Como dirigente de A União, da Secretaria de Estado da Comunicação, da Associação Paraibana de Imprensa e do Sindicato dos Jornalistas, ele esteve dignamente dos dois lados do balcão. E em ambos se saiu bem, granjeando credibilidade e respeito. Soube ser patrão e soube ser empregado, e dessa experiência múltipla construiu sua honrada biografia. Ao lado de outros ícones do jornalismo paraibano, inscreveu seu nome no panteão dos melhores.
Naná Garcez
É uma profissão árdua o jornalismo, até mesmo para os astros e as estrelas do ofício. Nas províncias então, nem se fala. Há a restrição do mercado de trabalho, há a remuneração geralmente aquém do mérito e há a natural instabilidade das profissões liberais, sem garantias sobre o dia de amanhã. Ao escolhê-la a despeito disso tudo, é preciso amá-la, é preciso vê-la como o sentido da vida, como razão de viver. E é por isso que há que respeitar os que voluntariamente a elegem e a exercem com dignidade. Sem jornalismo livre e sério não há democracia e a cidadania resta amputada. Não podemos nunca esquecer esta verdade.
Agnaldo escreveu sobre tudo. Tudo que tenha merecido sua atenção e seu tempo. Seus textos mostram a diversidade de assuntos de sua coluna. Seu olhar abrangia a aldeia, o país e o mundo, tudo podia despertar seu interesse analítico, seu desejo de opinar como jornalista e cidadão. O leitor verá que os artigos continuam atuais, já que as questões e os questionamentos de que tratam permanecem em alguma medida na ordem do dia.
Não sabia que ele era formado em Farmácia e Bioquímica, uma área tão distante do jornalismo. Vejo nisso mais uma razão para admirá-lo, na medida em que teve coragem de seguir a vocação, com todos os sacrifícios que isso provavelmente envolveu. E compreendo-o, já que existem carreiras que são antes de mais nada um sacerdócio, uma total entrega de si mesmo, doação que se faz sem se medir as consequências. O que conforta é saber que ele foi vitorioso. E mais que isso, ouso arriscar: feliz.