Nesse calorão do nosso meio—dia, saí de uma sala fria, gelada, do Tribunal de Justiça, para, sufocado, sentir a falta imediata, no edifício vizinho da OAB, do gabinete do antigo presidente da Associação dos Procuradores, Assis Camelo, onde íamos respirar, anos atrás, o clima conterrâneo de Alagoa Nova. Com o ar refrigerado no mesmo grau, o calor da estima fazia a diferença.
Mas dou com o olhar numa casa de alpendre ao lado, de porta e janelas fechadas e que de repente se alegra, atraente, de jovens rostos, e que rostos, à janela. Era a casa de Lúcia Braga, que ela descreve de um modo, em suas memórias, e o antigo revisor de A União que eu fui via de outro em suas idas e vindas a caminho de casa, em Jaguaribe.
Rua da Palmeira (atual Rodrigues de Aquino) ▪️ J. Pessoa GSView
“Eu já era mocinha de 15 anos e estava com Tereza e as Menezes debruçada numa das janelas da Palmeira, 73, quando três moços vestidos a caráter, com violão e guitarra aos ombros e usando sombreiros tipicamente mexicanos param na calçada e nos cumprimentam, galanteadores:
— Que belas muchachas! Por Diós!
Agradecemos as palavras gentis e indagamos curiosas: “Quem são vocês?”
— Somos artistas, El Trio los Panchos, e vamos hacer uma presentación em la Rádio Tabajara – disseram os três numa só voz. E acrescentaram:
— Poderemos cantar para Usteds?
— Gostaremos muito – respondemos vibrando.
E foi assim que assistimos a Los Panchos numa pré—estréia sui generis.”
Lúcia Braga Câmara dos Deputados (PB)
Quando não era isso, era a guerra. A Tabajara retransmitindo os horrores da Europa que a BBC despejava estalando por entre o filó amarelado do mostrador do rádio. Lúcia e as meninas ouvindo, vendo tudo da escada da rádio, onde sentavam para brincar, esperar os tipos passarem na calçada, como o jovem sempre empertigado Humberto Lucena ou, a algumas milhas dali, fantasmas, Hitler, Churchill, as suas tropas, seus bombardeios e as nuvens negras que a narrativa mesclava de fagulhas e de jorros de fogo.
Prédio da Rádio Tabajara demolido em 1984, no governo Wilson Braga (PB)
Mano Ramalho
Vem o marido, governador, e põe abaixo o castelo que a mulher reconstrói nas memórias, todo um mundo supervalorizado pela saudade e pela fama que o tempo foi deixando sentar, moldar, como um pó benéfico além do tempo.Mano Ramalho
Tempos felizes, diz Lúcia, depois de primeira—dama, deputada, protagonista de uma obra social que é apenas um dos capítulos.