O jornalista Sérgio Botelho é pessoense da gema, nascido na Maternidade Cândida Vargas, esquina de João Machado com Coremas, coração da cidade. Conhece a velha aldeia de 440 anos como poucos, e sua ciência vai além da história, da arquitetura e da paisagem, pois que é feita de incondicional amor à urbe que o viu nascer. Daí o seu projeto de divulgar a sua e a nossa João Pessoa, através dos meios eletrônicos e de livros, o mais recente dos quais foi publicado na quinta-feira passada, dia 20 de fevereiro, em cordial encontro de seus amigos e admiradores no Bistrô 17, próximo à Catedral de Nossa Senhora das Neves, lugar mais do que adequado para o evento. Refiro-me a João Pessoa – Uma Viagem Sentimental, Editora Ideia, 2025.
Alguém poderá achar que o parágrafo acima está muito nostálgico. E está mesmo, reconheço. Mas aqui, asseguro, não se cultiva um saudosismo mórbido, um passadismo incondicional. Longe disso. Não idealizo o que passou, assim como não idealizo o presente nem o que virá. Cada época é o que é, com seu inventário próprio de coisas boas e ruins. Mas a ressurreição do passado pela memória normalmente tem a vantagem de só resgatar, ou quase só resgatar as lembranças mais felizes, dando-nos a impressão
Sérgio Botelho sergiobotelho1950
Alceu Amoroso Lima, indo na contramão dos clichês, afirmava que a infância não era uma época necessariamente feliz. Sim, sem dúvida. E a juventude também, digo eu. Como sabemos os que já passaram por ela, é uma fase difícil, até para os privilegiados. A riqueza e o prestígio dos pais, o amor e a união familiar, a beleza física a garantir sucesso entre os/as colegas, a inteligência acima da média, o carisma que é marca dos líderes e assim por diante. Nada disso, apesar de bom, assegura a felicidade do jovem, pois são muitos os seus anseios frustrados, as suas dúvidas, as suas inseguranças e as suas inquietações. Falo por mim – e por uma multidão.
Entretanto, apraz-me voltar àqueles tempos pela mão seletiva de Sérgio Botelho, em sua viagem sentimental à João Pessoa que passou. Da Festa das Neves na General Osório a vários bares e restaurantes que alcancei ainda no auge, passando pelos carnavais do Astréa, por exemplo, onde, de fato,
Gil Messias e Sérgio Botelho
sergiobotelho1950
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Não pretendeu o autor escrever dissertação de mestrado nem tese de doutorado sobre o assunto. Outros que se ocupem disso. Sérgio Botelho optou pela leveza cronística, quis apenas dividir com os leitores suas amorosas lembranças do velho burgo, tal como as viveu e as recorda, do alto de suas respeitáveis sete décadas de rica existência. Não tenho dúvida de que atingiu – e bem - o seu democrático e estimável intento.