Que se ergam das colinas
Os vulcões
E que varram com seu vômito
As civilizações
Aos seus pés
As colunas de fumo
A ameaça
A dor da devastação
Os gritos e alaridos
Na consumação
Quanto clamor aos deuses
Em busca de salvação
Mas nada dá certo
Nenhum Deus atende
E tudo jaz sob cinzas
Os homens e seus impérios
Torram
Viram pedras
Registros de pó
Como escrita em carbono
Deus agora é castigo
"E não há mais nada
Negro amor"
Pegue sim
Sua esperança e vá dando o fora
Era uma linda comunidade
De formigas
Alojadas num lindo jardim
Para elas somente comida
Para o Deus dono invasão
Foi assim
Que uma mangueira de jardim
Virou sentença de morte
Na mão dos Deuses
Cheios de Deus
Sem saber da dor das formigas
Não tenham medo
Formigas
Nós humanos também
Somos precários
Como vocês
O Velho Cachorro Negro
Voltou a comer na minha casa
Chegou dono e sensível
Pediu comida e. água
Deitou sob minha rede
E não prescindiu de afago
Depois partiu
A porteira estava aberta
Ele é lindo e amável
Olhou pra mim e seus olhos ficaram
Ficaram nos meus
Amantes das madrugadas
Ele não tem nome
Mas é o Rei das esquinas
Mora na noite e no meu coração
Ele sou e na noite
Pois que seja nua a noite
Para nós
Ele Deus das encruzilhadas
E eu encruzilhada e ele
Se me desejares para socorro
Chamas Exu que ama brincar
Esse sou
O que passa e auxilia
Como a luz do sol
Auxilia enxergar
Eu sou Baraô Exu
O quase nunca se revela
Fui longe
Na noite de ontem
Buscar um chapéu de
Massa
Não a Massa de humanos
Das que conhecemos mas
Era um chapéu (preto)
Ele cobria meu pai
Sobre o seu cavalo
E através da lua cheia
De casa eu via um homem
Sobre o seu cavalo
Silhueta através da Lua cheia
E ele se movia como num filme
De faroeste americano
Só lhe faltava uma capa negra
Meu pai Sobre a Lua
E sob ele a cerca de madeira
Sobre a cerca os pés de Pereiro
A lua
O homem dentro da luz
E eu na calçada, entre berduelgas
Flores da tarde
Jardim
Era meu pai voltando do Poço
Em seu Alazão Branco
Sobre a lua cheia
No horizonte do Deserto
E eu, com meus dois longos anos
Ao vê-lo chegar em casa
Lá no Sítio Deserto
Lugar que vivi os primeiros dias
De memórias poucas
Mas ricas...
O que não sei
Alumbra outra mente
E eu em busca
Não quero outra mente
Só o alumbramento
Que lhe urge e serve
Abrir sons
Viagens no tempo
Trocar demências
Quisera eu Djavan
E também faria um disco
Onde cuidaria do pé de milho
Alumbrae
Prata noturna
Lua de carmim
E um jardim
Cheio de praças
Bancos e saudades
Por fim um trem de Tom Waits
"A train Just takes me away from here
But this train can't bring me home!"
De resto a lua
Que flutua no céu dos esquecidos
Só o Mar a vê e ama