Na noite em que o cronista foi para praia, a Lua crescente andava lentamente e havia poucas nuvens no céu. Era possível contar as est...

Olha para o céu, cronista

praia mar lua
Na noite em que o cronista foi para praia, a Lua crescente andava lentamente e havia poucas nuvens no céu. Era possível contar as estrelas. O cronista contou estrelas. Cronista é como poeta, contam estrelas. Admirou a Lua e as nuvens que se distanciavam, e propôs compor poema falando das estrelas e do mar.

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A noite estava nítida, o mar suave. A areia limpa, varrida pelo mar. As estrelas e a lua, as ondas e a música das águas davam um clima de suavidade. Silencioso, escutava o mar falar suas coisas misteriosas. Sentiu vontade de mergulhar, como fazia um casal com os filhos. A água salgada limpa as coisas do dia.

Encontrar os segredos ao mar era o que mais desejava nesta primeira lua cheia do ano. O cronista se afastou do grupo. Caminhando pela areia molhada, lembrava da última vez quando esteve na praia Cabo Branco. Era uma tarde de sol brando. Na oportunidade estava com a Musa, caminhavam. Na ocasião pensava em coisas bonitas, em frase para transcrever as moções que seriam transformadas em poema.

Nesta noite estava sozinho. Poeta nunca está sozinho. Com ele caminham as lembranças. Lembrou dos poemas que escreveu. O poeta é como as ondas do mar que vêm até a areia e retornam. Retornando se encontram, se misturam e se tornam poesia.

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Como o mar que se mistura ao sol com a brisa, nesses momentos quando pisamos a areia fresca, nos deixamos tocar pela água morna da poesia.

Uma canção romântica perto lembrava os tempos quando vagava errante pelas noites em busca de sonhos, os sonhos que se perdem antes da revelação. Como disse o poeta Fernando Pessoa, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Importa conhecer os caminhos dos sonhos.

Na penumbra da noite um casal se abraçava, sem acanhamento, com juras eternas. O cronista, arremedo de poeta, se distancia do casal que se amava. Conta as estrelas. Lembra das noites no sítio onde nasceu, quando ficava no terreiro olhando estrelas.

Não tinha quebrado a inocência, mas a noite era molhada da brisa das madrugadas. Sem a Musa perto, para a encontrar, lembrou de Cecília Meireles: “Sou entre flor e nuvem, estrela e mar”.

Manoel Bandeira socorre o cronista em suas lucubrações:

“Quero ser feliz Nas ondas do mar Quero esquecer tudo Quero descansar”.

Quantas vezes abriu o mar com as mãos para acolher a Musa que vem na imaginação, vendo o sonho naufragar.

Olha um barco ancorado na distância da escuridão, onde ancorou os sonhos. Contava estrelas, contava as ondas do mar. Naquela hora a Musa era o céu e o mar, era a noite, a estrelas e dia. Era o silêncio.

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Desejou não estar sozinho. Lembrou do Soneto da Mulher ao Sol, de Vinicius de Morais. Também lembra de outro mar com seus corais e arvoredos, pois Tabatinga carrega a paisagem onde outrora esteve e encontrou os passos da musa da areia.

Com essas lembranças e os olhares para o movimento da água sobre a areia da praia, o cronista-poeta se refaz para a produção de poemas e de crônicas. Afoga as lembranças tristes para voltar a escrever as frases que descrevem seu amor e o registro do tempo.

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