POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras (Editora COUSA – 2023) O DECLÍNIO DO ÚLTIMO DIA Arde o sol na terra posta sobre o tropel dos c...

O Estalo da Palavra (XXXIII)

poesia capixaba espirito-santense jorge elias neto

POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras
(Editora COUSA – 2023)



O DECLÍNIO DO ÚLTIMO DIA
Arde o sol na terra posta sobre o tropel dos compassivos.
Os restos de ontem combinam com os corpos de outras eras. São os mesmos mortos, as mesmas taças, o mesmo desperdício. A tradição das luvas e das meias, as fendas na carne, as porções de nozes sobre a mesa e as varejeiras, tranquilas, sobre os castiçais.



VAGAROSO
Busque o caminho mais longo, já que as folhas de outono se espalham entre as trincheiras e se vê melhor o sem fim do eterno instante quando se pisa na mansidão da trégua. Busque o caminho mais longo, já que a verdade se arvora nas bocas tortas como beijo que espuma certezas, e o silêncio se disfarça nas sombras tristes. Busque o caminho mais longo, já que a crença ou sua ausência é a vaidade de muitos e a loucura de tantos outros, e o que se chama paz pouco tarda no olhar da inocência.



QUAL A FACE QUE SE DÁ AO TAPA?
Do lado de cá do muro da eternidade, plantam-se lírios e desavenças, e na parede de (h)eras encravadas a certeza da escalada dos justos se perde sob as avencas pensas.



ÚNICO
E se cortasse os pulsos contornando o silêncio? Morreria ou se transformaria em outra ilusão? Materna sombra, degredo dos santos, cama de ossos e assombros, de perdas e segredo à margem que acena para a Alma buliçosa.



PROMETHEUS
“Acho que o mundo veio do liso” de uma menina
O nada se faz plano (ainda não é o tempo do labirinto). O espaço, pleno em sua vastidão, uma promessa à criação divina. Moldou-se o barro, a silhueta, fez-se um rosto inanimado. Ergueu-se a forja dos deuses e da centelha o ardor da fala. E os iguais em selvageria partiram a moldar o infinito.



CORTE PROFUNDO
A carne é de todos nós, mesmo quando cortada e exposta em histórias esquecidas A carne é de todos nós, mesmo que perturbe nossa estada no paraíso A carne é de todos nós, e já é tarde para não reconhecermos nela nossa fisionomia A carne é de todos nós, e mesmo sem cheiro tem memória e um sorriso cínico de cumplicidades.

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