POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras
(Editora COUSA – 2023)
(Editora COUSA – 2023)
O DECLÍNIO DO ÚLTIMO DIA
Arde o sol na terra posta
sobre o tropel dos compassivos.
Os restos de ontem
combinam com os corpos de outras eras.
São os mesmos mortos, as mesmas taças,
o mesmo desperdício.
A tradição das luvas e das meias,
as fendas na carne,
as porções de nozes sobre a mesa
e as varejeiras, tranquilas,
sobre os castiçais.VAGAROSO
Busque o caminho mais longo, já que as folhas de outono se espalham entre as trincheiras e se vê melhor o sem fim do eterno instante quando se pisa na mansidão da trégua. Busque o caminho mais longo, já que a verdade se arvora nas bocas tortas como beijo que espuma certezas, e o silêncio se disfarça nas sombras tristes. Busque o caminho mais longo, já que a crença ou sua ausência é a vaidade de muitos e a loucura de tantos outros, e o que se chama paz pouco tarda no olhar da inocência.
Busque o caminho mais longo, já que as folhas de outono se espalham entre as trincheiras e se vê melhor o sem fim do eterno instante quando se pisa na mansidão da trégua. Busque o caminho mais longo, já que a verdade se arvora nas bocas tortas como beijo que espuma certezas, e o silêncio se disfarça nas sombras tristes. Busque o caminho mais longo, já que a crença ou sua ausência é a vaidade de muitos e a loucura de tantos outros, e o que se chama paz pouco tarda no olhar da inocência.
QUAL A FACE QUE SE DÁ AO TAPA?
Do lado de cá do muro da eternidade, plantam-se lírios e desavenças, e na parede de (h)eras encravadas a certeza da escalada dos justos se perde sob as avencas pensas.
Do lado de cá do muro da eternidade, plantam-se lírios e desavenças, e na parede de (h)eras encravadas a certeza da escalada dos justos se perde sob as avencas pensas.
ÚNICO
E se cortasse os pulsos contornando o silêncio? Morreria ou se transformaria em outra ilusão? Materna sombra, degredo dos santos, cama de ossos e assombros, de perdas e segredo à margem que acena para a Alma buliçosa.
E se cortasse os pulsos contornando o silêncio? Morreria ou se transformaria em outra ilusão? Materna sombra, degredo dos santos, cama de ossos e assombros, de perdas e segredo à margem que acena para a Alma buliçosa.
PROMETHEUS
“Acho que o mundo veio do liso”
de uma menina
O nada se faz plano
(ainda não é o tempo do labirinto).
O espaço, pleno em sua vastidão,
uma promessa à criação divina.
Moldou-se o barro, a silhueta,
fez-se um rosto inanimado.
Ergueu-se a forja dos deuses
e da centelha o ardor da fala.
E os iguais em selvageria
partiram a moldar o infinito.CORTE PROFUNDO
A carne é de todos nós, mesmo quando cortada e exposta em histórias esquecidas A carne é de todos nós, mesmo que perturbe nossa estada no paraíso A carne é de todos nós, e já é tarde para não reconhecermos nela nossa fisionomia A carne é de todos nós, e mesmo sem cheiro tem memória e um sorriso cínico de cumplicidades.
A carne é de todos nós, mesmo quando cortada e exposta em histórias esquecidas A carne é de todos nós, mesmo que perturbe nossa estada no paraíso A carne é de todos nós, e já é tarde para não reconhecermos nela nossa fisionomia A carne é de todos nós, e mesmo sem cheiro tem memória e um sorriso cínico de cumplicidades.