POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras
(Editora COUSA – 2023)
(Editora COUSA – 2023)
A MULHER QUE ME APRESENTOU A VIDA
Não sei se o veneno tinha cheiro de um sonho e a composição da cura passava por despertar um corpo, uma consciência (o mutilado se satisfaz com uma miragem da perfeição) Mas não me vesti com seu desejo, não me coube as cores de seu futuro, vesti-me de mim, esse ser salobro que se interroga a capacidade de amar Tardei no eterno da dúvida Não sei quantas vezes tive que matá-la para perceber meu despreparo com as sílabas de seu nome E nesse pó lançado no espelho congelado do infinito ar, destino, fardo e glória, haverá um ponto onde caberá a sua morte pretérita O que tarda (eu) respira as imagens e elas são flores e o poema deixados em suas mãos cruzadas, para acompanhá-la no luto eterno.
Não sei se o veneno tinha cheiro de um sonho e a composição da cura passava por despertar um corpo, uma consciência (o mutilado se satisfaz com uma miragem da perfeição) Mas não me vesti com seu desejo, não me coube as cores de seu futuro, vesti-me de mim, esse ser salobro que se interroga a capacidade de amar Tardei no eterno da dúvida Não sei quantas vezes tive que matá-la para perceber meu despreparo com as sílabas de seu nome E nesse pó lançado no espelho congelado do infinito ar, destino, fardo e glória, haverá um ponto onde caberá a sua morte pretérita O que tarda (eu) respira as imagens e elas são flores e o poema deixados em suas mãos cruzadas, para acompanhá-la no luto eterno.
A CASA QUE ME RECEBEU DE PÉ
Olhá-la sobre os ombros da primeira mulher Depois do gosto do leite, o pão, o ovo frito na manteiga — a saciedade Cantos escuros, lascas de madeiras e a correria das formigas nos tacos brilhantes E o erguer-se, esse simulacro de liberdade das patas A primeira janela, o canto das Nereidas, e o enigma da luz (Ficou, de fora, a promessa do azul) Casa # Cão de guarda de minha infância com sua porta dizendo : pare, ainda não é tempo de enfrentar a vida.
Olhá-la sobre os ombros da primeira mulher Depois do gosto do leite, o pão, o ovo frito na manteiga — a saciedade Cantos escuros, lascas de madeiras e a correria das formigas nos tacos brilhantes E o erguer-se, esse simulacro de liberdade das patas A primeira janela, o canto das Nereidas, e o enigma da luz (Ficou, de fora, a promessa do azul) Casa # Cão de guarda de minha infância com sua porta dizendo : pare, ainda não é tempo de enfrentar a vida.
PAI
No chão lavrado se faz premente o fruto. Se o em torno repele, formam-se na pele sulcos dilatados donde escorrem incertezas. No vão arado se faz presente o bruto. A lida cobra. Paga-se pelo sonho que se tece, pelo brilho que se derrama. No pião lançado se faz latente o grito. É torpe cada lance que se desgasta. Auroras resgatadas não dão sentido ao farfalhar das sombras. No dom caçado se faz urgente o luto. Muitas coisas resumidas, distorcidas, não cabem no bolso sem fundo, na profundeza do engasgo.
No chão lavrado se faz premente o fruto. Se o em torno repele, formam-se na pele sulcos dilatados donde escorrem incertezas. No vão arado se faz presente o bruto. A lida cobra. Paga-se pelo sonho que se tece, pelo brilho que se derrama. No pião lançado se faz latente o grito. É torpe cada lance que se desgasta. Auroras resgatadas não dão sentido ao farfalhar das sombras. No dom caçado se faz urgente o luto. Muitas coisas resumidas, distorcidas, não cabem no bolso sem fundo, na profundeza do engasgo.
MÃE
Que espanto este corte, a encruzilhada da despedida, onde seu nome virou reminiscência, e a dor, negociada, é outra dor, já não tragédia, mas um acidente previsto, um sussurro de morte, uma saudade e um relance de saber-se amado.
Que espanto este corte, a encruzilhada da despedida, onde seu nome virou reminiscência, e a dor, negociada, é outra dor, já não tragédia, mas um acidente previsto, um sussurro de morte, uma saudade e um relance de saber-se amado.
DE IRMÃO PARA IRMÃO
Meu irmão tinha uma mala de livros um dia ele a abriu na minha frente e partiu para o desmedido entrei na mala e me cobri com as páginas de seus sonhos.
Meu irmão tinha uma mala de livros um dia ele a abriu na minha frente e partiu para o desmedido entrei na mala e me cobri com as páginas de seus sonhos.
O MEU JEITO DE AMAR
Não é prático o meu jeito de amar de holofotes, girândolas e flores, marcas d’água, subterfúgios, olores, beijos, muitos beijos, de te cansar No meu jeito de amar, impaciente, assim direto, buscando seu cheiro, a distância, o tempo, são pesadelo, e a casa, urgência, amor onipresente E amar de um jeito, tanto, desmedido, de suor, impulsos, assim incontido, traz pra perto o beiral do abismo Invasivo? Não sei, é de impulsos, confuso, irreal, mesmo obsceno, mas despertar, não quero, sou sem juízo.
Não é prático o meu jeito de amar de holofotes, girândolas e flores, marcas d’água, subterfúgios, olores, beijos, muitos beijos, de te cansar No meu jeito de amar, impaciente, assim direto, buscando seu cheiro, a distância, o tempo, são pesadelo, e a casa, urgência, amor onipresente E amar de um jeito, tanto, desmedido, de suor, impulsos, assim incontido, traz pra perto o beiral do abismo Invasivo? Não sei, é de impulsos, confuso, irreal, mesmo obsceno, mas despertar, não quero, sou sem juízo.