Moral e Sociedade, publicada em 1973, é uma obra de coautoria do filósofo e escritor francês Roger Garaudy (1913 - 2012), que exemplifica sua abordagem crítica e seu interesse pelas falhas das sociedades contemporâneas, especialmente em questões relacionadas à ética, justiça e solidariedade. O livro aborda temas centrais como a crise moral e a alienação social, a crítica ao materialismo e ao consumismo, a moral como um projeto coletivo, a solidariedade e a responsabilidade, a visão humanista e o papel do cristianismo, bem como uma reflexão crítica sobre a modernidade.
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Garaudy argumenta que a crise moral e a alienação social nas sociedades modernas são resultados de uma forte influência do capitalismo desumano. Ele observa uma crescente desconexão dos indivíduos com seus próprios valores e com a coletividade, levando a uma erosão da moralidade tradicional, que antes orientava o comportamento humano dentro das comunidades. Essa moral foi substituída por uma moral utilitarista e individualista, que prioriza os interesses pessoais em detrimento do bem coletivo.
Sua crítica ao materialismo e ao consumismo se volta contra a sociedade de consumo e a busca incessante por lucro e acúmulo material. Para Garaudy, o sistema capitalista impõe uma visão de mundo que reduz a moral a simples interesses materiais, negligenciando aspectos essenciais da vida humana, como solidariedade, justiça e liberdade. A obsessão por bens materiais distorce a moralidade, que deveria ser orientada para o bem-estar coletivo. Em vez de conceber a moral como algo exclusivamente individual, Garaudy propõe uma visão da moral como um projeto coletivo. A ética social, para ele, deve ser fundamentada em princípios que promovam a justiça social, a equidade e a dignidade humana.
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Na análise do autor, a moralidade não é uma construção isolada, mas uma construção social, que deve integrar o compromisso com a coletividade e os direitos humanos. Um das teses centrais da obra é a ênfase na solidariedade e na responsabilidade. Garaudy defende que a ética não pode ser entendida sem a responsabilidade mútua entre os indivíduos. Para ele, o progresso moral de uma sociedade depende da capacidade de seus membros de se solidarizarem, compartilhando dificuldades e colaborando para a construção de um ambiente mais justo.
Inicialmente influenciado pelo marxismo, Garaudy, em seu artigo no livro Moral e Sociedade, adota uma perspectiva mais humanista, marcada por influências do cristianismo, especialmente no que diz respeito à dignidade da pessoa humana. O pensador vê o cristianismo não apenas como uma religião, mas como uma base moral que pode contribuir para a renovação ética das sociedades. Para ele, essa religião propõe uma convivência em que a pessoa é valorizada, não apenas como um ser individual, mas como parte de um todo, engajada com os outros na busca por uma sociedade mais justa. Garaudy também apresenta uma crítica à modernidade, particularmente no que diz respeito à ideia de progresso. Para ele, o conceito de progresso material e técnico, tão valorizado nas sociedades modernas, não resultou em avanço moral. A humanidade pode ter avançado em ciência e tecnologia, mas não houve uma evolução ética correspondente. A modernidade falhou em integrar a moralidade ao seu processo de desenvolvimento.
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O impacto e a relevância de seu artigo em Moral e Sociedade incitam uma reflexão profunda sobre como o indivíduo pode se situar eticamente em uma sociedade marcada por contradições. A obra convida à reflexão sobre o papel da moral na construção de uma sociedade mais justa e humana. No período entre 1947 e 1991, marcado pela Guerra Fria e pelas tensões entre o bloco socialista e o bloco capitalista, o pensamento de Garaudy propôs uma ética universal que transcendia fronteiras ideológicas e políticas. Ele acreditava que a renovação moral era essencial para superar a fragmentação social e as desigualdades estruturais.
Além disso, sua ênfase na solidariedade e na dignidade humana ressoou em diversos movimentos sociais que buscavam alternativas ao sistema econômico e político dominante e representa uma análise crítica da moralidade na sociedade moderna, abordando a crise ética provocada pelo materialismo, consumismo e alienação social. Garaudy propõe uma moral fundamentada na solidariedade, na justiça social e na dignidade humana, influenciado tanto por sua experiência marxista quanto por sua visão cristã e humanista. Sua obra continua relevante para os debates contemporâneos sobre ética, política e a construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.