Sempre fui afeito à palavra. Desde criança, gostava de refletir acerca de seus significados, questionava sobre o meu desconhecimento acerca do nosso vernáculo, a língua portuguesa. Intui-a, pois, tal qual Clarice Lispector, de que a palavra seria/é a minha quarta dimensão e o “meu domínio sobre o mundo” – pelo menos o meu mundo. Tudo que é linguagem e expressão me fascina. Gosto de ler textos em palavras e textos em pessoas.
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Em 2006, quando estava na 1ª série do Ensino Médio, apresentei alguns poemas ao professor Plínio Dias, professor de Literatura, que me incentivou a continuar a escrever. Essa também será a figura humana que me servirá como referência para eu me tornar docente.
Em 2008, aos 18 anos, apresentei-lhe meu primeiro livro de poemas, “Lembrança Perseverante”, cujo prefácio é de autoria desse docente que tanto acreditou na minha poética. Próximo aos 19 anos, após concluir meus estudos no Instituto Rio Branco (IRB), ingressei na Universidade Federal
Léo Barbosa Acervo do autor
Em 2011, iniciando o 3º período, submeto-me ao processo seletivo para ser bolsista do PIBID – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência –, coordenado pelas professoras Fátima Melo, Graça Carvalho e auxiliado pelo professor Pedro Farias Francelino. Esse programa foi muito importante para que eu pudesse me inserir no contexto de sala de aula e aplicar sequências didáticas e outros produtos desenvolvidos pelo grupo. Por meio deste, atuei durante três anos na Escola Estadual Olivina Olívia em João Pessoa.
Acervo do autor
Em 2013, lanço “Lutos diários” pela editora Patuá, de São Paulo. No segundo semestre de 2014, concluo o curso com a monografia intitulada “O papel dos aspectos lúdicos da poesia infantil na construção do leitor-criança”, em que, movido pelo quanto que a poesia desde cedo foi presente em minha vida, vou abordando – principalmente a partir das figuras de linguagem – esses aspectos que motivam a criança a “brincar” com as palavras e a se encantar por seus jogos de palavras, pelos temas envolvidos, etc. O trabalho foi orientado pela profª Drª Daniela Segabinazi, que sempre foi e é uma professora muito envolvida com o universo da Literatura Infantojuvenil.
Léo Barbosa e Daniela Segabinazi Acervo do autor
Em relação às oportunidades de trabalho em instituições particulares, foram diversas que, por limitações de espaço, não elencarei. Vou me ater, por ora, às expectativas, angústias e reflexões que me acompanharam/me acompanham.
Léo Barbosa Acervo do autor
Não me tornei professor, mas profetizo. Professo minha sede de almejar ser melhor, o desejo de ser útil e trazer um pouco de sol a mundos que por vezes são tão obscuros, para alguns órfãos de pais vivos, para pessoas que necessitam apenas de um olhar mais demorado, sem pressa. Tenho vocação. Sou chamado, mas estou aprendendo como chegar lá. Espero que esta busca pelo caminho harmônico nunca cesse. É a avidez, a ânsia pela novidade que me conduzem.
Não quero ceder à mesmice e me dar por satisfeito. Como disse Paulo Freire: “ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”. (Freire, 1996, p. 90). Alguém pode nutrir uma admiração pelo professor porque vê a categoria como “seres iluminados, dotados de vocação, quase como um sacerdócio”, mas assim não é. Professor é alguém povoado de esperança – isso não há como negar, porque só não enxerga quem não quiser:
Acervo do autor
Ademais, um bom professor não deve alimentar em seus alunos um espírito de competição pautado apenas no argumento de que precisam passar no vestibular. Em tempos de tantas distrações, em que o trabalho intelectual tem menos valor que entretenimento sem nenhum refinamento, creio que um dos maiores, senão o maior papel do professor, é combater a mediocridade. Mediocridade como sinônimo daquilo que se nivela apenas pela média. Por que sermos “mais do mesmo” se podemos ir além? Educar é desenvolver potencialidades. Para tanto, devemos ser exigentes a fim de evitarmos que esse vírus da pequenez se propague por toda a sociedade.
Léo Barbosa Acervo do autor
Muitos alunos permanecem nas escolas com olhares tristes e desesperançosos. Cabe ao professor adotar uma postura de otimismo, acreditando na sua competência para ensinar e na capacidade dos alunos em aprender, para não ser aquele tipo de professor que anuncia fracassos. E que não demonstre frustração para que sua escolha não pareça um fardo, pois assim poderá destruir sonhos. Recordo-me de que, quando eu cursava um período numa turma de inglês em uma escola de idiomas, uma aluna expressou sua vontade de ser professora. A docente, que ministrava a aula, retrucou: “não, não queira, porque você vai sofrer!”. Lamentável. Se estava inconformada com seu ofício, por que não o abandonou?
Léo Barbosa Acervo do autor
Outro desafio enorme na carreira docente é a indisciplina, a desmotivação dos alunos. A maioria ainda não percebeu, ou melhor, sentiu a importância de estudar. E, como disse o professor António Estanqueiro (2010): “ensinar a quem não quer aprender é como lançar sementes em um terreno pedregoso. Não dá frutos”.
O professor precisa sempre reforçar o seu valor como agente de transformação. Mesmo que as informações sejam hoje tão facilmente obtidas, cabe ao professor o papel de ordenar o conhecimento, selecionar aquilo que há de mais importante e, sobretudo, formar seres críticos, formuladores de opiniões,
Um educador é aquele que sabe o momento certo para dizer “sim” e quando precisa dizer “não”. É improvável que o excesso de permissividade faça de alguém uma pessoa madura. Os pais e mães, na correria do dia a dia, estão negligenciando os seus papéis de educadores e, com o intuito de suprir a ausência na vida de seus filhos, perdem a autonomia ao delegar para a escola tarefas que lhes cabem.
O professor Cortella (2014) alerta que “as famílias estão confundindo escolarização com educação. É preciso lembrar que a escolarização é apenas uma parte da educação. Educar é tarefa da família”. A escola informa, a vida forma. Se por acaso a escola cumpre o papel de formadora, é porque não devemos ignorar que a formação cidadã, e a retidão de caráter não deve ser ignorada. Afinal, não raramente, as crianças e adolescentes passam mais tempo na presença dos professores.
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Sofre aquele que acredita que os seus desejos são os seus direitos. Pena aquele que não conhece os seus deveres e não desenvolve responsabilidades e empatia. Como disse o filósofo Rousseau (1995): “A maneira mais certa de deixar seu filho infeliz é acostumá-lo a receber tudo”. Mas, dizer “não” apenas por dizer está longe de ser uma atitude sábia. Respeito é algo que se conquista e não aquilo que se impõe. Precisamos ser categóricos e mais explícitos em nossas ordens, porém abertos ao diálogo.
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A exacerbada proteção os tornará pessoas que acreditam ser princesas e príncipes que não devem descer do trono, pois todos têm obrigação de satisfazê-lo a toda hora. E o pior: estas não são vilãs – são vítimas. Vítimas de uma educação que se pautou pela falta de fronteiras e de frustrações. Quem não suportar o choro da criança estará condenado a sofrer com as birras de adultos mimados.