O motivo são bolinhas de sabão. Muito trivial para o gosto de muitos que se apetecem com artimanhas eletrônicas capazes de levarem seus usuários a inimagináveis paragens aventureiras.
Mas a menina de pouco mais de dez anos soprava seu canudinho de mamão, a água dentro do copo de ágata borbulhando, as insignificantes e frágeis bolinhas alçando ao espaço. Umas explodindo logo, à força do vento ou algum obstáculo, outras subsistindo, se evadindo por entre galhos do sapotizeiro carregado do quintal.
Bing
As bolinhas faziam lembrar tudo o que voava. Aliás, um helicóptero que o menino vizinho havia ganhado do pai, militar da aeronáutica, surgiu a competir com a brincadeira da menina radiante e orgulhosa do seu recreio. Movido a pilha elétrica, o artefato zarpava ruidoso e movido a controle remoto, controlado pelo dono. Não se desfazia como as bolinhas de sabão. Era potente, bonito, com dois bonequinhos fardados no comando.
Luiz T Junior
Quase não conversavam na sala de aula: apenas se olhavam com olhos recolhidos, as faces franzidas, a vontade em se trocarem em palavrões. Disputa boba. No intervalo, ele, orgulhoso, demonstrava sua habilidade em pilotar. Ela ficava, após o lanche, conversando amenidades infantis.
@Rose-Oman
Mal tirava a farda, após o almoço, após cumprir com as obrigações escolares, ela ia brincar com as bolinhas de sabão. Alguns passantes paravam. Geralmente idosos que, na infância, haviam feito tal qual a garota. Recordavam a brincadeira e avós mostravam-na repetida pelo sopro dos lábios da criança aos netos que puxavam pelas mãos. Estes nem ligavam aquela chatice.
A menina continuava, embora asmática, a criar bolinhas inocentes que lhe pairavam sobre a cabeça. O menino do helicóptero aderira aos passatempos eletrônicos movidos a dedo deslizantes sobre telinhas lisas e sensíveis. Nunca mais viera incomodá-la. Não mais lhe dera bolas...