Vi de relance as torres da velha cidade por um novo ângulo. Perdidas do alto, de lado, ainda assim imponentes, a catedral, a igreja, a...

À vista Parahyba

joao pessoa paraiba parahyba centro historico

Vi de relance as torres da velha cidade por um novo ângulo. Perdidas do alto, de lado, ainda assim imponentes, a catedral, a igreja, as paredes erguidas há séculos. Um pedaço de árvore, um naco de poste, telhados disformes e o céu nublado completavam a cena. A desorganização das construções ainda assim em tom poético. Um segundo para olhar e capturar a imagem na retina. Um instante para guardar num clique e na mente o cenário. Mais um segundo para amar a terra, a velha Parahyba.

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Rio Sanhauhá (Paraíba) Emerson Caio Lira (adap)
A cidade transpira história, o ar respira sentidos. Embaixo da urbanidade estão escondidos os trilhos dos bondes, acobertadas a schibatas dos passos dos negros a tortura o ser humano. Ainda mais dentro da terra corre um “rio” canalizado direto para o Sanhauá. Em dias de muita chuva é possível escutá-lo célere, em correnteza. Sua nascente é na Lagoa formada pelo excesso de chuva, seu leito é um túnel deslizante de paredes concretas de onde até já brotou peixe no meio do asfalto.

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Centro Histórico da Capital da Paraíba Leandro Lubritintas/Alan Henrique
Paraíba fotos e fatos antigos
Os meus olhos buscam história e a encontram em capítulos por toda parte. Da fachada em desmoronamento adiado por escoras, em portas e janelas emparedadas, em prédios reanimados por pinturas e fé, pedaços que deixam à vista a velha Parahyba. Afloram pelas ruas os cortejos das festas católicas e dos enamorados, dos funerais famosos rumo ao Boa Sentença, dos bêbados boêmios literatos e operários em retirada pelas vias noturnas.

Velha Parahyba que acena para os rios que se encontram numa curva, mas que também apaixonou-se pelo mar. A cidade criou a Lagoa e tem em outro curso d´água como uma artéria em forma de cicatriz
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Capital paraibana Clóvis Roberto
sofrida pela poluição durante quilômetros do seu nascer, um ser quase natimorto. E ainda assim tem curvas de beleza.

Águas urbanas em poços raros que mataram a sede das bocas dos cidadãos, reidratam a cidade de memórias. Rio de muitos nomes das igrejas, do casario, dos prédios públicos, dos homens e mulheres ilustres ou anônimos, das figuras folclóricas como Bandeira e Caixa D´Água.

A cidade do trem que insiste em partir não mais para muito longe, levando vidas à península de Cabedelo ou rumo aos canaviais santarritenses. Composição musical que cruza desmoronamentos e se equilibra em pontes estranhas. Ou a atracação das canoas no que já foi outro porto, mas sobrou tão somente o Capim e o manguezal.

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Ponte sobre o Rio Sanhauhá Antônio David Diniz
Vi pela abertura da máquina muitas imagens. A cidade murcha nas paredes rachadas, em tetos ameaçadores, em demolições do tempo. Também a vi em desabrochar da tinta fresca, do zelo nas fachadas, de resistentes, como o foram por ali tantos índigenas, negros e um punhado de brancos. A velha Parahyba à vista possui o seu próprio perfume.

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