O tempo hoje é velocidade. É preciso acelerar para entrar no ritmo da vida atual. A mutação constante da linguagem tecnológica me desorienta, será que essas mudanças são sempre necessárias? Elas são cada vez mais rápidas, o presente hoje é um tempo fugaz, tempo-instante, os segundos valem fortunas na bolsa de valores.
Bolsa de Valores de Nova York Justin Guariglia
Vive-se hoje em estado de um upgrade constante. Tecnologias pra tudo. Viver hoje é saber relacionar-se com a máquina. Todo dia o novo substitui o seminovo. Cada vez mais velozes tornam tudo obsoleto. Ao mesmo tempo que a tecnologia é um fator de facilidades, de aproveitamento do tempo, e nos torna independentes, ela também isola. Em casa, na rua, no metrô, no restaurante, no bar, estão todos isolados do mundo ao seu redor, conectados com fones de ouvidos e olhos em telas de seus smartphones. Não é mais o conhecimento de uma língua estrangeira que facilita o contato em países estrangeiros, mas o domínio de aplicativos de celular.
An Weijun
Vivemos um tempo sem tempo de observar o belo. Por que não flanar pelas ruas observando as tardes de lassidão, o vento soprando pétalas de uma nova estação, as amendoeiras vestidas de outono em vários tons de amarelo colorindo a paisagem, com ares de sonho? Ou ver a bruma sobre o oceano se preparando para a noite em vestes de gala? Ou passear pelos mercados e se deixar maravilhar com cores de alcachofras, cerejas, laranjas e sentir o aroma das mangas amadurecendo?
Pedro Rebelo Pereira
Porque é preciso se conectar com a velocidade. Porque o fator econômico exige, é sempre ele que manda e desmanda. Hoje é o usuário que faz quase todo o trabalho via internet para os Bancos. Não à toa eles aumentaram seus lucros, demitiram em massa seus funcionários, fecharam muitas agências. O usuário de posse da tecnologia faz todas as transações. Os gerentes são virtuais. Mas, é preciso pensar que o mercado digitalizado causa um impacto devastador, o humano é preterido, as máquinas tomam seus empregos.
E os aeroportos? Em alguns já não existe pessoal para Check-in. É o próprio viajante que pesa e despacha sua mala, faz o reconhecimento da passagem e do passaporte
El Gringo
em máquinas que leem as informações e os liberam. Minha irmã passou por isso em um aeroporto da Holanda.
Toda essa corrida tecnológica para novos modelos de smartphones, novos aplicativos, novos Windows 10, 11, 12, e 4, 5 G, algoritmo, inteligência artificial me traz um certo desencanto. Não é a tecnologia em si que me parece nociva, é essa avidez de mudar tudo no espaço de tempo cada vez menor. Ambição disfarçada em melhoria, que traz embutida a ganância.
O paradigma da tecnologia que comanda o mundo, me parece caminhar para um horizonte, que distancia cada vez mais o ser humano de sua humanidade.
Foi Marinetti quem endeusou a velocidade. Ele também cultuava a violência e a guerra:
“Nós afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu com a beleza da velocidade. Um carro de corrida com seu capô decorado com grossos tubos parecidos a serpentes de hálito explosivo, um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de Samotrácia.”
Filippo Tommaso Marinetti (Manifesto ao Futurismo) CC0
Penso na mulher alada no alto da escadaria “Daru” do Louvre que veio da Grécia antiga, berço da civilização ocidental, ela representa a vitória grega sobre os persas, embaixadora da arte e da cultura. Ela não só venceu os persas, ela venceu o tempo, ela permanece: nunca esteve tão bela e tão viva. Ela é a VITÓRIA DE SAMOTRÁCIA.