Maria Teresa Horta , escritora portuguesa, faleceu há poucos dias deixando o mundo literário, feminista, das mulheres, mais pobre. M...

A última carta de Maria Teresa Horta

maria teresa horta

Maria Teresa Horta, escritora portuguesa, faleceu há poucos dias deixando o mundo literário, feminista, das mulheres, mais pobre. Maria Teresa de Mascarenhas Horta Barros, escritora, jornalista, ativista e poetisa portuguesa. Foi uma das autoras do livro Novas Cartas Portuguesas, pelo qual foi processada e julgada em 1972, ao lado de Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa. Mas a sua obra é extensa, entre ficção e poesia.

Maria Teresa Horta
Acervo pessoal
Conheci Maria Teresa Horta em Natal, por ocasião de um dos Seminários Mulher e Literatura, que já nem lembro da data. Mas acho que pelo início dos anos 2000. Ela fez a conferência de encerramento, sobre poesia, e eu fiquei paralisada, ou melhor, anotando tudo que podia, daquela mulher, aparentemente franzina e frágil, mas de palavras suaves, certas, poéticas e completas. Após o evento, me aproximei para elogiar e pedir que nos enviasse a palestra por e-mail, tamanha a riqueza daquele dia. Ela, muito receptiva, conversou e trocamos algumas figurinhas. Mas a sua palestra nunca me chegou às mãos, mas não botei reparo. Imagino que naqueles tempos, a comunicação não era instantânea e tudo se perdia no vento.

Mas eu tomei gosto de procurar seus livros a cada vez que fazia uma parada em Lisboa. E são eles, de poesia: As palavras do Corpo - Antologia de poesia erótica (Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2012); Poesis (Dom Quixote: Lisboa, 2017); Paixão (D. Quixote, Lisboa, 2021), e o romance Ambas as mãos sobre o Corpo (D. Quixote, Lisboa, 2014).

maria teresa horta
maria teresa horta
maria teresa horta
maria teresa horta

Transcrevo aqui alguns poemas para registrar a despedida dessa que foi uma das mais destacadas feministas portuguesas:
 
 
Memória
Retenho com os meus Dentes A tua boca entreaberta E as palmas das mãos Dormentes Resvalam brandas e certas As tuas mãos no meu peito E ao longo Das minhas pernas


O Meu Desejo
Afaga devagar as minhas Pernas Entreabre devagar os meus Joelhos Morde devagar o que é Negado Bebe devagar o meu Desejo


Pena
As tempestades da alma Iluminam o poema Com as farpas da minha pena


Descrente
Sou uma descrente ensombrada que acredita somente na invenção da palavra poética e sol poente Só da poesia sou crente



Esta é a minha epopeia feita de poesia perdimentos e palavras sem deuses sem trabalho sem heróis nem lágrimas sem o bronze das armas Poema a poema a poema paixão após fulgor após beleza na sua dimensão mais ávida

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  1. O mundo se empobrece quando morre um/uma poeta. Parabéns, Ana. Francisco Gil Messias.

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