Olhando a folhinha de 1975, observo que a data cinco de fevereiro é emblemática e sempre presente no calendário da vida. Nessa data aconteceu minha estreia como cronista, e eu senti a incontida alegria de ver meu nome impresso em jornal, com o texto distribuído em duas colunas.
Quando foi ele publicado, o jovem de dezenove anos era identificado pelos trejeitos de agricultor alimentado pelas lembranças da infância, com algumas leituras apontando
Gabriel Jimenez
Nessa crônica de saudades, a primeira de muitas publicadas, buscava o mundo perdido na paisagem da infância, o mundo interior, a vida excitante nas brugueias de Serraria, no silencioso sítio. No texto fazia o registro da memória para nunca esquecer das lembranças ou se tornasse fugaz como a sombra de uma nuvem.
Por isso estou sempre lembrando desse dia memorável em que a minha crônica foi publicada. A partir de então, escrever passou a ser meu lenitivo e alimento nos momentos de solidão e espera. Escrever exige recolhimento e paciência, perseverança, leitura e convivência com pessoas repletas de saberes.
Se o mundo universitário passou ao largo, os livros remanejaram até mim esse mundo do conhecimento.
Como não lembrar da tarde quando, atônito, entrei na redação do jornal O Norte, com o texto na mão e uma solicitação de Nathanael
Teócrito Leal A União
Jamais esquecerei o dia quando, pela manhã, olhava meu texto publicado. Era um dia claro desde o amanhecer, possibilitando descortinar horizontes capazes de amenizar a saudade da terra distante, a partir daquele momento apontando a conexão com o meu viver. A literatura marcada pelas insinuações do cotidiano, da casa em Tapuio à margem das verdejantes paisagens do Brejo, tudo transformado em metáforas. Serraria é meu oratório poético, musa a iluminar as criações literárias, a produção de crônicas e poemas.
A partir daquele cinco de fevereiro, passei a conviver com a ventura de cultivar sentimentos e de fazer valer as lembranças do meu passado, a excelsa luz a me acompanhar em sete décadas de vida.
Lisa Fotios
Descubro-me em cada livro lido, nos textos que brotam livres e nos escritos adormecidos em cadernos de anotações. Livros e textos livram-me das tentações da angústia para avançar o olhar que transforma saudade em poesia, neblina em refresco e a terra árida do coração em lugar fértil.
Tecendo a vida com os que me rodeiam, a família recolhida no tempo, junto à crônica, à poesia e às leituras que são motivação para transformar em textos, após ajuntadas as experiências que permitem viver com pequenas ambições.
A literatura abriu a janela para eu obter a visão do mundo, dos livros saindo luzes para emoldurar a presença na casa do saber e da arte. Acolhi esse gesto supremo da imortalidade como merecimento ofertado pela crônica e pela poesia, sem nunca querer ser dogmático nos ritos pessoais, mas apenas desejando a convivência literária duradoura.
Sem que os meneios de agricultor, alimentado pela brisa dos canaviais de Serraria, desapareçam, desde então a crônica anda comigo, a poesia passeia perto, e a ficção romanceada arrodeia, caçando uma brecha para entrar. Sempre com projetos afetivos, recheados de sonhos e alimentados pelas palavras, escrevo para me descobrir. E assim a vida continua.