A violência contra as mulheres é um tema que me destrói. E todos os dias sou contaminada por ele. Seja pelas notícias da TV seja ao meu redor. Todos os dias, o dia todo.
Maria (nome fictício) é uma jovem nos seus vinte anos. Entrou para igreja evangélica onde fazia catecismo, cantava, e vendia doces. Encontrou José, um rapaz alto e aparentemente normal, só aparentemente. Namoraram e o desejo sexual tinindo, normal, mas, as amarras da opressão sexual latejavam em Maria. Mas José com os hormônios em dia, forçava a barra e finalmente transaram. Maria se viu acuada e
Alexander Krivitskiy
Passou um tempo. Pouco tempo. Maria arrumou outro namorado. Parecia gentil. E começaram o namoro. Com dois meses Maria ficou grávida. Todos pareciam felizes. Um bebê! Até parece uma salvação. Uma saída falsa, para quem vive na tragédia cotidiana das famílias pobres deste país. Com mais dois meses, Maria acabou o namoro. O namorado novo, Jonas, ficou querendo controlar Maria. Fazendo exigências bobas. Clonou o seu celular. Mais um tempo, Maria com a barriga a crescer, se viu fragilizada e assediada pelo namorado que quis voltar. Voltaram. Ela a frequentar a sua casa, mora com a mãe, a fazer planos, trabalhar, até que chegou dezembro, tempos de festas de confraternização.
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Pois Jonas também não gostou dessa ideia. Maria numa festa só dela. E que festa era essa? Um café, um bolo, uns abraços, amigo secreto, mas, mesmo assim, ele queria ir. Quem já se viu? A sua mãe também não achava correto uma mulher grávida, ir para uma confraternização sem o namorado. Mas Maria bateu o pé e disse que ele não fora convidado. Aliás, ninguém de fora iria.
Jonas tomou uma cachaça, ficou bêbado, se drogou, não sabemos bem com o quê. E foi lá no serviço de Maria. Aprontou, puxou-a pelos cabelos. Bateu. Ameaçou. E o pessoal chamou a polícia, que demorou a chegar. A mãe de Maria foi também chamada para socorrer Maria que, em choque, chorava. Jonas esbravejava. Afrontou a sogra. Bradou que era faccionado. Que mataria. Que todos iriam ver.
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Lembrei-lhe do avião – primeiro respire para poder ajudar o vizinho a não se afogar. Ou a se danar. Quando a ressaca de Jonas passar. Que ele já tiver vomitado, dormido, acordado, com certeza virá de mansinho, mansinho, tocando um pianinho, pedir desculpas, dizer que estava bêbado, que ama Maria, que quer o filhinho, ou filhinha (terá nome de rainha), e que pretende mudar. Maria, fragilizada que deve estar, com medo e assustada até com a própria sombra, ficará mexida, como tantas mulheres violentadas e maltratadas, terá pena, terá a ilusão de que com ela sim, ele vai mudar. Que a sua bebê precisa de um pai. Sim! Ele vai mudar. Foi só um estresse pela bebida. Dará certo. Afinal, que outro caminho terei? Minha menina nasce já e precisamos de um lar. De uma família. De um pai. Sim, vou retirar minha queixa. Sim, vou em frente. Sim, tudo vai dar certo.
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E o ciclo continua. Se continuar, pois com a vida em perigo, nem sabemos, ou sabemos, onde tudo isso vai dar.
Que triste é a vida das mulheres. Das meninas brasileiras!