Encostei os pés na água do mar. Deixei que a espuma encontrasse os meus dedos, entrasse por entre eles, subisse até os calcanhares, acariciasse as raízes do corpo. A leve onda foi e regressou num passeio sobre a terra onde repousa a imensidão do oceano. Os olhos fechados estavam ali e, ao mesmo tempo, corriam alhures. Eu sentia a paz molhar a vida.
Longe, mar e céu se encontravam. Os olhos fechados me fizeram voar para fora do limitado corpo. A sensação era de extensão do mundo físico, um mergulho do espírito no oceano, que chegou em ondas que seguidamente beliscavam com pequenos os pés cada vez mais plantados na areia molhada. Pés que afundaram com o massagear da pele.
Kellie Churchman
Mar e céu e vento num carrossel de instantes sobrepostos e próximos ao exato momento de agora e de outros tempos.
Pisar o mar sem machucar as águas ou a si mesmo era reverenciar sagradas formas de acreditar, sem insultar a nenhuma delas. Era aproximar, acolher, abraçar a água salgada que quebra como uma montanha que se partiu para se aproximar do frágil corpo postado diante de si. E chegou próximo até beijar dedos, pés, corpo, devagar.
Jonathan Borba
Ali, diante do imenso mar, com os pés tocando os grãos da areia e a água salgada e o vento viajante, era experimentar sensações físicas e emotivas. Era somar tudo aos últimos raios solares do dia com a chegada de astros espalhados pelo infinito espaço, um outro mar, cheio de vazios pontilhados de seres poucos conhecidos.
Com os pés, dava para perceber que o mar era sério e divertido ao amar. Frio em alguns instantes, risonho com suas cócegas em outros tantos, indiferente quando se afastava e demorava a retornar. O mundo de água e sal, ali diante, era a certeza do equilíbrio da existência, das perfeições em aparentes desníveis, do movimento das vagas, por vezes em fúria mais ao longe.
bdabney