Folheamos, dia após dia, as páginas que a vida escreve com as tintas dos dias, num livro sem capa e sem fim, cujas linhas são traçadas pelas escolhas, atitudes, silêncios, encontros e despedidas pelos caminhos que escolhemos trilhar.
Cada amanhecer nos entrega uma página em branco, diante da qual somos convidados a preencher com o discernimento que nos for possível, numa sucessão de eventos que vai definindo, pouco a pouco, uma obra única que nos pertence e, também, transcende.
Para não tropeçar nas entrelinhas e nem se perder, depois, buscando encontrar sentido em palavras apagadas ou confusas, é preciso ter muito cuidado.
O que descrevemos através da existência se entrelaça com as narrativas de outras pessoas, em histórias costuradas pelo fio do tempo. A liberdade nos permite grafar novas palavras, frases ou páginas com o conteúdo que quisermos, pois, como disse Paulo: “tudo me é lícito”. Porém, como também avisa o apóstolo, logo a seguir, “nem tudo me convém”. Abusos se transformarão em remorsos. Ao proceder de modo irrefletido, sem pensar nas consequências, erra-se, como o autor que rasura ou se perde no enredo e tem de recomeçar do zero.
O escritor de sua própria história deve agir com responsabilidade em relação ao protagonista, que é ele mesmo; sem esquecer que suas ações sobre os outros personagens sempre retornarão sobre o ator principal, inevitavelmente.
Tanto a preparação quanto a leitura do nosso livro se expandem quando aceitamos nos conduzir do modo mais consciente e consequente possível.
Certamente haverá capítulos difíceis de serem percorridos, parágrafos que rasgam o coração, em páginas marcadas por lágrimas, que são caracteres bem mais contundentes do que as palavras no testemunho da dor. Por vezes, folhas que manejamos com suavidade são maltratadas e arrancadas pelo forte vento do destino, sem piedade ou delicadeza.
O que já foi escrito e publicado, não pode mais ser mudado, mas novos e melhores capítulos podem ser redigidos. O remorso autoral não serve como borracha, e sim como lição. A tragédia pode ser substituída pela poesia, ou pelo romance, num novo enredo repleto de esperança.
Ao percorrermos com diligência as páginas dos dias que se sucedem, devemos aprender a valorizar aquilo que é eterno, em desfavor das preocupações, dos apegos materiais, das convenções e das conveniências sociais que nada significam diante do que realmente importa, vale e permanece.
Compreende bem as lições do livro que o cotidiano apresenta aquele que persevera, apesar de suas quedas e fracassos, e procura recomeçar incessantemente. Entende-o bem quem não carrega muito nas tintas, aproveitando-se dos sentimentos dos outros, ao abusar do poder passageiro propiciado pela beleza, força física ou dinheiro.
A vida é uma escrita e uma leitura que todos temos de aprender a realizar e decifrar dia após dia, num exercício de serenidade e persistência rumo a novas aventuras que nos esperam, tão logo estejamos aptos.
Deus, o Autor Maior, é Quem Escreverá a conclusão da nossa história, num roteiro em que cada novo episódio é moldado por nossas respostas ao Seu chamado.