E ressurge a MAGA. Desse jeito mesmo, em caixa alta, posto que não estou a falar da versão feminina do mago. Trato, isto sim, da sigla na moda. Refiro-me às iniciais de “Make America Great Again”, o slogan mais forte do homem. Tornar a América grande de novo à custa do quê? Pois bem, da imposição de tarifas e tributação aos países estrangeiros para enriquecimento
dos Estados Unidos, assim dito e ouvido no mundo inteiro.
O homem então avisava, em seu discurso de posse, que ele e os seus disporão, com isso, de enormes quantidades de dinheiro provenientes de fontes estrangeiras. Também, da expansão do território nacional e do consequente transporte da bandeira dos EUA “para novos e belos horizontes”.
Via YouTube, ouvi Pepe Escobar, um dos mais abalizados analistas da geopolítica estabelecido no circuito Europa/Ásia com fontes privilegiadas e, por conta disso, com artigos buscados por jornais e revistas de todo o mundo. Espantosamente, ele entende que muitos no Canadá e na Groenlândia aplaudiriam as anexações anunciadas no pronunciamento oficial feito do Capitólio.
Queixosos por completo, mesmo, ficariam o Panamá (sem seu Canal) e o México (sem seu Golfo). E, então, me volta à memória a amargurada expressão do presidente Porfirio Diaz, coisa dita lá na primeira década do Século 20: “Pobre México. Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”. Isso, ali, virou dito popular de uso corriqueiro.
Relembro, também, o artigo do premiadíssimo Michael Moore quando da campanha que levaria o homem, pela primeira vez, à Presidência dos EUA, ao cabo da disputa com a mulher de Bill. O texto, meses antes da contagem das urnas, prenunciava aquele êxito eleitoral em razão de três promessas de campanha: a proteção ao emprego interno, o combate à imigração e a não intervenção armada em qualquer lugar do planeta. Foi quando Putin proclamou: “Acabou a guerra fria”. Contam que esses dois se gostam. E que trocam presentes. Coisas do tipo: “Me dá a Síria que te darei a Ucrânia”. Sei lá, mas sei que a Rússia não foi atacada no discurso de posse, aquele da última segunda-feira.
Pepe alerta que, se mantiver a aversão ao dólar, os Brics (bloco econômico hoje com cerca da metade da população do mundo e mais de 40% do PIB global, o que já o faz detentor de economia maior do que a do G-7, incluindo os States), devem preparar o lombo para o que virá.
Por falar nisso, também lembro da questão levantada por Dona Hillary, a perdedora, quando das críticas do homem ao governo chinês, lá por volta de 2017: “Como é possível ser duro com nosso principal banqueiro?”. Aludia ela ao fato de ser a China a principal credora dos EUA, coisa de US$ 3 trilhões em títulos do Tesouro americano, a preços de hoje, se somadas as aquisições de Taiwan.
Não sei da expressão facial de Elon, quando o homem tratou, em seu discurso, da revogação do mandato dos veículos elétricos e da salvação da tradicional indústria automobilística americana. Quando ele se dirigiu ao distinto público: “Vocês poderão comprar o carro da sua preferência”. Quando mandou às favas os acordos pela preservação do meio ambiente e declarou a emergência energética nacional. “Vamos perfurar, baby. Temos a maior quantidade de petróleo e gás da Terra e vamos usá-la”, foram seus termos. Mas vi um Elon com um sorriso de orelha a orelha quando o chefe se dispôs a investir grana alta em busca do “destino manifesto nas estrelas”. Pobre Marte.
O homem anunciou a extinção de programas de diversidade e a alteração de políticas federais sobre gêneros. Disse, na ocasião: “Esta semana, também porei fim à política governamental de tentar incorporar socialmente a raça e o gênero em todos os aspectos da vida pública e privada. Será política oficial nos Estados Unidos que existam apenas dois gêneros: masculino e feminino”. O grupo Advocates for Trans Equality não gostou: “O novo governo atacou a vida, a saúde e a dignidade de pessoas trans”, reclamou.
Leitura paralela me traz a informação acerca de Pesquisa Gallup segundo a qual 7,6% dos jovens americanos se declararam LGBT, em 2023. Em 2012, o percentual não passava de 3,5% dos adultos. Isso denotaria a transformação comportamental mais rápida e extrema na história da sociedade estadunidense. Ocorra a ampliação dessa tendência – ao que sabemos de outro gênero, o dos políticos – ele adere. Voto é voto.
O homem tomou carão da bispa Mariaan Edgard Budde quando do culto na Igreja Episcopal de Washington, terça-feira passada, pela posse dele. Ela pediu misericórdia para pessoas LGBT+. “Há crianças gays, lésbicas e
Pepe avisa que o homem não liga para nada além da sua gente. A União Europeia que se exploda. Conta que este presidente americano e seu estado maior tentam impor a economias que ali murcham a destinação de 5% de cada PIB para cobertura dos gastos militares da Otan, hoje na casa dos 2%. Afirma que Washington ainda não percebeu o fim do mundo unipolar.
Esteve nas manchetes: Macron (que já falou em acabar com a dependência do dólar) não deseja uma França “vassala” dos norte-americanos. A imprensa internacional noticiava então, o primeiro assentamento transfronteiriço do yuan (fora do dólar, portanto) por empresas francesas e chinesas para o comércio de gás natural liquefeito. A Eslováquia briga para ter de volta o petróleo russo. E a União Europeia começa a rachar.
O homem, ao que parece, não terá vida fácil nem tempo bom dentro e fora de casa. Tanto quanto não facilitará a vida e a sorte alheias. Ouçamos Miguel Nicolelis, nome inscrito na lista dos 20 maiores cientistas do mundo. “O país que eu conheci em 1989 não existe mais”, diz dos EUA em alentada entrevista ao jornalista Luís Nassif.
Ali radicado há 36 anos, Nicolelis tem mais um livro no prelo. Nele trata dos “múltiplos furacões que avassalam o sonho americano”. E destaca: “É como se o sistema inteiro, seus valores e o que eles chamam de democracia estivessem derretendo por dentro”.
Afinal, este ou o antecessor? Nicolelis tem críticas aos dois, mas acha que o atual traduz um “vírus informacional”, um fenômeno capaz de infectar milhões de mentes e de fazê-las criar um supercérebro coletivo (que chama de brain net) crente em coisas que desafiam a realidade tangível, a realidade concreta.
O que aguardar da gestão pré-anunciada nos palanques e, tal e qual, no discurso do Capitólio? Não há analista da política nacional, ou internacional, com resposta pronta e acabada. O que se sabe é que a bruxa (a MAGA?) está à solta.
A propósito, acabo de rever o slogan “Make America Great Again” num boné de 10 dólares exibido por uma conterrânea do homem, uma senhora de riso irônico. No aro interno, com a espessura de uma fita, ela mostra a inscrição “Designed in USA”. Mas, ao revirar isso, expõe, no reverso, “Made in China”. Li que se trata de vídeo antigo viralizado depois da fala do homem. O portal de notícias The Wall Street Journal e outras fontes, enquanto isso, dão conta de conversas com a diplomacia chinesa para visita do homem a Pequim antes que dele se expirem os primeiros cem dias de governo. Ô mundo doido!