No final de julho de 1995 o Superintendente do jornal O Norte, Marcondes Brito, trouxe a João Pessoa o seu amigo pessoal, o jogador de futebol Nilton Santos, ex-lateral do Botafogo, duas vezes campeão do mundo pelo Brasil (Copas de 1958 e 1962), eleito o maior lateral esquerdo do mundo.
Em 1998 ele lançou no Rio de Janeiro o livro Minha Bola, Minha Vida, sendo prestigiado por todos os jornais do Rio de Janeiro.
Pouco tempo depois, comentei o fato, após uma sessão do Conselho Regional de Medicina. O conselheiro Dalvélio Madruga comentou comigo que bem que ele poderia lançar o livro aqui em João Pessoa. Abracei a ideia, e resolvi concretizá-la.
A ideia era trazer Nilton Santos para passar três aqui e lançar o seu livro. Fiz o cálculo de passagens aéreas e hospedagem no Hotel Tambaú. Estava acima das minhas posses. E resolvi buscar apoio.
Comecei com o meu amigo e botafoguense ad infinitum João José Moreira Neto, que adorou a ideia. Imediatamente ele somou os apoios de seus amigos fiéis Sergio Albuquerque e Herberth Maia, que também aderiram à ideia.
Depois procurei o também empresário da construção José William Montenegro, botafoguense “doente”. Este de imediato prontificou-se a colaborar.
A base já estava pronta, e junto com outros amigos, como o engenheiro Fernando Dias e José Moraes de Souto, o Soutinho, além de Joca Peixoto, que liderava a JPFôgo, garantimos os detalhes, como refeições e deslocamentos.
Meu irmão Silvino, um verdadeiro colecionador de celebridades, ficou encarregado de fazer o contato com Nilton Santos. Este adorou a ideia. E marcou a data da visita.
Em final de outubro do mesmo ano Nilton Santos desembarcava no Aeroporto Castro Pinto, acompanhado de sua fiel companheira, a esposa Dona Maria Célia. Ele era a educação em pessoa. Homem fino, gentil, paciente. Atendia com muita gentileza a todos que a ele se dirigiam, seja quem fosse, garçom ou deputado, não importava o seu time.
Durante a sua visita, Nilton Santos nos “presenteou” com as histórias que contou, especialmente sobre futebol. O “prato principal,” como não podia deixar de ser, foi Garrincha, seu amigo e compadre, companheiro do Botafogo. Contou histórias maravilhosas sobre o Anjo-das-Pernas-Tortas. A seguir algumas delas.
A chegada de Garrincha ao Botafogo foi inesquecível, para Nilton Santos. Ele jogava em time de várzea, mas exatamente Pau Grande, que era a sua terra natal. Alguém o levou para fazer um teste no Botafogo, onde Nilton Santos já era o lateral-esquerdo.
Gentil Cardoso era o técnico. Ele olhou para as pernas tortas de Garrincha, e estava para mandar embora, quando teve pena e resolveu fazer um teste, antes de despachá-lo.
Na primeira bola que ele recebeu, avançou para a linha de fundo quando foi interceptado por Nilton Santos. Então driblou-o e meteu a bola por entre as pernas do lateral, foi à linha de fundo e fez o gol.
Então Nilton Santos disse para o técnico:
“Seu Gentil, contrata o rapaz, que eu não quero ter o azar de enfrentá-lo jogando pelo América!” O América era uma das melhores equipes do Rio de Janeiro, à época. Nascia aí uma grande amizade, inseparável para o resto da vida!
Garrincha, como era público e notório, gostava muito de mulher. Gostava tanto, que só com a sua esposa Dona Nair teve 8 filhas! Mas ele gostava mesmo era “daquilo!” Quando o Botafogo fazia excursões caça-níqueis pelo interior do país, ao chegar numa cidade a primeira coisa que ele fazia era procurar o cabaré.
Numa dessas viagens a uma cidade do interior de Minas Gerais, pouco depois de chegar ao hotel ele pediu a Nilton Santos, como sempre fazia:
“Compadre, tome conta da minha mala que eu vou ali!”
“Garrincha, deixa isso pra lá. Seu Paulo...” Mas Garrincha sumiu.
O técnico do Botafogo era Paulo Amaral. Homem com quase 2 metros de altura, 100 quilos de puro músculo, vivia pegando no pé de Garrincha. Era um homem grosso, mal-humorado, em eterno conflito com a imprensa esportiva. Daí a preocupação de Nilton Santos.
Depois que todo mundo já estava acomodado no hotel foi que ele sentiu a falta de Garrincha:
“Cadê Garrincha? Quem viu aquele safado?! Já sei onde ele está!” E foi pedir informações na recepção do hotel. Nilton Santos, então, levou as malas para o quarto, e desceu para saber onde ficava o cabaré.
Quando lá chegou, numa das esquinas, viu Paulo Amaral lá na esquina mais distante. Nisso sai Garrincha de uma das casas, e vira para o lado oposto, justamente onde o técnico estava.
Nilton Santos correu para avisá-lo, mas não conseguiu alcançar. Só alcançou Garrincha no momento em que este bateu no ombro do técnico. Quando este se virou, fuzilando com os olhos, Garrincha disse:
“E aí, seu Paulo, o senhor também gosta do negócio, num é?!”
Garrincha era um meninão. Jogava bem por prazer. Adorava driblar os adversários. Muitas vezes após ter driblado os zagueiros e o goleiro, voltava e driblava o lateral, de novo. Só então fazia o gol ou lançava para o atacante fazer! Isso deixava os técnicos irritados, enraivecidos.
Certo dia, num treino, o técnico Gentil Cardoso falou para ele:
“Você tem que levar a bola até à linha de fundo e centrar, para Quarentinha fazer o gol! Nada de cair pelo meio. Só dribla alguém se necessário!”
Mas Garrincha se atrasava, driblando os adversários. Então o técnico foi até à linha de fundo, botou uma cadeira marcando o lugar, e disse para Garrincha lançar a bola quando lá chegasse.
A primeira bola que Garrincha recebeu, driblou dois adversários, foi até a linha de fundo, passou a bola por entre as pernas da cadeira, e lançou para o atacante. O técnico ficou louco de raiva!
A cerimônia de lançamento do livro de Nilton Santos foi muito concorrida. Lotou o salão do Hotel Tambaú, inclusive com a presença de torcedores de outros times, como foi o caso do falecido juiz Hitler Cantalice, que compareceu à homenagem a Nilton Santos vestindo sua camisa de vascaíno, porém sem a menor intenção de ofender o homenageado.
Estavam presentes Silvino, o Grande Moreira com seus fiéis amigos Sérgio Albuquerque e Herbeth Maia. Os cunhados de Moreira, Chicão e Lula, este um botafoguense rôxo. Também compareceram o empresário alvinegro Zé William. Joca Peixoto comandando a sua JPFogo, com o companheiro Latirson. Seu Edgar, decano dos botafoguenses de João Pessoa. Os irmãos Nemésio e Nelson Cavalcanti, este com os filhos Nelsinho e Thiago. O pneumologista Beltrão Castelo Branco também compareceu.
Cerimônia de lançamento do livro de Nilton Santos no Hotel Tambaú
Nemésio Cavalcanti
Assim como: Ricão, ainda sem a sua Torcida; Jair; Dinarte; Epitácio; os gêmeos Alfredo e Aníbal; Zé Hugo. Dalvélio Madruga e João Modesto estavam lá, representando o Conselho Regional de Medicina.
Nemésio Cavalcanti
Luciano Cartaxo levou seu pai, Célio Pires, e seu irmão Lucélio, ambos vascaínos roxos! E eu levei a minha esposa Ilma e meus filhos, Henrique - tricolor de coração, e Ricardo e Ana Laura, estes dois alvinegros fanáticos.
O momento foi sublime. A homenagem foi proferida pelo falecido médico e professor de Semiologia, Dr. Renato Campelo. O seu discurso singelo levou às lágrimas o homenageado e muitos torcedores, veteranos e noviços.
O livro foi um sucesso, vendendo todos os exemplares que ele trouxe. A fila de autógrafos saiu para fora do salão onde ocorreu a homenagem.
A passagem de Nilton Santos pela nossa cidade estava programada para apenas três dias. Porém ele foi tão solicitado, ficou tão sensibilizado, que esticou para oito dias!
Recebeu convites para dar entrevistas de todas as emissoras locais, rádio e televisão, participando de diversas resenhas esportivas, com radialistas como Ivan Bezerra; Ernani Norat, célebre por sua torcida pelo Glorioso; Ivan Tomás, este também louco pelo Botafogo; Eudes Toscano; Joao de Souza; e o nosso amigo União.
Foi convidado para dar o pontapé inicial do jogo Botafogo-PB X Auto Esporte. Recebeu convites para jantar, para almoçar, ou para simplesmente conversar, e não recusou nenhum. Ficou tão emocionado que passei a me preocupar com o seu coração! Porém não aconteceu nada, felizmente.
O Hotel Tambaú cobrou somente as três diárias inicialmente contratadas. Isso, graças ao seu gerente, o sampaulino Linton Barros, que também se deixou render pela simpatia do nosso convidado!
Nilton Santos foi-se embora de volta ao Rio de Janeiro, deixando um rastro de alegria, simpatia, cordialidade, como se fosse um bom perfume!
Hoje está no paraíso junto com Moreira, Renato Campelo, os filhos de Nelson: Nelson Filho e Thiago, na companhia de meu pai, Chico Espínola, assistindo os jogos do Botafogo no telão lá do céu.
E todos eles zelando pelo nosso time, ajudando a resgatar a verdadeira glória do nosso Glorioso Botafogo de Futebol e Regatas!
Agradecimentos especiais:
Marcondes Brito
Nemesio Cavalcanti
Silvino Espínola
João Peixoto
Marcondes Brito
Nemesio Cavalcanti
Silvino Espínola
João Peixoto