Somos de 1933, todos do mesmo ano: Juarez Farias, Evaldo Gonçalves de Queiroz e o autor duma crônica a cada dia mais solitária. Aind...

O Grêmio 21 de Abril

evaldo goncalves gremio 21 abril campina grande
Somos de 1933, todos do mesmo ano: Juarez Farias, Evaldo Gonçalves de Queiroz e o autor duma crônica a cada dia mais solitária.

Ainda somos. Não houve jura nem promessa, mas “somos” - o plural do verbo assim mesmo no presente – só partindo o fio de continuidade quando os três deixarem de existir.

Creio que duas passagens bem assentadas em vidas de trilhas e posições distintas nos levem a esse socorro da memória.

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MS'Art
A primeira, atraídos pelo grêmio literário 21 de Abril logo que concluímos o admissão ao ginásio, em Campina Grande; a segunda, pela Academia Paraibana de Letras, grêmio final depois de vencidas as mais diversas estações, nem todas descortinadas em nossos horizontes juvenis. No meu, particularmente impersistente e dispersivo. Nunca terminei um curso, salvo o primário, nunca insisti em aprender uma língua de outro povo e de outra literatura.

Quando passei à redação do jornal, sentindo alguma firmeza, Evaldo Gonçalves, titulado em Direito e versado em administração e economia, já era notícia, ensinava e se viu secretário de Educação em Campina Grande. Elege-se vereador e, pouco tempo depois, irrompe secretário de administração no governo Ernani Sátyro. Daí a deputado, presidente da Assembleia, constituinte de 1988 mediu os passos com Juarez Farias, este, braço direito de Celso Furtado na administração da Sudene, secretário de planejamento de Agripino, vice-governador, governador e presidente do Tribunal de Contas do Estado.

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Evaldo Gonçalves UFPE
Desencontrado nesse rumo de vida pública, sem deixar de manter os dois na pauta do noticiário, de vez em quando nos surpreendíamos cruzando e emulando na sala apertada do grêmio inicial: Evaldo Gonçalves na trilha de Emil Ludwig com aquele Napoleon já ensebado de tanto sair das mãos de Antônio Mangabeira para a dos seus pupilos; Juarez Farias a arejar o discurso do planejamento tecnológico com o deleite de leituras como a dos “Cem anos de Solidão”.

— Já leu o colombiano, nego velho? – perguntou-me, numa recaída instantânea ao grêmio, descendo altivo a escada do avião ao lado do demiurgo do desenvolvimento do Nordeste.

Em idade madura ou já envelhecendo, desde que nos víssemos, fosse qual fosse a circunstância, lá vinha remanescente a atmosfera do grêmio 21 de Abril, a salinha apertada atrás do Pio XI recendendo as laranjeiras e cafezais da poesia que D. Zilda recitava conosco ou que se ia buscar na crestomatia e na tribuna política da Praça da Bandeira.

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Praça da Bandeira (Campina Grande)IHCG
Nunca precisei repassar algum caderno que denotasse ou recordasse as nossas tendências literárias. Elas nunca esmaeceram. Mas ao ver agora o nome de Evaldo num aviso de grafia volátil como são as notas fúnebres de hoje, o chão do grêmio fugiu dos meus pés. Quando Juarez se despediu restávamos dois, sentados na mesma carteira, ainda que na Academia ou no escritório de aposentado do doutor Evaldo. Agora...

Abro o Dicionário Histórico-biográfico Brasileiro ainda editado em livro pela Fundação Getúlio Vargas e lá, amigos Gleryston e Luiz Mota, revejo, no mesmo mármore gráfico dos grandes personagens brasileiros, o orador do 21 de Abril. Como foi longe o menino de São João do Cariri!

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