"Os livros têm um poder extraordinário. Mas tenha cuidado. É o livro que detém o poder, não você" (Sosuke Natsukawa ▪️ O...

O gato que amava livros

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"Os livros têm um poder extraordinário. Mas tenha cuidado. É o livro que detém o poder, não você"
(Sosuke Natsukawa ▪️ O gato que amava livros)

O gato está associado à literatura, ao meditar, ao filosofar, e vários romancistas, poetas, pintores, artistas de um modo geral são admiradores desses felinos, eles aparecem em fotos com seus donos, em telas de pintores famosos. É bem conhecido o quadro de Matisse – O Gato com peixes vermelhos - e Marc Chagall pintou a belíssima tela Paris através da janela em que um gato, com cara de um ser humano, está situado em primeiro plano com o olhar voltado para a Torre Eiffel. Quem não se recorda das pinturas de gatos do brasileiro Aldemir Martins? São várias telas em cores bem tropicais. É frequente também a presença de gatos em romances e poemas.

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Marc Chagall ▪️ Paris através da janela Guggenheim (N. York)
O gato que amava livros (Ed. Planeta, 2022), de Sosuke Natsukawa, traduzido por Fernanda Dias, foi fenômeno editorial no Japão. Com este livro, o autor conquistou o aclamado prêmio Shogakukan de ficção. Natsukawa é médico. Seu livro de estreia, o romance Kamisama no Karute, que recebeu a tradução em português de O histórico médico de Deus, conquistou vários prêmios e vendeu mais de um milhão de exemplares, foi também adaptado para o cinema.

No romance fantástico de Sosuke Natsukawa, um gato malhado de pelo laranja e olhos verde-jade chamado Tigre protagoniza a história com o adolescente Rintaro. O que há de comum entre os dois? São apaixonados por livros. A dupla enfrenta situações difíceis, procuram resgatar livros aprisionados, maltratados e abandonados.

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Sosuke Natsukawa @asiaon
A história começa com a morte do avô de Rintaro, dono de uma livraria de livros usados (sebo). Há um detalhe que merece ser ressaltado – os livros eram muito bem conservados e havia coleções raras. Avô e neto moravam em um bairro afastado do centro e a fama da boa livraria atraía muitos bibliófilos. O avô repetia sempre este mantra: “Os livros têm um poder extraordinário”.

O menino ficou morando na casa do avô após a separação dos pais, logo depois a mãe morreu e o avô substituiu os pais ausentes, incutindo no neto o amor aos livros. A morte repentina do avô deixou o menino sem norte, até que aparece o gato Tigre e a história toma outro rumo.

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Como nas fábulas ou nas histórias fantásticas, Tigre era um gato falante e muito bem informado, acompanhava Kintaro em suas andanças pelos corredores da livraria, dava opiniões e trocavam ideias, discutiam sobre música, literatura. As conversas com Tigre eram semelhantes àquelas que tinha com o avô, filosóficas e cheias de ensinamentos.

Um das lições do avô, sempre lembrada por Kintaro, era sobre o ato de ler. Ensinou que ler não era só prazer e entretenimento, precisava ler as mesmas frases várias vezes, a leitura exigia um ritmo árduo e lento. O resultado da leitura meditativa permitia encontrar uma bela vista ao final de uma longa escalada, daí a comparação constante que fazia: “Ler um livro é muito parecido com escalar uma montanha”.

Interessante também é a comparação entre a música e o livro. São parecidos, trazem sabedoria, coragem e cura. Foram criados pelo homem como ferramentas que oferecem conforto e inspiração. A música pode chegar até nós de diferentes maneiras: no rádio do carro enquanto dirige, fones de ouvido quando está correndo, a música pode acompanhar-nos em qualquer lugar e hora. Você pode trabalhar em uma pesquisa enquanto ouve a
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Nona Sinfonia de Beethoven, contudo não consegue escrever um ensaio e ler Fausto ao mesmo tempo. Em vários momentos do livro, há referências à Nona Sinfonia de Beethoven . A música perpassa por várias páginas do livro.

Dividido em quatro labirintos ou quatro capítulos, uma referência clássica ao mito grego de Teseu e Minotauro, o livro pode ainda ser interpretado como uma jornada de autodescoberta. Há passagens inusitadas no decorrer da narrativa, como o encontro de Kintaro com o velho destruidor de livros.

A leitura de O gato que amava livros me conduziu à releitura de A memória vegetal e outros escritos sobre bibliofilia, de Umberto Eco e sua declaração de amor ao livro: “Como é belo um livro, que foi pensado para ser tomado nas mãos, até na cama, até num barco, até onde não existam tomadas elétricas, até onde e quando qualquer bateria se descarregou. Suporta marcadores e cantos dobrados e pode ser derrubado no chão ou abandonado sobre o peito ou joelhos quando caímos de sono”.

Este livro é uma história sobre o cuidar de si e dos outros, e sobre o grande poder dos livros na vida das pessoas.

(Este texto vai para Germano Romero, e Cláudio Limeira, amantes de livros e de gatos).


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  1. Raniery Abrantes7/1/25 20:24

    Lindeza, professora Neide Medeiros 🤩!

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  2. Anônimo8/1/25 08:11

    A delicadeza do tema e do texto, marcas personalíssimas da professora Neide, grande amiga dos livros. Parabéns. Francisco Gil Messias.

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