Em qualquer tentativa de retroagir, escamotear, ou fugir do percurso de nossas vidas, pagamos um preço alto, porque a vida é um caminho somente de ida. Freud nos disse que a fuga é um instrumento mais seguro para se cair prisioneiro do que se deseja evitar. Ele nos ensina que não há para onde fugir e que o refúgio no imaginário infantiliza o sujeito.
Abrigar-se totalmente na fantasia nos entorpece. Recalcar tudo que é indigesto coloca o sujeito em pulsão por morte, porque a fuga é muito mais dramática do que o enfrentamento da realidade. Não há antídoto contra a vida e estar no mundo é para se molhar.
Segundo Jacques Lacan, o desejo permanente por algo sustenta fantasias impossíveis. É um conceito central na psicanálise de Lacan e é considerado um elemento da falta e da incompletude.
Para Lacan, o desejo deve ter um objeto eternamente ausente, para que não se desista e se continue a existir. O desejo e a fantasia são uma busca eterna pelo que está no outro, bem como seu discurso. O psicanalista considera impossível interpretar todas as fantasias, pois, elas estão situadas na falta de algo. Ele utiliza a palavra alemã Begierde para designar a cobiça, o anseio, o desejo veemente.
Um temperamento meio nervoso à busca do novo e adaptado às modificações que se apresentam frequentemente, é o que esperamos que todos adotemos para seguirmos com harmonia e vivos no tempo de agora, que sempre devemos chamar esse nosso momento, como o velho chavão "no meu tempo".
Saiba rir da Caetana, aquela kenga que nos espia para escolher, a dedo, quando nos levará consigo em seus braços afoitos por tomar nossa alma, e depois irá vagar sem destino, preconceito, ira ou sequer entendimento por onde anda.
Caetana é o nome dado à morte, lá no sertão. Fazer piada com ela é de uma coragem muito maior que a do tirano, que tem horror ao riso, que deseja tanto a morte do outro para sua própria proteção. Essa covarde atitude banaliza sua decisão em disparar o tiro antes do olhar final.
A vida é uma lista exacerbada de incômodos latentes e frequentes, como esse vazio que não tem jeito. Por mais que procuremos amor, felicidade, dinheiro, tecnologia, remédio, nada nos preenche. Freud nos mostrou que, mesmo com tudo isso (que de repente pode se acabar), não precisamos morrer antecipadamente pelas queixas. Desapegue-se do pessimismo.