No início do século XVI, o maior poeta italiano, Ludovico Ariosto, imaginou que somente na Lua se encontrava tudo o que se perdia na...

Dimensões do Diálogo

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No início do século XVI, o maior poeta italiano, Ludovico Ariosto, imaginou que somente na Lua se encontrava tudo o que se perdia na Terra, como as lágrimas e os suspiros dos amantes, o tempo desperdiçado no jogo, os projetos inúteis e os anseios insatisfeitos. Ele pensava assim devido à impossibilidade da viagem à lua naquela época, e a associava aos atos
Ludovico Ariosto ▪ 1474—1533
distantes de suas mãos, para explicar a dificuldade na solução daquele cotidiano difícil.

De certa forma, não acho ruim a ideia do poeta para aquele século. Porém, hoje, se faz necessário lutar pelo impossível. Constituendum est quid velimus et in eo perseverandum. "É preciso definir o que queremos e perseverar nisso", e não jogar a responsabilidade ao infinito para esvaziar nossas dores e nos livrar de uma busca única.

Até mesmo um aspecto de sua vida, que parece mais ingênuo, pode preservar uma carga poética e uma riqueza de imaginação distintos, que tornariam o encantamento dessa época ainda maior no futuro. Por isso, todos os momentos têm seu romantismo e valor humanos, merecedores de uma foto no álbum neural, onde está desenhada uma árvore genealógica dos acontecimentos de nossas vidas.

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G. Dughet, S.XVIII
Esse organismo vivo, que é o nosso passado, surge sempre que desejamos lembrar saudosamente de atos virtuosos que nos fizeram mais gente, como sempre se espera em sociedades saudáveis.

Os pensamentos fictícios futuristas não podem desalinhar nossos planos no presente, porque a vida emerge nesse instante, e o ar pode contaminar ou servir de pulsão para seus passos logo a frente.

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A. Martinet, S.XIX
Como o artista checo Jan Svankmajer mostrou em seu curta-metragem "Dimensões do Diálogo", que em tempos difíceis de trocas de ideias, duas cabeças se consomem mutuamente e travam uma relação pessoal, interpretadas com hierarquia, etnia, religião etc. Ao longo do tempo as diferenças vão sumindo e todos vão ficando mais humanos. Nos servindo como crítica ao extermínio de culturas e exaltação da construção de uma identidade.


Por meio do Diálogo Objetivo, do Diálogo Apaixonado e do Diálogo Exaustivo, o artista mostra cabeças semelhantes a símbolos, reduzindo-se gradualmente as cópias insípidas. Mostra um homem e uma mulher de barro que se dissolvem sexualmente. Eles brigam e se reduzem a uma polpa frenética e fervente. Tornam-se duas cabeças de barro idosas que extrudam vários objetos em suas línguas, em suas vidas, suas entranhas, até se consumirem.

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