A manhã abraça com um sorriso e uma chuva de cajus. Nas praças, nos quintais, em terrenos baldios, aquarela em amarelo ou vermelho e mesmo verde. Um balanço natural ao toque do vento e ao sabor tropical. A chuva do verão anuncia o fruto que deixa um gosto travoso. Do suco, do doce, da boca na carnosidade vegetal ao inconfundível e resistente caju.
O cajueiro trará seus frutos como o amor que se renova da estação, Chegará como um trem, com “as chuvas de cajus”, sinônimo de verão e valencianos sons e letras do pernambuco Alceu Valença. Será fruto musical, delicioso aparecer. Em grandes baldes nas feiras livres, em pequenos montes nas margens das estradas, ele estará colorindo as bancas de madeira e os terreiros das casas.
Será abrigo contra o sol, assinatura da identidade do Nordeste. O caldo a escorrer pela boca que suga seu conteúdo, que morder com gosto, que aporta nas praias, que margeiam os rios, que escorre pelas matas. E o respingo da chuva do caju, rápida, forte e passageira.
E ainda tem a castanha amontoada, assada numa lata velha e vazia com furos na parte inferior. O fogo faz tostar o fruto até o ponto ideal. As chamas adentro o depósito improvisado. Por fim, a lata é virada no terreiro da casa, a areia é usada para apagar o fogo. Uma a uma as castanhas são retiradas, têm as casas quebradas com um pedaço de pau ou pedra e após descascadas são juntadas. Delícia de iguaria que se espalha no litoral nordestino.
Caju de cheiro suave, que alimenta os pássaros e outros bichos. Cajueiros que sombreiam terras, típico fruto brasileiro, que tem tempo e temporada. Floram os galhos, brotam os maturis, crescem e exibem uma pele macia nos galhos da árvore, muitas vezes à altura da mão, fruto que pede para ser colhido.
Mauro Halpern / @agro20 / Meu Olhar
Cajueiros também brotam feito arte. No movimento das mãos que dão vida às telas coloridas e cheias de alegria. Os galhos se espalham pelo espaço antes vazio em bailar suave. O ateliê sorri com os contornos feitos pelas mãos que seguem a mente, circula com o espírito e escuta o coração. É a arte naif de Clóvis Júnior dando mais vida à vida dos cajus.
Cajus que dançam ao lado de anjos, bandeirolas, cirandas, mulheres de rostos largos, que enfeitam o boi-bumbar, resgatam o dançar do povo, que dão mais sabor à própria arte. Que pintam saudade dos cajueiros do Bessa, sufocados pela cidade, que resistem em diminutos canteiros, que insistem em oferecer seus frutos, adoçar a todos. O resistente e saboroso caju.