A propósito da solenidade do dia 6, da Epifania do Senhor ou “Dia de Reis”, uma das festas tradicionais mais singelas celebradas em todo o mundo cristão, há curiosamente uma lenda na Síria que perdura como tradição entre as crianças, para as quais não existe a figura do Pai Natal nem dos Reis Magos (derivado da palavra grega magoi, que significa homens sábios ou conhecedores) a distribuir presentes, como sucede nos países ocidentais. Em vez disso, as crianças recebem prendas de um elemento muito original:
o camelo mais pequeno que integrava a caravana dos três reis magos, e cujos nomes ter-lhes-ão sido atribuídos no século IX pelo historiador Agnello, na sua obra Pontificalis Ecclesiae Ravennatis:
▪ Melichior ou Belchior, “rei da luz”, oriundo da Núbia, e que transportava o incenso;
▪ Gaspar, também Jaspar, Jaspas, Gathaspa, “o branco”, de Társis e da ilha Egriseula, que levava a mirra); e
▪ Balthasar, também Balthassar e Bithisarea, “senhor dos tesouros”, de Godolias e de Sabaa’, que carregava o ouro.
▪ Gaspar, também Jaspar, Jaspas, Gathaspa, “o branco”, de Társis e da ilha Egriseula, que levava a mirra); e
▪ Balthasar, também Balthassar e Bithisarea, “senhor dos tesouros”, de Godolias e de Sabaa’, que carregava o ouro.
O lendário folclórico sírio narra que os Magos viajaram numa caravana com muitos camelos a caminho de Bethlehem (Belém) para assistirem ao nascimento de Jesus, passando por rotas e por momentos extremamente difíceis. O mais pequeno dos camelos da cáfila estaria exausto pela longa viagem, mas ter-se-á recusado a desistir, pois o seu desejo em ver o Menino Jesus nascer era muito grande. Em reconhecimento de tamanha determinação por parte daquela criatura amorosa, Jesus tê-la-á abençoado com a imortalidade para cuidar e levar presentes a todos. Em retribuição por ter ganho esta bênção, todos os anos, é este, o mais pequeno dos camelos daquela caravana, que visita as crianças e distribui os presentes àquelas que foram bem comportadas durante o ano.
Na Síria, de acordo com a respetiva confissão (ortodoxos gregos, ortodoxos siríacos, maronitas, católicos sírios, católicos romanos e católicos gregos), há dois dias em que o Natal é celebrado: o primeiro é o dia 25 de dezembro; e o segundo é a 6 de janeiro. Na véspera de Natal, as crianças deixam os seus sapatos à porta de suas casas, juntamente com um pouco de feno e água para, metaforicamente, alimentar o camelo. Na manhã seguinte, procuram ansiosamente os seus presentes nos sapatos. Uma alegoria semelhante à tradição das crianças no ocidente com as suas “meias” penduradas nas lareiras ou na árvore de Natal.
Outra tradição ainda celebrada é aquela em que a criança mais nova da família recita a história do Evangelho da Natividade em voz alta, após o que é acendida uma fogueira no pátio de casa, onde a família se reúne, com velas nas mãos. São recitados salmos enquanto a fogueira arde lentamente, altura em que os membros da família saltam sobre as cinzas e formulam os seus desejos.
É muito comum encontrarem-se no Médio Oriente representações do mais pequeno dos camelos em diferentes tamanhos e em todas as formas, bordados em tecidos, desenhados, esculpidos, reproduzidos em porta-chaves ou gravuras, simbolizando resistência, força e persistência, valores morais que são ensinados às crianças cristãs como exemplo a seguir.