É impossível existir sem beleza." Essa frase do filósofo, escritor e jornalista russo Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski (1821-188...

Arte que salvará o mundo em Dostoiévski

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É impossível existir sem beleza." Essa frase do filósofo, escritor e jornalista russo Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski (1821-1881) expõe a sua visão estética sobre a existência humana. Segundo ele, "a beleza tem uma dimensão ética e espiritual". Nesta tese, o pensador defende que existe algo no agir humano que transcende a materialidade e a racionalidade. Por meio de seus textos, pode-se chamar de “belo” o objeto dessa experiência transcendental, sendo uma dimensão estética acessível a todos por uma necessidade inata à própria constituição existencial - seja por meio da cultura, dos valores morais ou das virtudes individuais.

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Fiodor DostoievskiCC0
A beleza encontrada nas ações humanas, a partir da ética proposta por Dostoiévski, prioriza acolher com a arte da compaixão o sofrimento do outro. Nesse agir, constrói-se a irmandade universal que salvará a humanidade. A partir disso, conclui-se que o ato de amar é uma pulsão que gera o bem tanto para si quanto para o próximo, embora, para vivê-lo, seja necessário conviver com resiliência contra os interesses narcísicos da maioria e as vaidosas trocas sociais. O pensador afirma que a beleza da solidariedade é a única condição suficiente para que o ser humano possa amar.

Os livros de Dostoiévski expõem as regiões mais brutais da natureza humana. Eles apresentam a constituição da maldade das pessoas. Embora tenha exposto o inacessível, o insuportável e o indizível do inconsciente humano, ele também poetizou o amor ao humanizar a dor compartilhada. Em suas obras, é possível perceber um pouco de solidariedade nos personagens cruéis, além daqueles que sucumbiram à loucura do sofrimento. Para Dostoiévski, o oposto da beleza é o individualismo — é o ódio contra o outro — que busca roubar-lhe a dignidade. As suas obras exploram os transtornos psíquicos de seus personagens, que estão imersos em tragédias, entre elas, em situações sociais,
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políticas, religiosas, filosóficas e espirituais. Esses temas estão em seus livros Memórias do Subsolo (1864), Crime e Castigo (1866), O Idiota (1869), Os Demônios (1872) e Os Irmãos Karamazov (1881).

Em O Idiota, Dostoiévski desenvolve a tese de que “a beleza da compaixão salvará o mundo”. Ele se refere ao ato de fazer o bem a si mesmo e ao outro. A obra narra a história do príncipe Míchkin, que busca um significado na vida e cuja índole é dominada pelo amor, perdão e bondade. Essas virtudes o levam a perdoar excessivamente, a ponto de se deixar maltratar pelos outros. O protagonista gravita em torno da pureza, do sofrimento humano e da alienação social, tornando-se uma meditação sobre o que significa ser "bom" em um mundo corrompido.

Ao longo da obra, Míchkin se envolve com duas mulheres: Nastasya Filippovna, uma mulher bela, mas traumatizada, e Aglaya Epanchin, uma jovem de boa família, mas também imersa em complexidades emocionais. Ele se vê inserido em conflitos sociais, familiares e pessoais. A trama se desenrola à medida que o protagonista tenta lidar com essas relações complexas, nas quais busca resolver o drama das pessoas
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Yulia Borisova /
Nastasya Filippovna (O Idiota)
Ivan Pyryev/Mosfilm
de sua convivência, apesar de agir com ingenuidade e extrema bondade, que é vista como uma fraqueza e loucura. Sua incorruptibilidade e solidariedade são desprezadas e suas ações geram reações ambíguas nas pessoas. Sua atitude a perdoar os outros, a demonstrar respeito a todos e a agir sem interesse pessoal faz com que seja explorado e maltratado de forma brutal. A sua natureza sincera e simples não é capaz de perceber o mal nas pessoas, o que o torna incapaz de se defender das armadilhas em que é lançado, nem de compreender a corrupção do poder, nem as falsidades institucionalizadas na estrutura da sociedade.

O Idiota de Dostoiévski apresenta um conflito entre o acolher e o desprezar, a partilha e o egoísmo, ser bom e ser cruel, a honestidade e a corrupção. O romance oferece uma reflexão para os dias atuais sobre a busca por solidariedade entre todos para eliminar o ódio e a loucura na sociedade, além de evitar uma possível guerra mundial que se aproxima. O jovem príncipe Míchkin personifica que “a arte da compaixão salvará a humanidade” contra toda a maldade humana.


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