“Eu sou Ishtar, deusa do entardecer. Eu sou Ishtar, deusa das manhãs! Sou Ishtar, que abre e fecha as portas dos céus, o brilho dos céus reflete a minha glória; eu apaziguo os céus, acalmo a terra, para minha glória; sou a que brilha nos céus resplandecentes, cujo nome é brilhante no mundo habitado, para minha glória. Para minha glória, sou proclamada Rainha dos céus tanto acima como abaixo. Para minha glória subjugo as montanhas, eu sou o cume das montanhas.”
Inscrição encontrada junto às ruínas do Portão de Ishtar, construção mandada erigir pelo Rei da Babilónia Nabucodonosor II, por volta de 575 a.C., sendo a oitava e a principal entrada da cidade da Babilónia (na área de Hillah, na província de Babil, atual Iraque).
São muitos os acervos históricos e as estórias associadas a Cleópatra, a última Rainha do Egito, mas pouco se menciona a sua irmã, Arsínoe IV. Esta figura histórica, nascida por volta de 63 A.C. e falecida em 41 A.C., terá sido a filha mais nova de
Ptolomeu XII, popularmente conhecido como “Auletes”, que significa “tocador de flauta”.
Embora compartilhasse laços de sangue com Cleópatra, a vida de Arsínoe foi marcada por conflitos e tragédias que a distanciaram da sua famosa irmã. As famílias Ptolomaicas, conhecidas pela sua complexa rede de intrigas e lutas pelo poder, foram o cenário do drama de Arsínoe. Quando Ptolomeu XII morreu em 51 a.C., deixou os seus filhos mais velhos, Ptolomeu e Cleópatra, como governantes conjuntos do Egito. No entanto, Ptolomeu acabaria por derrubar Cleópatra, forçando-a a fugir de Alexandria. Neste contexto de desordem e ambição, Arsínoe emergiu como uma figura-chave na luta pelo poder. Tanto Cleópatra quanto Arsínoe insistiam em serem a encarnação da deusa Ishtar, deusa do sexo e da guerra, que morre e ressuscita, para ganhar a lealdade dos egípcios.
Havia duas posições entre os círculos de poder no Egito. Uma postura foi de plena cooperação com Roma, com ou através de promessas de manter o seu poder (lado de Cleópatra). A outra era resistir ao invasor e organizar a população em geral para lutar contra Roma (lado de Arsínoe).
E a chegada de Júlio César a Alexandria, em 48 a.C., marcaria um ponto de viragem na vida de Arsínoe. Após a execução de Pompeu, César aliou-se a Cleópatra. Em resposta, Arsínoe escapou da capital com o seu mentor, o eunuco Ganimedes, e assumiu o comando do exército egípcio, proclamando-se Rainha como Arsínoe IV. Sob a sua liderança, os egípcios tiveram algum sucesso contra as investidas dos romanos, mas esta seria posteriormente traída e entregue a César.
Em 47 a.C., o destino de Arsínoe tomaria um rumo dramático quando, durante a Batalha do Nilo, foi capturada por Júlio César e levada para Roma como prisioneira de guerra e obrigada a desfilar no cortejo triunfal de César, agrilhoada e apresentada como um troféu. Este ato de humilhação não apenas a afetou profundamente, como também enfureceu muitos romanos, que se compadeceram da princesa, sendo um dos principais motivos que terá levado ao assassinato de César.
Bustos de Cleópatra (Altes Museum, Berlim) e Marco Antônio (Museu do Vaticano). ▪ Wikimedia
Arsínoe viria a ser exilada no Templo de Ártemis (uma das Sete Maravilhas do Mundo antigo), em Éfeso, a cidade grega mais importante na Ásia Menor Jónica, localizada na região turca do mar Egeu, na Anatólia romana, perto da moderna vila de Selƈuk, no oeste da Turquia. Na época romana, estava situada nas encostas ao norte das colinas Coressus e Pion e ao sul do rio Cayster (Küçükmenderes). Lá, viveu por alguns anos, sempre diligente dos movimentos de sua irmã Cleópatra, que a via como uma ameaça ao seu poder.Em 41 a.C., temendo um possível regresso da irmã, que estaria a obter aliados para retomar o seu trono, Cleópatra encomendou ao seu novo amante, Marco António, a morte de Arsínoe, que viria a ser executada nos degraus do templo. O seu assassinato terá sido visto como um escândalo, violando o sagrado direito de asilo e gerando uma profunda comoção em Roma. O corpo de Arsínoe foi sepultado em Éfeso, numa tumba de forma octogonal em referência ao célebre Farol de Alexandria.